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Em "Après Mai", Olivier Assayas desromantiza o jovem ao registrar ideologias e desilusões

"Après Mai" (França), de Olivier Assayas - Divulgação
"Après Mai" (França), de Olivier Assayas Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

29/10/2012 05h00

Olivier Assayas é um cineasta consciente de seu papel social, mas parece muito mais interessado em investigar as ambições e motivações de seus personagens. Em “Clean”, ele acompanha o dilema de uma mãe, que se vê obrigada a escolher entre o filho e o sonho de ser uma cantora. O sonho, este parece ser um objeto de estudo para o francês. “Après Mai”, filme que integra a seleção da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, também é um filme sobre sonhos e sobre como costurá-los à vida real.

No novo longa, prêmio de roteiro no Festival de Veneza, os protagonistas são estudantes parisienses envolvidos em manifestações políticas e protestos radicais. O diretor traça um retrato da geração pós-maio de 1968, que procura manter sua herança revolucionária e enquanto tenta encaixar esses ideais em sua vida cotidiana. O maior embate de “Après Mai” não é entre polícia e estudantes, mas entre ideia e práxis.

OLIVIER ASSAYAS FALA SOBRE "APRÈS MAI" EM VENEZA

Assayas é bastante generoso em retratar a paixão dos personagens pelo que acreditam, seja no campo político, na liberdade amorosa ou na produção artítisca (“uma arte revolucionária não tem que ter uma sintaxe revolucionária?”). O desejo de transformação de cada um deles é genuíno - e o diretor entende que ele faz parte do movimento natural do homem. Negar o que veio antes é inerente ao jovem. Mas o cineasta não tem pudores em mostrar a crise de suas crenças, sem desmerecê-las.

A diferença entre o filme de Assayas e muitos outros que trabalham nesse campo é que ele não pende para a visão romântica que Bernardo Bertolucci impõe a “Os Sonhadores”, por exemplo, nem se interessa em cair no lugar comum de se criar um panfleto ideológico. O romantismo está naquele jovens, mas não na maneira com que o diretor os registra. O cineasta assume um papel de observador que não se envolve com o objeto do desejo de seus personagens, mas que, ao contrário, se mostra encantado em registrar este desejo. Assayas filma tanto os sonhos quanto as desilusões destes jovens com o mesmo amor pelo ser humano.


Serviço:

"Après Mai" (2012, França)

Quando: segunda-feira (29), às 21h
Onde: Cinemark Santa Cruz (sala 2) -  Rua Domingos de Morais, 2.564 - 3º Piso - Vila Mariana (sessão 1029)