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Alec Baldwin dá voz a Papai Noel radical na animação "A Origem dos Guardiões"

O ator Alec Baldwin ao lado do Papai Noel, personagem que dubla em "A Origem dos Guardiões", de Peter Ramsey - Paramount/Divulgação
O ator Alec Baldwin ao lado do Papai Noel, personagem que dubla em "A Origem dos Guardiões", de Peter Ramsey Imagem: Paramount/Divulgação

Cindy Pearlman*

Do Holywood Watch

27/11/2012 05h00

"Estava na hora de mudar", diz Alec Baldwin. "Se eu fiquei nervoso? É claro. Estou embarcando numa viagem e tanto." O ator de 54 anos está falando sobre seu casamento recente com a professora de ioga Hilaria Thomas, que – considerando-se o seu histórico pessoal "barraqueiro" – não deixa de ser um gesto de otimismo.

O primeiro, com a atriz Kim Basinger, aconteceu em 1993, durou nove anos para lá de tumultuados e levou a uma disputa sem-fim sobre a custódia da filha única, Ireland, hoje com 17 anos. De pavio curto e desbocado, Alec virou um ímã para os tabloides desde então; ele e a nova esposa, 25 anos mais nova, nunca conseguem sair sem atrair um bando de paparazzi.

Também teve que se ajustar à transição de galã dos anos 1980 para ator de personagens excêntricos. Faz tempo que, como menciona uma personagem de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), os irmãos Baldwin eram sinônimo de "gatos"; hoje, ele é visto em papéis secundários, na maioria cômicos, e é mais conhecido como o egocêntrico executivo da TV Jack Donaghy em "30 Rock" --papel que ressuscitou sua carreira e lhe rendeu dois prêmios Emmy como Melhor Ator em Série Cômica.

"O que eu fiz, ao longo dos anos, foi começar a aceitar as decepções", afirma Baldwin, cujo novo filme, "A Origem dos Guardiões", estreia no Brasil em 30 de novembro, uma semana depois dos Estados Unidos. "Nesse ramo, você sempre espera o melhor, mas acaba percebendo que esse melhor é fato raro."

Quando eu era mais novo, se um projeto não dava certo, eu ficava superdeprimido", prossegue ele."Vamos dizer, se um filme que eu fiz não desse dinheiro ou não fosse bem recebido como eu esperava, ficava muito triste. Com a idade, porém, você aprende a aceitar a decepção. É uma questão de mudar o foco; se aparece alguma coisa que dá certo, maravilha, muito bom; se não, você tenta não se culpar e segue em frente

Alec Baldwin, sobre reação diante dos fracassos

Baseado num livro de William Joyce, "A Origem dos Guardiões" é uma animação que conta a história de um espírito maligno chamado Pitch que quer controlar o mundo. Para combatê-lo, surgem os Guardiões Imortais, figuras icônicas – tipo Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa e outros – que unem forças pela primeira vez para proteger os sonhos, crenças, esperanças e a imaginação das crianças do mundo todo.

Baldwin empresta a voz à figura do Papai Noel, North; Hugh Jackman, ao Coelhinho da Páscoa; Isla Fisher, à Fada do Dente e Chris Pine, a Jack Frost.

Não, as falas de Baldwin não se limitam ao famoso "Ho-ho-ho!". "O pessoal me explicou que os personagens seriam versões mais 'radicais' daqueles que já conhecemos; no meu caso, um pouco diferente do Papai Noel tradicional", explica. "Foi por isso que me interessei."

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"Quando a gente vê o bom velhinho, já sabe que vai ver um homem de bochechas rosadas e ar bonachão", ele prossegue, "só que, nesse filme, ele aparece um pouquinho diferente, mas nada muito chocante".

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E reconhece que algumas piadas e referências devem passar batido pelos mais jovens.
"Gosto do jeito que a personagem de Isla dá em cima do de Chris Pine quando eles se conhecem", conta ele. "É bem realista --mas claro que não podem levar o caso às vias de fato porque são de espécies diferentes. É problemático."

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Baldwin já fez dublagem em vários filmes ao longo dos anos, entre eles "Como Cães e Gatos" (2001), "Final Fantasy: The Spirits Within" (2001) e "Madagascar 2" (2008), e confessa apreciar a liberdade que esse tipo de projeto oferece.

"É como se fosse novela de rádio", ele reflete. "Outra pessoa vai cuidar da dimensão física, então posso viajar com a voz e me arriscar sem ter que me preocupar com as consequências."

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O único problema, ele acrescenta, é se arriscar demais.

"As chances de se fazer algo bombástico e muito chocante com a imagem do Papai Noel são tentadoras", ele reconhece. "Para evitar os excessos, preferi fazer uma coisa mais comedida e bem distribuída."

Na vida real, Baldwin – que foi criado em Massapequa, Nova York, com os irmãos Stephen, William e Daniel, que também são atores, e uma irmã que não é – admite ainda ter resquícios de trauma envolvendo o Papai Noel.

"Eu me lembro de ter entrado na sala um dia e ver minha irmã embrulhando presentes com a minha mãe", ele conta. "Fiquei sem saber o que falar ou pensar. Tinha uns sete ou oito anos na época e aí elas tiveram que me contar tudo."

Acho que abriram o jogo porque como éramos muitos, minha mãe tinha que embrulhar os presentes praticamente sozinha", filosofa ele."Quando eu entrei e soube da verdade, ela pôde me colocar como ajudante

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Alec conta que suas opções de programas natalinos não chegavam nem perto da variedade que a criançada tem hoje.

"Sou de uma geração que não tinha tanta opção como a molecada tem hoje em dia", ele explica. "Nasci em 1958, então geralmente via 'O Natal do Charlie Brown' (1965) e depois o desenho do Grinch (1966)."

"Quando eu era garoto, não tinha TV a cabo nem DVD", acrescenta. "O filme passava na TV cinco anos depois de ser lançado. Lembro que 'O Mágico de Oz' foi anunciado como um superevento. Nós ficamos maravilhados."

O que vem por aí

O último ano foi bem cheio para Baldwin. Além do casamento e de "A Origem dos Guardiões", ele fez seu primeiro musical e o primeiro papel num filme de Woody Allen, na pele do conselheiro de um jovem (Jesse Eisenberg) dividido entre a namorada de longa data (Greta Gerwig) e a amiga dela (Ellen Page) em "Para Roma, Com Amor".

Em "Rock of Ages: O Filme", Baldwin encarna o dono de um clube noturno que descobre o amor onde menos esperava. O papel inclui cantoria, dança e um beijo inesquecível em Russell Brand.

"Sou muito crítico e sei que não canto nada", confessa, rindo. "Quando você aceita fazer um musical, sabe que vai fazer papel ridículo, dar uma de louco e exagerado."

O filme não foi sucesso de público, mas o ator não se perturbou.

"O pessoal tem que curtir muito esse gênero", ele resume. "Tem muita gente que não gosta, mas tem quem adore. Sim, recebemos várias críticas, mas muitos amaram."

Em relação a "Para Roma, Com Amor", Allen deve ter gostado do trabalho de Baldwin porque ele vai aparecer em seu próximo longa, ainda sem nome, mas que será rodado em San Francisco.

"Eu trabalhei com Woody em 1990, quando fiz uma ponta num filme seu; ele ainda era casado com Mia (Farrow)", diz Baldwin, referindo-se a "Simplesmente Alice" (1990). "Acho o máximo ele continuar filmando e atraindo o interesse de tanta gente."

"Eu acho sensacional", ele continua, "porque não há muitos atores que fazem filmes bons. Nesse ponto, Woody está sozinho. É o criador prolífico de grandes momentos do cinema. Quando ele liga para oferecer um trabalho, você tem que dar um jeito de aceitar".

TRAILER DA ANIMAÇÃO "A ORIGEM DOS GUARDIÕES"

Como ator, Baldwin aprecia a perspectiva realista de Allen em relação aos personagens masculinos.

"Adoro quando o diretor não explica muita coisa", ele revela. "Alguém como o Woody, por exemplo, que é obcecado com desastres românticos; ele adora criar protagonistas cujos desejos acabam criando a maior confusão, o que é bem interessante."

Manter uma carreira no cinema não é fácil, revela Baldwin, que sabe bem do que está falando: depois de estrear no cinema em "Eternamente Lulu" (1987) e passar cinco anos em séries de TV, ele fez pelo menos um filme por ano desde então -- e espera fazer muitos mais agora que "30 Rock" está na temporada final, mas não sabe bem o que esperar.

"Voltar a fazer cinema pode ser difícil", analisa. "Tem muita gente nova. Há menos oportunidades e não tenho muita expectativa sobre o que vai acontecer quando '30 Rock' acabar."

A série, criada e estrelada por Tina Fey, é responsável pelo ressurgimento da carreira do astro, em 2006; por isso, ele admite que é difícil ver o fim.

"Está todo mundo triste", diz ele. "Inclusive eu. O programa faz parte da vida da gente e foi um sucesso muito grande. O público gosta muito; tanto que estamos no ar há sete anos."

"É difícil lançar alguma coisa nova", prossegue, "mas conseguimos fazer funcionar do nada e fomos superelogiados, mesmo que a audiência não fosse enorme. Sei que tem seriados que duram oito, nove anos, mas é complicado. Acho que estamos fazendo uma boa coisa em parar agora".

E a seguir ele vai fazer... ?

"Fico nervoso só de pensar", Baldwin admite, "mas não deixo de me empolgar pensando no que será de mim daqui a um ano".

* (Cindy Pearlman é jornalista freelancer em Chicago)