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Richard Gere encarna crise financeira com personagem inescrupuloso em "A Negociação"

Richard Gere em cena de "A Negociação", de Nicholas Jarecki - Divulgação
Richard Gere em cena de "A Negociação", de Nicholas Jarecki Imagem: Divulgação

Mário Barra

Do UOL, em São Paulo

20/12/2012 19h55

A fragilidade de um castelo de cartas é adaptada ao universo do mundo corporativo no filme "A Negociação", que estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas brasileiros. Pomposas por fora, mas passíveis de serem desmoronadas, as cartas no longa montam o personagem principal, um executivo à sombra da crise financeira norte-americana.

O experiente Richard Gere interpreta com maestria o papel do protagonista Robert Miller: um homem com uma vida dedicada aos negócios, mas que testemunha uma ameaça ao seu rico reinado após o acúmulo de problemas, antigos ou não.

Sexagenário de sucesso e dono de uma família devotada à figura do pai, o executivo é, a princípio, um exemplo de sucesso. Querido pela imprensa, o protagonista surge logo de cara concedendo uma entrevista e tem o rosto estampado na capa da revista "Forbes", referência no universo financeiro.

Mas, apesar de sólida, a imagem de homem vitorioso é uma fachada -- ou um blefe com o carteado. Por trás da cara de bom moço, Miller esconde um homem dissimulado ou mesmo mentiroso quando precisa proteger seus interesses.

Ainda que não se aproxime do perfil de um criminoso sem escrúpulos, o magnata pode ser malvado o suficiente para envolver outras pessoas em suas maracutaias e chega ao cúmulo de se importar mais com o seu celular do que com um corpo falecido ao seu lado.

Enredo
Miller se apresenta no filme como um homem ansioso por se livrar do império. Problemas com a liberação de uma auditoria empacam a negociação para a venda da empresa, mas o executivo verá sua vida se complicar muito mais após se envolver em um acidente de carro com vítima fatal.

Na trama, o protagonista é confrontado pelo detetive Michael Bryer, um homem com poucas cerimônias e decidido a desmascarar o bilionário. Para chegar a seu objetivo, Bryer assedia a família do magnata, atua nos bastidores e chega a ultrapassar os limites da lei durante sua perseguição. Tim Roth é o responsável pela atuação, sempre convincente com seu olhar expressivo e jeitão intimidador, apesar de aparentar desleixo.

Gere foi indicado ao Globo de Ouro pela atuação no longa, que foi um dos destaques do Festival de San Sebastián, na Espanha, realizado em setembro de 2012. Mas o ator também divide os louros da boa atuação com o coadjuvante Nate Parker, que interpreta Jimmy Grant, um jovem ajudado pela família de Miller durante toda a vida.

VEJA TRAILER LEGENDADO DO FILME "A NEGOCIAÇÃO", COM RICHARD GERE

A decepção fica por conta do curto tempo de tela -- e a presença tímida no longa -- da premiada atriz Susan Sarandon, que vive o papel da mulher do executivo. Atuando como uma esposa passiva à infidelidade e às faltas éticas do marido, a personagem Ellen só ganha força a partir da metade final do filme.

Este é o primeiro longa-metragem ficcional dirigido por Nicholas Jarecki, que também foi responsável pelo roteiro. O jovem cineasta conseguiu reproduzir o clima de tensão esperado para dramas desenvolvidos em tribunais e corredores de empresas encrencadas, especialmente quando embalados pela recente crise de mercado financeiro vivida pelos Estados Unidos na metade final da década passada.

Mas -- como é comum em filmes pautados por disputas judiciais e imbróglios financeiros -- os espectadores podem ficar confusos com a rapidez das explicações sobre as fraudes, ainda que a atuação convincente de Richard Gere sirva para contornar, em parte, o problema.