"Vamos recuperar a força de nosso cinema nos anos 60 e 70", diz homenageada em Tiradentes
A atriz Simone Spoladore foi homenageada da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, que exibiu três longas recentes com a atriz: "A Memória Que Me Contam", da veterana Lúcia Murat; "Sudoeste", de Eduardo Nunes (exibido comercialmente no Brasil), e "Nove Crônicas Para um Coração aos Berros", do estreante em longas Gustavo Galvão.
"Fiquei muito emocionada com a homenagem, foi muito bom compartilhar aquele momento com a Lucia Murat e o Gustavo Galvão, uma diretora consagrada e um estreante em longa-metragem", confidenciou a atriz, que retorna a Tiradentes depois de onze anos, quando veio apresentar seu primeiro longa, "Lavoura Arcaica".
Num arroubo de otimismo que pode ser creditado à euforia que sempre domina a cidade histórica mineira em janeiro, Simone afirma: "Podemos acreditar que vamos recuperar a força que o nosso cinema tinha nos anos 60 e 70".
E acrescenta: "Acho que o cinema brasileiro contemporâneo está se desenvolvendo muito, com muitos novos realizadores procurando uma relação criativa com o cinema, fugindo dos lugares comuns de como e qual história contar. Acho que vamos ver nos próximos dez anos os frutos destes trabalhos que estão sendo realizados agora. O público está interessado em se ver nas telas, senti isso em Tiradentes".
No que diz respeito à associação que muitos fazem entre sua carreira e o cinema autoral, a atriz afirma: "Na maior parte dos filmes que fiz existe o desejo de investigar a linguagem cinematográfica e arriscar nos temas e nas personagens, características de um cinema autoral. Tento seguir meu coração e minha vontade de aprender e me surpreender com o mundo. Acho que não existem fórmulas, então você descobre as coisas quando experimenta".
Spoladore é capaz de fazer com que os filmes pareçam melhores. Isto acontece porque a câmera a capta como se desvendasse parte do segredo que se esconde atrás de seu poderoso olhar. "No começo, meu trabalho era totalmente intuitivo, e continua sendo, apesar de eu dominar mais a técnica. Acho que o trabalho do ator é o equilíbrio destes opostos. Em algumas cenas a emoção nos surpreende, em outros momentos a técnica vira mágica", observa a atriz.
Mágica é o que acontece com Raul Cortez, Camila Amado, Osmar Prado, Maria Luiza Mendonça, Juliana Carneiro da Cunha e Paulo José, por exemplo, atores e atrizes que já trabalharam com ela, e citados como grandes influências em seu trabalho.
Ressalta como a principal dessas influências a atriz Camila Amado, com quem trabalhou em "Vestido de Noiva". "Além de trabalharmos diretamente no texto do Nelson Rodrigues, trabalhando a respiração e a divisão das frases e palavras, ela me dava noções filosóficas sobre a vida e o ofício do ator, foi um trabalho muito bonito que trago na memória", diz Spoladore.
TRAILER DE "SUDOESTE", UM DOS FILMES ESSENCIAIS DE SPOLADORE
Crítica, autocrítica e preferências
Será que a atriz lida bem com críticas? Diz Spoladore que "a crítica quando feita com carinho e seriedade pode nos revelar aspectos de um trabalho que ainda não tínhamos visto". Por outro lado, reconhece que "algumas pessoas veem sombra, onde outras veem luz", e acrescenta que "é interessante ouvir as diversas opiniões, porque às vezes elas revelam mais sobre as pessoas do que sobre os próprios filmes".
Ela demonstra bom conhecimento da história do cinema, citando desde cineastas experimentais dos anos 1960 até diretores altamente cultuados do cinema de arte europeu, sem esquecer de alguns filmes e diretores brasileiros:
"Quando descobri o primeiro cinema, me apaixonei pelo Meliès. Também gosto de cinema sem pessoas, como os filmes do Stan Brakhage [cultuado diretor experimental americano]. Mas há pouco tempo revi David Lynch e adorei! Acho que gosto mesmo é da sensação de descoberta que o cinema nos dá", disse.
VEJA TRAILER DE "O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE CASA"
"João Cesar Monteiro, Zulawsky, Apichatpong, Bela Tárr, Aki Kaurismaki são algumas descobertas recentes. Dos brasileiros, "O Padre e a Moça", Sganzerla por exemplo, "A Mulher de Todos", Glauber Rocha, Ruy Guerra, "Limite", "Cinema, Aspirinas e Urubus", "Histórias Que Só Existem Quando Lembradas, e muitos outros", explica.
A questão sobre os próximos trabalhos é inevitável. "'A Morte Feliz', de Albert Camus, com direção do Eduardo Nunes; o primeiro longa de ficção da Flávia Castro; o próximo longa da Helena Ignez [adaptação de 'Ralé', do escritor russo Maximo Gorki]", responde.
Simone Spoladore construiu, em pouco mais de dez anos de carreira cinematográfica, um conjunto de obra sólido e revelador. O que os próximos anos reservam para ela é algo que qualquer amante da sétima arte vai querer acompanhar. Aguardemos, então, seus próximos trabalhos.
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