Quinze anos depois, ator mirim de "Central de Brasil" conta que quer ser cineasta
No dia 22 de fevereiro de 1998, o filme "Central do Brasil" ganhava seu primeiro grande prêmio internacional: o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Na época, Vinícius de Oliveira, 27, viu sua vida mudar ao ser escolhido entre 1500 meninos para estrelar o longa de Walter Salles. Além do prêmio em Berlim, a história de amizade entre Josué (Vinícius) e Dora (Fernanda Montenegro), uma mulher que escreve cartas na estação de trens Central do Brasil, no Rio, recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e uma indicação ao Oscar. Quinze anos depois, o ator estuda cinema em São Paulo e contou em entrevista ao UOL que pretende se dedicar a direção, como Walter Salles, e que ainda mantém contato com o diretor.
Walter é um mentor, uma pessoa que me jogou no cinema e desencadeou toda essa mudança na minha vida
sobre Walter Salles"Sem dúvida o Walter é um mentor, uma pessoa que me jogou no cinema e desencadeou toda essa mudança na minha vida. Sempre nos falamos e ele é do tipo que cobra como estou indo na faculdade, pergunta se eu preciso de alguma coisa, me dá dicas e sugestões sobre os meus trabalhos. Estou finalizando meu segundo curta-metragem", disse.
Vinícius foi descoberto no teste de elenco para "Central do Brasil" quando trabalhava como engraxate em um aeroporto no Rio. "Tudo aconteceu muito rápido e acho que a ficha só caiu mesmo uns cinco anos depois. Eu era um garoto que não conhecia nada do universo do cinema. Ainda hoje penso sobre isso, foi um momento pequeno que gerou numa transformação enorme. Conheci lugares que nunca imaginei que pudesse conhecer, de repente estava na televisão, no tapete do Oscar", relembrou Vinícius.
Das lembranças do set, as mais fortes para ele era sua "curiosidade" nas gravações. "Eu não gostava de ficar no camarim com os outros atores, eu gostava de andar pelo set, ajudar a equipe, distribuir água para a figuração. Foi isso que despertou minha paixão pelo cinema e o desejo de estar também por trás das câmeras", frisou. Antes de conhecer Walter Salles, Vinícius nunca tinha ido assistido a um filme no cinema.
O filme fala de um tema muito comum: famílias sem a presença do pai. Isso é forte, toca, emociona
sobre "Central do Brasil""Foi por causa do 'Central do Brasil' que entrei na sala escura pela primeira vez. O Sérgio Machado [assistente de direção do filme] me levou para assistir 'Os 101 Dálmatas', depois o Walter me levou para ver um filme de suspense que não lembro o nome até hoje". Foi também em razão do longa que Vinícius reencontrou o pai ao final das gravações. "A equipe se juntou e fez uma busca, reencontrei o meu pai e até hoje nos falamos", pontuou.
Indagado sobre os motivos que ainda fazem "Central do Brasil" tocar o público, Vinícius arriscou: "Acho que o brasileiro é carente de figura paterna e o Brasil um país romântico que gosta de ter uma figura paterna que o abrace. O filme fala de um tema muito comum: famílias sem a presença do pai. Isso é forte, toca, emociona. E ainda podemos somar os personagens fortes, a Dora construída pela Fernandona, tudo isso junto criou esse caráter atemporal", opinou.
Estigma de principiante
Passado o sucesso de "Central do Brasil", Vinícius afirmou que precisou encarar o desafio de provar que tinha talento para prosseguir na carreira de ator. "Vivi dois lados: um do sucesso, de todo mundo saber quem eu era e de conhecer muita gente. O outro foi provar que tinha talento para novos trabalhos, que não foi apenas sorte de principiante", explicou o ator que considera "Linha de Passe", também de Walter Salles, sua "grande volta ao cinema".
"Foi um grande reeencontro com o Walter que se estendeu para os atores. Em 'Linha de Passe' formamos realmente um família, ainda hoje nos encontramos todo final de ano para celebrar", revelou o ator que divide apartamento com o também ator João Baldasserini, com quem contracenou no longa.
Em 2013, Vinícius poderá ser visto em dois longas: "Trinta", cinebiografia do carnavalesco Joãsinho Trinha, e "Se Deus Vier que Venha Armado", estreia na direção de Luis Dantas.
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