Juntos outra vez nas telas, Susan Sarandon e Richard Gere protagonizam escândalo
Em "A Negociação", Susan Sarandon é Ellen, mulher de Robert Miller (Richard Gere), um gênio de Wall Street que tenta vender seu império antes que as autoridades descubram a fraude gigantesca sobre a qual ele foi fundado. Na véspera da transação crucial, Miller sofre um acidente e sobrevive, mas sua amante (Laetitia Casta), não.
Estreia no cinema
A estreia de Susan na telona foi coisa digna de Hollywood. E relembra seu teste, que, como ela mesma diz, foi "muito rápido e incomum".
Segundo consta, ela teria acompanhado o então marido, Chris Sarandon, para lhe dar apoio moral no teste para o filme "Joe" (1970) – e acabou conseguindo um dos papéis principais enquanto ele ficou de fora. Ela, porém, faz questão de acrescentar que Chris já tinha uma carreira sólida no teatro e estrelava a novela "The Guiding Light" (1969-1973).
"Coitado, do jeito que contam parece que ele era um zé ninguém", ela exclama. Susan também conta que, nessa época, tinha acabado de se formar na Universidade Católica, no estado de Washington, e não tinha a mínima intenção de seguir a carreira artística. O marido, que se apresentava no Teatro Long Wharf de New Haven, Connecticut, foi chamado para o teste por um agente e precisava de alguém com quem contracenar, então pediu a ela que o ajudasse. Ambos impressionaram o homem, que acabou pedindo que procurassem o diretor John Avildsen, em processo de escolha do elenco de seu filme.
Enquanto isso, porém, Chris Sarandon foi escalado para fazer o musical "The Rothschilds" (1970) na Broadway e descobriu que não podia mais participar. Avildsen escalou Susan Sarandon então como a protagonista de seu suspense e uma carreira lendária teve início.
É claro que Ellen não aceita nada disso com facilidade. "A partir do momento em que a coisa envolve a família, ela perde todo o respeito que segurava a relação", conta a atriz. "O problema nem é tanto o fato de ele se relacionar sexualmente com outra mulher, mas... puxa vida, se você está com a pessoa há tanto tempo é porque há amizade, há algo muito especial, muito profundo, que não precisa necessariamente ser sexo. Quando ela descobre que a filha foi envolvida e perdeu a inocência, aí, sim, a coisa fica insustentável."
Gere e Sarandon já trabalharam juntos em "Dança Comigo?" (2004) e ela diz que o colega é "muito verdadeiro", e, por isso, Miller "não parece ser mais um sacana ambicioso, sempre querendo levar vantagem. Ele faz algo que nem é tão horroroso segundo os padrões de hoje, e é pego só porque o esquema não dá certo. Age de uma forma que, se não é perfeitamente legal, pelo menos o ajudaria a escapar ileso se não tivesse dado errado. Não foi nenhum esquema da pirâmide, como a história do Madoff, que sabia que estava roubando os clientes".
Sarandon se diz fascinada com esses pesos pesados das finanças que parecem incapazes de estancar suas perdas mesmo quando ameaçados pela possibilidade de uma catástrofe iminente. "O que é interessante no comportamento desses caras que têm tanto poder é que, enquanto percebem que conseguem se safar, tentam se convencer de que os fins justificam os meios e que sabem o que é melhor para as pessoas", continua ela. "E não conseguem parar. É como se fossem viciados em jogo."
"A Negociação" é o primeiro filme do roteirista e diretor Nicholas Jarecki. No início do ano, Sarandon apareceu em "Robot & Frank", outro trabalho de um cineasta iniciante. Muitos atores evitam trabalhar com principiantes, mas ela tem um fraco por eles "porque sonham às vezes durante anos em fazer 'aquele' longa e sabem tudo sobre ele".
Susan também trabalhou com novatos em "Sorte no Amor" e no elogiado "A Estranha Família de Igby" (2002). "O ruim é que os diretores de primeira viagem são mais suscetíveis a mudanças e desistências", a atriz continua. "Só que um diretor consagrado, que já fez uns 40 filmes, também pode errar, então, depende. O primeiro representa o mesmo risco que o segundo ou o vigésimo quinto."
O trabalho mais esquisito de sua filmografia talvez seja "The Rocky Horror Picture Show" (1975), o cult de todos os cults. Baseado num musical inglês de 1973, foi feito com um orçamento mínimo pelos produtores que queriam alguém que pudesse instilar bom humor à chatinha ingênua, Janet. O único problema era que Susan não sabia cantar. "Sempre tive pavor de cantar", confessa ela, "mas o pessoal não me deixou escolha; aí pensei: 'Bom, quando chegar a Londres, peço bebida, remédio, sei lá, qualquer coisa. Não sei como vou fazer, mas dou um jeito'".
"Acho que um filme, na melhor das hipóteses, desafia sua concepção de mundo", declara ela, "e consegue isso fazendo com que você assuma a perspectiva de uma pessoa que está fora de seu padrão de normalidade. O que eu gostei nesse novo filme foi o acesso a detalhes do mundo financeiro e o fato de serem totalmente isolados da família ou do ponto de vista dessa mulher. Achei muito interessante".
Susan Sarandon, atrizO filme fracassou na estreia, mas, em 1976, cinemas gays e de arte passaram a exibi-lo na sessão da meia-noite, primeiro em Nova York e depois em outras cidades do país. A participação do público se tornou parte da experiência e logo ele se tornou um clássico – para felicidade de Susan que, a essa altura já, tinha passado a fazer filmes mais comerciais como "Menina Bonita" (1978), "Atlantic City" (1980), "Fome de Viver" (1983), "Sorte no Amor", "Loucos de Paixão" (1990), "Thelma e Louise" (1991) e "O Cliente" (1994) e em todos imprimiu sua sensualidade intelectual."Eu me redescobri inúmeras vezes, através de um sem-fim de personagens", afirma. "E fiz questão de me arriscar em vários gêneros diferentes."
A atriz continuou a combinar papéis melosos como os de "Lado a Lado" (1998) e "Vida que Segue" (2002), engraçados como em "Doidas Demais" (2002) e "Em Pé de Guerra" (2007) com outros, mais alternativos, como os de "Speed Racer" (2008) e "Robot & Frank".
A seguir, Susan aparecerá num pequeno papel em "A Viagem", dirigido em parceria pelos irmãos Wachowski (de "Matrix") e o alemão Tom Twyker ("Corra, Lola, Corra", de 1998). Rodado em Berlim, para Susan foi um trabalho sem igual. "Foi uma atuação à la Cirque du Soleil", explica ela. "Todo mundo fantasiado, pintado, cheio dos disfarces. O espírito de aventura e risco foram ainda maiores e me senti muito feliz por fazer parte do projeto, ainda que de forma mínima."
* (Karl Rozemeyer é redator freelancer de Nova York)
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