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Mostra de Cinema de Tiradentes anuncia vencedores; veja a lista

Cena de "Doméstica", de Gabriel Mascaro, exibido no encerramento do festival - Divulgação
Cena de "Doméstica", de Gabriel Mascaro, exibido no encerramento do festival Imagem: Divulgação

Sérgio Alpendre

do UOL, de São Paulo

27/01/2013 10h46

Encerrou-se neste sábado (26) a 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, após a exibição do já célebre "Doméstica", de Gabriel Mascaro. A premiação, como sempre, dividiu-se entre os prêmios da crítica, do público e do júri jovem (composto por estudantes) para a Mostra Aurora e também para os demais filmes exibidos no evento (no caso de prêmio do público).

Dentro da Mostra Aurora, apenas três dos sete longas concorrentes mereciam tal prêmio: "Matéria de Composição", de Pedro Aspahan; "Os Dias Com Ele", de Maria Clara Escobar; e "Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem", de Alexandre Veras. Sem que um se destaque dos demais, e sem que os três estejam muito acima da média do que vemos normalmente em Tiradentes (uma profusão de filmes medianos ou no máximo interessantes).
Entre os longas, deu "Os Dias Com Ele", tanto no júri jovem quanto no júri da crítica. O longa havia sido muito bem recebido pela plateia que lotou o Cine Tenda na quinta-feira. Não se pode dizer que foi injusto, portanto.

O prêmio do público, mais uma vez, foi para um filme exibido no Cine Praça (e pouco visto por jornalistas por casar com os filmes do Cine Tenda): "Dossiê Jango", de Paulo Henrique Fontenelle.

Nas outras mostras do evento, destaca-se, de longe, a produção cearense "Doce Amianto", de Guto Parente e Uirá dos Reis. Nenhum outro longa desta edição foi tão feliz na junção entre afrontamento e encenação, com um tratamento criativo das cores e dos flashbacks e a estética "camp" a escandalizar os conservadores de plantão.

Vale mencionar alguns outros longas, que, de certa forma, fizeram razoavelmente bonito nas mostras paralelas. "Jards" mostra a continuação da pesquisa formal de Eryk Rocha, e é mais bem sucedido do que seu longa anterior, "Transeunte". Em "Jards", acompanhamos a gravação de um disco jazz-roqueiro do grande músico Jards Macalé, com a câmera colada em seu rosto e nos instrumentos.

"Boa Sorte Meu Amor" é a estreia em longa de Daniel Aragão, diretor de Pernambuco, estado cuja cinematografia tem sido superestimada pela imprensa brasileira. Irregular, mas repleto de imagens fortes em preto e branco, essa estreia mostra um diretor que prefere fazer cinema a estudos sociológicos.

"Super Nada", de Rubens Rewald, vai muito bem até uma reviravolta com o personagem de Jair Rodrigues, e nesse momento o filme parece perder o chão. Mantém-se digno até o final, mas boa parte de sua força se esvai após um golpe de violência.

Três outros longas merecem ser mencionados por algumas qualidades específicas, apesar de serem bem irregulares no todo: o filme de encerramento "Doméstica", de Gabriel Mascaro; "Esse Amor Que Nos Consome", de Allan Ribeiro; e "A Balada do Provisório", de Felipe David Rodrigues.

Houve também a mostra Sui Generis, criada este ano para exibir filmes mais livres, "sem pressupostos". Nela foram exibidos três longas: "Claun Parte 1: Os Dias Aventurosos de Ayana", de Felipe Bragança; "Semana Santa", de Leonardo Amaral e Samuel Marotta; e "Vertigem Branca", de Breno Silva, Dellani Lima e Simone Cortezão. A ideia de tal mostra é boa, e agradou os jornalistas que a acompanharam.

Entre as decepções, temos "Otto", longa bem pessoal de Cao Guimarães (de "Alma do Osso" e "Andarilho"), e principalmente "Eles Voltam", o segundo longa de Marcelo Lordello, e mais uma obra que não confirma a habilidade narrativa vista em seu curta "Nº 27".

Apesar da média de longas e curtas continuar abaixo do desejado (o que talvez seja inevitável dado o gigantismo do festival), esses dias de janeiro exalam novidade e vontade de cinema por todos os lados. Problemas sempre existirão, e devem ser combatidos. Mas é preciso má vontade para ignorar o que a Mostra de Tiradentes traz de bom ao cenário brasileiro.

Veja a lista dos premiados da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Melhor curta da Mostra Foco eleito pelo Júri da Crítica - "Meu Amigo Mineiro", de Gabriel Martins e Victor Furtado
Melhor curta pelo Júri Popular - "A Onda Traz, o Vento Leva", de Gabriel Mascaro
Melhor longa eleito pelo Júri Popular - "Dossiê Jango", de Paulo Henrique Fontenelle
Melhor longa da Mostra Aurora eleito pelo Júri Jovem - "Os Dias Com Ele", de Maria Clara Escobar
Melhor longa da Mostra Aurora eleito pelo Júri da Crítica - "Os Dias Com Ele", de Maria Clara Escobar

As 5 melhores coisas da 16ª Mostra
- A consolidação da Mostra como espaço para cinema de pretensão autoral.
- A simpatia e a inteligência de Simone Spoladore, homenageada da edição.
- A sessão de "Doce Amianto", a bela ousadia cearense, e o incrível debate que aconteceu no dia seguinte.
- A emoção do diretor Marcelo Lordello no debate de seu longa, "Eles Voltam".
- A revelação dos curtas "Meu Amigo Mineiro" e "Frineia", mostrando, respectivamente, capacidades de inventar e de seguir muito bem um modelo de cinema.

As 3 piores coisas da 16ª Mostra
- Continua elevado o número de longas (34) e curtas-metragens (97). São muitas sessões para poucos filmes bons.
- O exagero na exaltação de alguns filmes ("Eles Voltam", "Doméstica", e mesmo os bons "Os Dias Com Ele" e "Matéria de Composição").
- A invasão de turistas nos fins de semana. Fica muito ruim de andar nas proximidades do Cine Tenda.