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Inácio Araújo elege "melhor", "mais agradável" e "mais chorão" entre os melhores filmes de 2012

Filmes estrangeiros que se destacaram em 2012 - Fotomontagem/UOL
Filmes estrangeiros que se destacaram em 2012 Imagem: Fotomontagem/UOL

Inácio Araújo

Colunista do UOL

19/12/2012 05h00

Há um excesso de filmes no mundo, ninguém ignora, e pouco lugar para mostrá-los (ou as salas estão tomadas por uns poucos filmes), muitos também já desconfiam.

O certo é que, apesar de mostrarmos poucos filmes fora dos “destinados ao sucesso” (ou seja, blockbusters com verbas publicitárias pornográficas), eles passam não raro despercebidos.

Vamos chamar a atenção para alguns que, mal ou bem, passaram entre nós, começando pelos estrangeiros.

O melhor - "Os Mistérios de Lisboa", de Raul Ruiz – já tinha se destacado na Mostra, uma pena que tenha passado quase secretamente.
 
O mais agradável - "Habemus Papam" – talvez prevendo o fim de Berlusconi, Nanni Moretti voltou a respirar tranquilo e a produzir humor, embora haja um quê inquietante nesse papa que se recusa a assumir a função.
 
O mais enganador - "Drive" -  como se falou desse! Mas é tudo maneiras. As cores, o traço cenográfico, a luz, tudo. Só o ator é de fato bom. Duvido que seja lembrado daqui a cinco anos. Aliás, até daqui a cinco dias.
 
 O que mais poderia ser e não foi – 'Argo" – Que história fantástica, a de Argo... Uma pena que o tema propriamente cinematográfico tenha sido pouco aproveitado e que Ben Affleck tenha optado por um suspense à la Griffith. Mas, caramba, faz uns 100 anos que Griffith inventou isso.
 
O mais arriscado – "Elefante Branco" – não parece, mas Pablo Trapero contrapôs uma enorme estrutura (o prédio abandonado, originalmente concebido para ser um hospital e que se transformou num favelão) a um grupo de pessoas que tentam fazer algo por uma população desprotegida, e conseguiu algo difícil, mostrar a desproporção entre o homem (pequeno) e a estrutura (poderosa).
 
O melhor retorno – "Cosmópolis" – Ou: Cronenberg volta a ser Cronenberg. Acho que o final de 'Cosmópolis" é falado demais, como se fosse preciso esticar o papel do Paul Giamatti. Mas o personagem de Pattinson representa tão formidavelmente o capitalismo monetário (é monetário que se diz? Aquele que não produz nada, exceto dinheiro mesmo) como mutação mesmo que de novo vemos o Cronenberg observando a transformação dolorosa da espécie.
 
Memoráveis – Entre outros, é verdade, vejo que não esqueço de coisas em “Moonrise Kingdom”, no “On the Road” (mas, caramba, podia ter tirado muita, muita redundância dali), "Deus da Carnificina", um teatro filmado bem filmado.
 
Acho que há mais coisa. Há um filme francês sobre um ministro dos transportes de que não lembro o nome.Um belo filme, uma defesa dos políticos, coisa rara hoje em dia. Muito sensível.
 
 
E o Brasil?
 
Não visto – "Cara ou Coroa" – Ninguém viu. Mas Ugo Giorgetti fez uma bela incursão aos tempos da ditadura sem apelas para tortura ou coisa assim. É como se passavam as coisas do ponto de vista da cultura em 1971. Como se vivia, se pensava, se amava, se criava debaixo da repressão.
 
Unânime – "Tropicália" – Estranho: ninguém foi ver "Cara ou Coroa". Todo mundo foi ver e gostou de "Tropicália". Um seria o espelho do outro, de certa forma. Mas é isso: se não é Globo ou similar ninguém acredita na nossa ficção. De todo modo um documentário bom, digno, rico.
 
Decepções pernambucanas – “Era uma Vez Verônica”. Filme de uma personagem. Um desafio, certamente, mas não deu certo. Verônica ficou meio sem tensão, não repetiu aquele encontro estranho de “Cinema, Aspirinas e Urubus”. Já “Febre do Rato” eu não desgostei quando vi (mas também não amei). Mas se hoje me convidassem para rever eu não teria muito ânimo, não.
 
Alegrias pernambucanas – Eu sei que por enquanto é só de festival. Mas vai entrar em cartaz logo logo. “O Som ao Redor” é uma delícia..
 
O mais errado – "Corações Sujos" – Leia quem quiser o livro de Fernando Morais. Tinha tudo para dar certo. Mas parece que de tudo só se captou a superfície das coisas. Filme representativo, antiquado, isto é: bem cinema brasileiro.
 
O mais chorão – "Gonzaga, de Pai para Filho" – Um bom argumento, inesperado, ao tratar do Gonzaga e do Gonzaguinha, uma história de conflitos. Mas por que apelar tanto para os sentimentos? Por que o filme insiste tanto em chorar por nós? Pode ser esse medo paranóico do fracasso, mas não esperem que eu goste...
 
O mais ou menos - "Boca" – Se Flavio Frederico se informasse bem saberia que Hiroito era amigo de muito intelectual da época, que a Boca e o mundo de fora se comunicavam bem e tudo isso. Seu filme tem virtudes (ah, aquela miss carioca aparecendo no meio da Boca e toda metida em encrenca é para não esquecer), mas acaba mais convencional do que outra coisa.
 
O mais fantástico – "O Homem que Não Dormia", claro, do Edgard Navarro. Muito interessante.
 
O mais “entre” – Entre o passado e o presente está “Luz nas Trevas”. A todo momento nos lembra “O Bandido da Luz Vermelha”. Mas não é. O tempo passou. O bandido envelheceu na cadeia. O mundo mudou. “Luz nas Trevas” é o documentário melancólico desse correr do tempo.