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Ataques a "A Hora Mais Escura" diminuem chances de Oscar, mas realçam as qualidades do filme

Cena de "A Hora Mais Escura", da diretora Kathryn Bigelow - Divulgação / Imagem Filmes
Cena de "A Hora Mais Escura", da diretora Kathryn Bigelow Imagem: Divulgação / Imagem Filmes

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

22/02/2013 16h19

Os especialistas em Oscar dizem que “A Hora Mais Escura” chega à reta final da premiação sem fôlego, no papel de um “azarão”, cuja vitória seria uma enorme surpresa. É bem possível que estas análises estejam corretas, o que apenas valoriza ainda mais o filme de Kathryn Bigelow.

Para quem não sabe, o longa-metragem descreve o longo processo de investigação e caçada a Osama Bin Laden, intensificado após os atentados de 11 de setembro de 2001 e só concluído com a morte do líder da Al-Qaeda em 1º de maio de 2011.

“A Hora Mais Escura” divide-se em duas partes muito nítidas. Na primeira, e mais forte, acompanhamos a investigação de Maya (Jessica Chastain), uma aplicada e obsessiva agente da CIA, em busca do paradeiro de Bin Laden. O filme mostra em detalhes supostos guerrilheiros ou militantes islâmicos sendo torturados em prisões secretas mantidas pelo governo americano no Paquistão e no Afeganistão.

Trailer de "A Hora Mais Escura"

“Baseado em fatos reais”, como informa na abertura, o filme provocou indignação e protestos no Congresso americano. Senadores questionaram a Sony Pictures, a diretora Bigelow e o roteirista Mark Boal pelo relato "grosseiramente impreciso e enganoso".

Indicado ao Oscar em cinco categorias, incluindo melhor filme (e também roteiro, atriz, montagem e som), curiosamente “A Hora Mais Escura” não mereceu a honra de concorrer na categoria de direção. Há quem enxergue a exclusão de Bigelow desta lista como consequência da pressão pesada vinda do Congresso.

A segunda parte do filme descreve em minúcias a operação executada pelos Seal, uma tropa de elite americana, para a captura e morte de Bin Laden. Quem leu o livro “Não Há Dia Fácil”, de Mark Owen, um dos participantes da ação, ficará impressionado com a similitude da sua descrição.

Ainda que tome algumas liberdades em relação ao livro, a ação filmada por Bigelow assume um caráter quase documental, mas sem perder o suspense. Mesmo sabendo do desfecho, o espectador é levado a ficar com os olhos vidrados na tela.

Com o mesmo talento visto antes em “Guerra ao Terror” (2008), a diretora fez em “A Hora Mais Escura” um filme que desorienta o público. Muita gente viu apologia à tortura agora, assim como enaltecimento ao Exército no filme anterior.

Não vejo dessa forma. Longe de ser “patriótico”, como são “Argo” e “Lincoln”, “A Hora Mais Escura” apresenta um relato duro, sem simpatias, sobre a compreensível necessidade americana em vingar o golpe sofrido em 2001.