"Cinema não é indústria, é arte", diz Domingos Oliveira, homenageado na Mostra de SP
Prestes a ser celebrado pela Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o carioca Domingos Oliveira é daqueles que leva à risca a expressão "sétima arte", usada como sinônimo para o ato de se fazer filmes. "Cinema não é indústria, é arte", diz o diretor de 76 anos, em entrevista ao UOL, criticando o atual cenário do mercado brasileiro, que privilegia grandes produções -- especialmente as do exterior.
O cineasta vai receber o prêmio Leon Cakoff -- antes conhecido como prêmio Humanidade, renomeado após a morte do criador do festival -- nesta quinta-feira (25) às 21h20 no CineSesc. A homenagem será prestada entre as sessões do filme "Primeiro Dia de Um Ano Qualquer" e "Paixão e Acaso", ambos exibidos em sequência no local.
Defensor de um cinema com função social, Oliveira reconhece o valor das comédias populares, em alta no país como no caso de "Até Que a Sorte Nos Separe". "Não sou contra esse tipo de filme, ele deve ser feito", afirma Oliveira, para em seguida revelar aquilo que o incomoda. "Só que o financiamento do governo não deveria ir somente para esse tipo de produção."
O tom conciliador para falar sobre filmes tão distintos dos seus fica mais claro quando Oliveira explica uma recente polêmica com o jornal "Folha de S. Paulo". O diretor divulgou um pedido de desculpas ao humorista Bruno Mazzeo, após o periódico publicar um xingamento de Oliveira sobre o filme "Cilada". "Já conversei com o Bruno depois disso e está tudo bem. Ele aceitou minhas considerações", comenta o cineasta, que cancelou a assinatura do jornal após o incidente.
Oliveira também critica a obsessão por lucro que norteia o cinema mundial. "É capaz de alguém chegar e dizer que 'Cidadão Kane' seria um bom filme se lançado hoje, mas incapaz de fazer dinheiro", ironiza.
É capaz de alguém chegar e dizer que 'Cidadão Kane' seria um bom filme se lançado hoje, mas difícil de ser tornar rentável
Filmes na Mostra
Gravado em apenas dez dias em uma casa de campo da atriz Maitê Proença, o filme "Primeiro Dia de um Ano Qualquer" é, para Oliveira, o retorno aos longas-metragens após quatro anos sem lançar nada. Ao exibir a comédia no Festival do Rio em 2012, o diretor ficou feliz com os comentários. "Teve mais repercussão do que eu esperava", diz o cineasta, que não planejava filmar neste ano.
Para retomar a bronca com o financiamento público, Oliveira lembra que a produção foi toda custeada por iniciativa privada. "Não tenho mais tempo para ficar esperando", explica.
Na trama, um ano novo se inicia em uma casa nos arredores do Rio de Janeiro, com personagens diversos refletindo sobre o que os espera para os próximos 365 dias. "Algo sempre espera você, é o momento em que a pessoa percebe isso, logo no começo do ano", brincou o cineasta sobre a ansiedade despertada nas pessoas pela chegada da data.
A mesma inquietude que os homens podem ter também é abordada em "Paixão e Acaso", filme inédito no país, que traz uma psicanalista que não vê problemas em se relacionar com dois homens ao mesmo tempo -- um pai e um filho. "Pode parecer errado, mas para ela [a personagem] é maravilhoso", comenta Oliveira, que filosofa sobre aquilo que o faz ter preferência por filmes que "contam histórias". "O comportamento humano é comovente, imprevisível."
O festival também vai exibir o longa "É Simonal", lançado por Domingos Oliveira em 1970.
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