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Irmão mais novo de Macaulay Culkin trilha seu próprio caminho em "Para Maiores"

29.jan.2013 - Cena do filme "Para Maiores", comédia estrelada por Hugh Jackman, Gerald Butler, Emma Stone e Kate Winslet, e dirigida por um time de 12 pessoas, que incluem Elizabeth Banks e Steven Brill - Divulgação/Imagem Filmes
29.jan.2013 - Cena do filme "Para Maiores", comédia estrelada por Hugh Jackman, Gerald Butler, Emma Stone e Kate Winslet, e dirigida por um time de 12 pessoas, que incluem Elizabeth Banks e Steven Brill Imagem: Divulgação/Imagem Filmes

Karl Rozemeyer*

Do Hollywood Watch, em Nova York (EUA)

04/02/2013 05h00

Num dia qualquer em março de 2010, Kieran Culkin e Emma Stone se encontraram numa loja para interpretar um jovem casal que estava se separando no curta "Veronika/CVS".

"The Kentucky Fried Movie"

Alberto E. Rodriguez/Getty Images/Relativity Media
Há cerca de doze anos, o produtor Charlie Wessler decidiu que era hora de fazer outra comédia como o clássico de John Landis, "The Kentucky Fried Movie" (1977), uma antologia de quadros amarrados num filme indecente e hilário.

Bobby e Peter Farrelly, David e Jerry Zucker e Trey Parker e Matt Stone toparam o projeto, mas o estúdio acabou desistindo. Wessler e Peter Farrelly saíram à procura de financiamento independente e o produtor John Penotti concordou em bancar alguns roteiros.

A notícia do filme se espalhou rapidamente por Hollywood e milhares deles – muitos até engraçados, mas geralmente explícitos, obscenos e politicamente incorretos – começaram a pipocar. Atores famosos ligavam para sugerir ideias. Farrelly e Wessler conseguiram selecionar cerca de 40 roteiros mais promissores antes de tocar adiante a produção do que ficou conhecido como "Para Maiores", cujo título em inglês, "Movie 43", foi escolhido por Farrelly inspirado pelo filme on-line fictício que ouviu numa conversa do filho com os amigos.

Dirigida pelo ator Griffin Dunne, a cena levou apenas um dia para ser feita. Depois disso, nada aconteceu durante três anos, até a cena ser incluída em "Para Maiores", filme de elenco estrelado que já é uma das comédias mais castigadas pelos críticos de 2013.

Irmão caçula do ex-astro mirim Macaulay Culkin, Kieran se lembra bem da cena com Emma. "Ela aparece na loja onde ele trabalha levando uma caixa com todas suas coisas", conta, por telefone, de sua casa em Nova York. "E aí começam a despejar um monte de emoções um sobre o outro e a fila ali, só crescendo."

A conversa é agressiva, explícita e muito engraçada. "Os dois começam a falar umas coisas ridículas na frente de todo mundo, coisas superíntimas que dizem respeito só aos dois".

O segredo da cena, revela ele, foi fazer o diálogo engraçado com a maior sinceridade emocional possível. "Tanto nós dois como Griffin chegamos à conclusão óbvia que o melhor a fazer seria gravar o fim do relacionamento, uma coisa bem séria, de forma dramática, verdadeira, fingindo que as pessoas não estavam ali e torcer para que o humor emanasse do roteiro", Culkin explica.

Depois de dez anos, finalmente o longa vai estrear no Brasil em 8 de fevereiro ? e conta, entre outros, com Elizabeth Banks, Halle Berry, Gerard Butler, Anna Faris, Johnny Knoxville, Justin Long, Seann William Scott, Jason Sudeikis e Naomi Watts.

Para atrair astros de peso e comediantes famosos para o projeto, Farrelly dirigiu Hugh Jackman e Kate Winslet num quadro sobre um encontro às escuras que exibiu como teaser para assessores de imprensa e atores. "Achei que foi uma jogada brilhante colocar dois atores como eles numa cena hilária", afirma Culkin. "Foi o que chamou a atenção de muita gente."

Vida pessoal

Gentil e tranquilo, ele ri com facilidade. Modesto e pronto para achincalhar a si mesmo, dá a impressão de ser um pouco mais reservado que a maioria dos atores de sua idade – principalmente considerando-se que, aos trinta anos, ele já tem quase um quarto de século de experiência de atuação.

"Nunca tomei a decisão de dizer: 'Quero ser ator'", revela. "Comecei aos seis anos e pronto. Fiz uns comerciais bobocas e aí fui escalado para um filme; depois vieram outros. Era o que eu fazia quando não estava na escola. Fazia parte do meu dia-a-dia."

A estreia de Culkin no cinema foi uma ponta em "Esqueceram de Mim" (1990), estrelado por seu irmão, Macaulay. Também foi visto em "Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York" (1992), além de "O Pai da Noiva", "Música do Coração" (1999), "Regras da Vida" (1999) e "Meninos de Deus" (2002).

Seus grandes papéis foram em "Sempre Amigos" (1998), no qual interpretou um garoto de doze anos que sofre de síndrome de Morquio e na comédia de humor negro "A Excêntrica Família de Igby", no qual encarnou um jovem sem rumo tentando fugir da opressão da família.

Ao longo dos anos contracenou com nomes como Claire Danes, Jodie Foster, Jeff Goldblum, Diane Keaton, Steve Martin, Susan Sarandon, Sharon Stone e Meryl Streep.

"Tive sorte de trabalhar com tanta gente boa", reconhece. "Ainda não contracenei com nenhum idiota arrogante. Já ouvi falar de ator que dá trabalho no set e percebi que, até agora, minha vida foi moleza. Espero que continue assim, para poder sempre tirar alguma coisa boa da experiência. Deve ser terrível não só ter que aturar um babaca no trabalho, mas ter que se virar sozinho."

Mesmo quando era adolescente, ele nunca pediu dicas de atuação dos colegas mais velhos e nunca recebeu conselhos, pois o consenso era de que se ele tinha sido contratado para o papel é porque sabia como fazê-lo.

Porém, admite que Susan Sarandon foi excepcionalmente generosa no set de "A Excêntrica Família de Igby" (2002). Ela interpretou a mãe do protagonista, e Culkin conta que "sempre pedia tomadas extras, me ajudava em tudo e estava sempre disponível".

O ator considera o longa como um divisor de águas em sua carreira. "Por alguma razão, eu me identifiquei muito com Igby", explica Culkin, "embora não tenha nada a ver com ele e nunca tenha enfrentado aquele tipo de dinâmica familiar; sei lá por quê, mas pude compreender sua personalidade. Como me identifiquei com ele em termos pessoais, me senti perfeitamente apto para interpretá-lo".

Teatro

Depois do sucesso do longa, Culkin deu um tempo na carreira. Quando voltou, resolveu apostar no teatro e não no cinema, para o qual só retornaria seis anos depois e, desde então, tem sido visto ocasionalmente em filmes como "Paper Boy" (2009) e "Scott Pilgrim Contra o Mundo" (2010).

"Li essa peça depois de 'After Ashley' (2003) e fiquei morrendo de vontade de encená-la", ele conta. "A partir daí, ficou bem claro o que eu queria fazer, ou seja, trabalhar somente com aquilo que me satisfizesse. É um processo em que acredito muito. Sei também que é o que todo mundo quer, mas poucos conseguem."

Em 2003 ele estrelou "This Is Our Youth", de Kenneth Lonergan, no Teatro Garrick, no West End de Londres, no papel de Warren Straub, um garoto amargo de 19 anos lutando para encontrar seu caminho na Nova York da era Reagan; em 2012, encarnou o outro protagonista da mesma peça na Opera House de Sydney; agora, quer levá-la para a Broadway.

"Quero encená-la pela terceira vez", revela Culkin. "Nem me lembro da última vez que li um roteiro. Há três anos, só tenho uma coisa na cabeça: montar essa peça aqui nos EUA. Todos os outros projetos e decisões de vida vêm depois."

* (Karl Rozemeyer é jornalista freelancer em Nova York)