"Caça aos Gângsteres" tem figurino impecável e referência a Carmen Miranda
A cena é digna do túnel do tempo, mas nada de ficção científica. Três dezenas de Cadillacs, Mercedes-Benz e Fords, mais do que lustrosos, fabricados nas décadas de 1930 e 1940, tomam uma das principais ruas da pequena cidade de Bellflower, na Califórnia, a 30 quilômetros de Los Angeles.
Dentro e fora deles, homens de terno, sobretudo e chapéus, além de mulheres com criativos adereços na cabeça, vestidos acinturados, peles, saltos. Tudo com muito luxo, sofisticação e glamour. Nos arredores, lojas expõem em suas vitrines ofertas de vitrolas, relógios, rádios gigantes, televisões de tubos e eletrodomésticos coloridos e arredondados. Mas todas as luzes apontam para uma casa noturna chamada Slapsy Maxie's e, logo vem o 'câmera e ação' e a 'audiência' é presenteada com a entrada em cena de Ryan Gosling (de "Namorados Para Sempre" e "Amor a Toda Prova").
Ryan Gosling regrava cenas do filme
O ator canadense está impecável num terno cinza, cravo no peito, sapato bicolor e chapéu que cobre parte do rosto. Agora ele é o sargento Jerry Wooters, de "Caça aos Gângsteres", filme que chega ao Brasil em 1º de fevereiro. A produção teve sua estreia adiada (deveria ter sido lançada em outubro de 2012) por conta de cenas que podiam lembrar o massacre ocorrido no Colorado na sessão de "Batman - O Cavaleiro da Trevas Ressurge", quando 12 pessoas foram mortas e 58 ficaram feridas dentro de uma sala de cinema. A Warner Bros optou por reeditar algumas sequências, nas quais um grupo de gângsteres disparava tiros contra uma plateia de um filme, para evitar qualquer associação.
"Caça aos Gângsteres" é baseado numa série de textos escrita pelo jornalista Paul Lieberman para o jornal "LA Times". O enredo detalha como eram a corrupção e o caos em Los Angeles, nos anos de 1940 e como foi o trabalho da polícia local que criou um 'esquadrão contra gângster' para combater o crime organizado. A intenção é deter o chefe da máfia Mickey Cohen, interpretado por Sean Penn.
Mocinho (Gosling) e bandido também disputam o coração de Grace Faraday, ninguém menos que a bela Emma Stone. “Familiares dos personagens reais têm vindo ao set e isso está sendo empolgante para a gente e para eles. Até um integrante do esquadrão nos visitou, não há o personagem dele no filme, mas ele convivia com todas essas pessoas”, disse o diretor Ruben Fleischer (de "Zumbilândia") ao UOL durante visita às gravações.
A produção também revela que há um pouco de ficção, mas muito pouco. Em alguns casos os filhos dos personagens principais nunca ficaram sabendo de toda a história e que agora, a partir do filme, vão conhecer um pouco mais sobre os seus familiares.
Set tem um toque brasileiro
As gravações começaram em setembro de 2011, quando a reportagem acompanhou de perto o dia de filmagem número 34 de uma maratona com duração de quase três meses. Toda a rua Ramona foi transformada para essa locação, que aconteceu parte ao ar livre, parte dentro da casa noturna e durou a noite inteira.
Do lado de fora, os moradores da cidade se empilhavam, no frio, para conseguir ver algum dos astros em cena. Tarefa difícil, já que eles se misturavam a 201 figurantes deslumbrantemente trajados, o que fazia com que todos parecessem famosos de Hollywood. Mesmo assim, os incansáveis celulares tiravam fotos de tudo o que acontecia, para desespero da produção da Warner, que tentava sem sucesso não deixar nada vazar sobre as gravações. Até um policial 'real', que fazia a segurança, clicava: “É para mandar para minha esposa”, disse ele sem jeito, logo saindo e deixando apenas aparecer em letras garrafais a sua função estampada nas costas: Sheriff.
Todo o glamour desses tempos charmosos logo cai por água abaixo num 'corta'. O Cadillac preto não quer pegar. Ele deveria sair da frente da boate no mesmo momento em que Ryan entra em cena, mas pifou. “Esse é um dos nossos problemas”, fala Mike, da equipe de produção. “Esses carros são alugados de colecionadores e não dá pra garantir que vão andar na hora que é necessário”.
O carro sai de cena para um ajuste técnico. Todos esperam. Volta para o mesmo local e pifa novamente. Começa tudo de novo, sem o Cadillac preto, que foi substituído por outro da mesma marca, porém de duas cores. Sem corte, a câmera entra no salão, mas não antes de mostrar um dos cartazes de destaque na porta de entrada: “Carmen Miranda vai tocar aqui”, diz o anúncio, “de 2 a 9 de dezembro de 1949”.
O ator Robert Patrick (o vilão T1000, do Exterminador do Futuro 2) contou que já ouviu muito falar de Carmen Miranda e suas canções que embalavam as gerações americanas há 50, 60 anos. “Ruben Fleischer fez uma compilação de músicas dessa época do filme para ouvirmos e entrarmos no ritmo”, afirma.
Elenco de "Caça aos Gângsteres" comenta o filme
O charme da inocência com romantismo
Tanto o diretor Ruben Fleischer quanto Josh Brolin ("Onde Os Fracos Não Têm Vez") colocam os irmãos Coen como a maior fonte de inspiração. “Tudo que tem um pouco de absurdo tem a influência deles. São meus favoritos, não só como cineastas, mas como pessoas”, fala Brolin. Já o jovem Fleischer, de 38 anos, diz que para ele os Irmãos Coen também são os melhores, mas que "Caça aos Gângsteres" pode ter um pouquinho de "Chinatown" (1974), do "Poderoso Chefão" (1972) e de "Os Intocáveis" (1987).
Pôster de "Caça aos Gângsteres"
Entre piadas e brincadeiras, o bem-humorado Brolin fala sério e com emoção do seu personagem John O'Mara, o policial que está à frente do esquadrão contra gângsteres: “Esse é um lugar mitológico para mim, O'Mara tinha a inocência desses anos nos quais ele viveu. É interessante estar vestido de acordo com essa época, mas é muito mais bacana poder interpretar a paixão dele, que era romântico e idealista e realmente acreditava no que estava fazendo”.
Na conversa, Brolin acabou revelando que também é romântico: “Uma das cenas que me tocou muito nesse filme é quando meu personagem encontra a filha e ela conta sobre o que lembra do relacionamento dos seus pais. Isso teve um grande impacto em mim. Eu e minha mulher (Diane Lane) quando começamos a namorar, nunca tínhamos tempo para se encontrar, mas a gente trocava muitos emails. Lembro de conseguir lê-los quando ia ao banheiro e logo respondia. Foi o nosso primeiro e extremamente romântico ano. E depois de mergulhar no romantismo do personagem resolvi reviver esse tempo, ler essas mensagens novamente. Achava que eram algumas, 16 ou 17. Coloquei tudo junto e somaram-se 479 páginas de emails...e eu comecei a reler tudo para reviver nossa paixão, o que faz bem para alimentá-la. Assim apaixonado era também meu personagem”, finaliza ele, com aquele olhar tão particular que torna marcante cada papel que dá vida. Fora de cena esse olhar é ainda mais inesquecível.
"Caça aos Gângsteres" estreia no Brasil em 1º de fevereiro.
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