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Mulheres usam farsas para manter paz religiosa em "E Agora, Aonde Vamos?"; diretora comenta

Cena de "E Agora, Aonde Vamos?", de Nadine Labaki, que estreia nesta (15)no Brasil - Divulgação/Vinny Filmes
Cena de "E Agora, Aonde Vamos?", de Nadine Labaki, que estreia nesta (15)no Brasil Imagem: Divulgação/Vinny Filmes

Mário Barra

Do UOL, em São Paulo

15/11/2012 02h47

O conflito duradouro entre cristãos e muçulmanos no Oriente Médio ganha uma interpretação leve no misto de comédia com drama de "E Agora, Aonde Vamos?", que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas brasileiros. Na trama, um grupo de mulheres media as desavenças seculares dentro de uma pequena comunidade no Líbano, com uma linguagem que evita explorar os motivos políticos e sociais para o conflito e foca nas atitudes tomadas pelos personagens para evitar um banho de sangue.

Segundo a diretora Nadine Labaki, que conversou com a reportagem do UOL, o filme chega forçar a barra ao abordar o inexplicável em guerras religiosas e nos desentendimentos entre humanos em geral. Logo no início, uma discussão cômica simboliza a tensão entre cristãos e muçulmanos que irá aparecer no restante da produção: os habitantes reclamam uns dos outros sobre temas banais como invasões de jardim e até o ato de cutucar o nariz. "As razões para essa guerra são ridículas e eu quis deixar claro como esse tipo de desavença pode começar", afirma.

Como palco, está um vilarejo que não poderia ser mais atrasado. Até mesmo a chegada de um aparelho de TV ao local é comemorada como um verdadeiro evento público. E é justamente a novidade tecnológica que irá reviver a centelha da briga histórica entre os dois grupos étnicos que convivem em paz temporária no local. Notícias de atentados em regiões próximas no Oriente Médio fazem os moradores começaram a olhar torto entre si. "O filme serve para mostrar como os humanos simplesmente não se toleram, não aceitam as diferenças", diz a cineasta.

TRAILER LEGENDADO DE "E AGORA,
AONDE VAMOS?", DE NADINE LABAKI

Ainda que a solução divertida apresentada por Nadine para resolver de vez o problema seja um tanto irreal, a produção ironiza a própria existência de um sentimento de raiva tão aguçado e apresenta uma visão original sobre um tema já explorado tanto por livros de história como pelo cinema.

Outro ponto positivo vai para os trechos musicais, que são usados para expressar o pensamento dos personagens. "Eu queria dar um ar de conto de fadas à história, algo que quebrasse a tensão", explica Nadine. "Mas eu também procurei algo universal para explicar as aflições, e a música é uma linguagem própria para isso." Essa mescla de humor e melodia é balanceada com momentos tristes como garotos feridos usando muletas e balas perdidas.

Nadine volta a usar mulheres como condutoras da narrativa, fórmula que deu fama à cineasta em seu primeiro longa, a comédia "Caramelo" (2007). Para a diretora, as situações vividas pelas protagonistas representam a luta que qualquer mulher enfrentaria ao notar a iminência de um conflito doloroso. "As atitudes tomadas pelas moças no filme mostram somente o quão desesperadas elas estavam", afirma a diretora, ao comentar as farsas que o grupo de mulheres prepara para tentar evitar o pior. "Elas poderiam acontecer em qualquer lugar, até mesmo aí no Brasil."

A diretora fala com base na resposta que obteve durante a exibição do longa em terras brasileiras, em agosto de 2012, durante o Festival Varilux de Cinema Francês. Nadine se recorda de ter sido abordada por muitas brasileiras, identificadas pela pressão exercida pelo machismo e as convenções sociais que até hoje vigoram no universo feminino. "As mulheres daí me contaram sobre como se viram retratadas na tela, mesmo sem compreenderem o que existe de trágico pelo lado religioso. É algo comum a todas, a luta por espaço e sobrevivência", comenta.

VEJA CENA EXCLUSIVA DE "E AGORA, AONDE VAMOS?", DE NADINE LABAKI