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"Não acho que sou melhor diretor do que ator", diz Ben Affleck

Ben Affleck durante as filmagens de "Argo", filme escrito e dirigido por ele - PictureLux/Brainpix
Ben Affleck durante as filmagens de "Argo", filme escrito e dirigido por ele Imagem: PictureLux/Brainpix

Mariane Morisawa

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

09/11/2012 05h00

Com seu terceiro longa-metragem atrás das câmeras, Ben Affleck prova seu talento e sua recuperação de um período difícil, quando foi motivo de piada por causa de seu relacionamento com Jennifer Lopez e da má escolha em projetos como “Contato de Risco” e “Sobrevivendo ao Natal”. Mas, em 2007, ele começou uma virada como poucas em Hollywood, atrás das câmeras. Dirigiu “Medo da Verdade” e, depois, “Atração Perigosa” (2010), que rendeu US$ 154 milhões no mundo inteiro. O sucesso permitiu que tivesse acesso a todo tipo de projeto, e ele acabou escolhendo “Argo”, cotadíssimo para concorrer a vários Oscar.

Fiquei mais confortável dirigindo. No começo, tinha muita ansiedade, não sabia se ia ser capaz. Mas aí consegui o primeiro. Depois o segundo. Acho que você precisa manter um medo saudável, mas também uma dose de autoconfiança

Ben Affleck

“Fiquei mais confortável dirigindo. No começo, tinha muita ansiedade, não sabia se ia ser capaz. Mas aí consegui o primeiro. Depois o segundo. Acho que você precisa manter um medo saudável, mas também uma dose de autoconfiança”, disse em mesa-redonda com participação do UOL, em Los Angeles. Ele não gosta, porém, de ficar falando sobre essa reviravolta nem de comparar as carreiras de ator e cineasta. “Não acho que sou melhor diretor do que ator, nem melhor ator que diretor, nem melhor roteirista do que diretor ou ator. Eu tento fazer filmes, e para mim essas coisas estão relacionadas. Foi assim que aprendi.”

“Argo” é baseado em fatos inacreditavelmente reais. Em 1980, o agente da CIA Tony Mendez (interpretado por Ben Affleck, também diretor do filme) conseguiu tirar seis refugiados americanos da residência do embaixador canadense em meio à Revolução Islâmica do Aiatolá Khomeini, em que cada cidadão dos EUA era considerado moeda de troca pelo xá do Irã, asilado na América.

Poderia ser apenas mais um resgate como tantos outros vistos no cinema, mas este seria considerado absurdo se tivesse saído da cabeça de um roteirista: Mendez e os reféns saíram de Teerã fingindo ser uma equipe canadense de cinema à procura de locações para uma ficção científica de Hollywood. É impossível não pensar na situação atual: como se sabe, até hoje as relações do Irã com os Estados Unidos são, no mínimo, tensas.


Mas “Argo” não pretendeu ser um filme político, muito menos favorecer Barack Obama, de acordo com os envolvidos. “A verdade é que tentamos fazer um filme tão apolítico como possível, dentro do contexto. Não estávamos tentando favorecer ninguém. Não antecipamos propositadamente a estreia nos Estados Unidos para antes das eleições”, disse o produtor Grant Heslov, sócio de George Clooney na produtora Smokehouse. Indagado se a negação sobre o lado político tinha a ver com o clima pré-reeleição do presidente, Affleck afirmou: “Se eu estivesse fazendo um filme político, eu diria. Diria que é um filme sobre imperialismo, sobre a democracia, ou a tirania, o totalitarismo”.

Mas ele fez a lição de casa. Além de ter estudado o Oriente Médio na universidade, o diretor e ator pesquisou a crise dos reféns, a Revolução Islâmica, a situação atual. “Somos conscientes do que acontece no mundo e estamos fazendo um filme sobre o Irã e as relações do Irã com os Estados Unidos. Muita pesquisa foi feita para refletir a realidade”, disse. Affleck não teme as reações ao seu trabalho naquele país. “‘Argo’ não é o único filme crítico à Revolução Iraniana que foi lançado. Eles censuram seus próprios cineastas, que são muito restringidos em relação ao que podem fazer. Então, a maior conclusão a que chego é que provavelmente eles não vão exibir o filme no Irã.”

Em vez de focar na política, Ben Affleck prefere ressaltar os outros aspectos, como o uso do gênero thriller para envolver o espectador. “Uma das coisas que amo nesse filme é que você pode dizer para as pessoas: seu coração vai acelerar, você vai roer as unhas... Essa experiência cinematográfica crua e muito divertida é importante para levar as pessoas a ver um longa-metragem que talvez achassem muito político.” A sátira a Hollywood, por meio dos personagens do fictício produtor Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (John Goodman), que trabalhou em produções como “Planeta dos Macacos”, garante as risadas. O elenco estrelado conta ainda com Bryan Cranston, da série “Breaking Bad”, como o chefe de Tony Mendez na CIA.