Atriz de "Hitchcock", Helen Mirren conta que encontro com cineasta foi decepcionante
Helen Mirren se sentou com Alfred Hitchcock e...
A frase é suficiente para fazer qualquer apaixonado por cinema prestar atenção, fascinado; porém, como a atriz conta, o encontro aconteceu há muito tempo, foi decepcionante e não rendeu nada à sua carreira na época. O caminho do lendário cineasta se cruzou com o da jovem atriz de teatro por acaso e só.
"Eu estava começando e ele estava fazendo 'Frenesi' (1972) em Londres", ela relembra, se acomodando no sofá de um hotel de Manhattan para a entrevista. "Nem me lembro direito de como foi o encontro."
CARREIRA DE SUCESSO, MESMO SEM HITCHCOCK
Helen Mirren se deu muito bem sem a ajuda de Hitchcock. Aos 67 anos, ela já ganhou o Oscar de Melhor Atriz por "A Rainha" (2006), quatro prêmios Emmy e quatro BAFTA, além de um currículo invejável que vai desde "Um Homem de Sorte" (1973), "O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e O Amante" (1989), o seriado "Prime Suspect" (1991-2006), "Assassinato em Gosford Park" (2001) e "RED - Aposentados e Perigosos" (2010). Em 2003, a atriz recebeu a medalha da Ordem do Império Britânico.
Além de "Hitchcock", Helen concluiu mais dois projetos: ela atua num drama da HBO, ainda sem título, sobre o produtor musical Phil Spector (Al Pacino), no qual interpreta a advogada Linda Kenney Bader, defensora de Spector no primeiro julgamento; terminou também "RED 2 - Aposentados e Mais Perigosos", sequência do sucesso de 2010 que reuniu John Malkovich, Mary-Louise Parker e Bruce Willis.
À menção da palavra "longevidade", os olhos de Helen brilham -- e confessa a surpresa de ainda se ver tão requisitada.
"Tenho muita sorte", ela afirma. "Na minha profissão tudo é tão aleatório e... inesperado. Não dá para dizer que é só talento, é preciso contar com as oportunidades. Eu tento ser uma pessoa com quem é fácil de se trabalhar. Vejo muitas pessoas que se prendem em neuroses, no ego, nos meandros da criatividade (gente criativa pode ser muito complicada) e acaba sendo literalmente impossível lidar com elas."
"Gosto de trabalhar", conclui. "Adoro atuar. Gosto dos relacionamentos que acabam sendo construídos. Venho do teatro, onde o trabalho é de união. Gosto de me sentir parte de um grupo que trabalha pelo mesmo objetivo."
"Na minha ignorância -- e arrogância -- de jovem, ele era 'da velha guarda' e isso não me interessava", admite. "Se fosse Antonioni, Bertolucci ou um dos outros europeus, eu teria ficado superinteressada. Fui muito burra. Não percebi que Hitchcock era um mestre no que fazia."
"Ele estava sentado à escrivaninha", conta ela. "Na época, era enorme. Só se via a cabeça sobre aquele corpanzil e ele ali, olhando para mim com cara de reprovação e eu fazendo a mesma cara para ele."
"É, não foi exatamente o que se pode chamar de 'combinação perfeita'."
Agora, no melhor estilo hollywoodiano, Helen e Hitchcock voltaram a se encontrar: ela encarna o papel da esposa do cineasta, Alma Reville, em "Hitchcock", o filme que mostra a luta do diretor para fazer e lançar "Psicose" (1960) ? além de analisar a relação complexa que ele mantinha com Alma, que também era a editora, técnica de som e sua melhor amiga. Anthony Hopkins interpreta o lendário Mestre do Suspense.
A atriz sugere um título melhor para o longa: "Os Hitchcocks"; afinal, a produção que estreia no Brasil nesta sexta (1º) aborda a desconhecida Alma tanto quanto fala de Alfred.
"Acho que, se não fosse por esse detalhe, eu não teria me interessado pelo filme", afirma Helen, que é casada com o diretor norte-americano Taylor Hackford e, por isso, se divide entre Londres e Los Angeles. "Era essencial. Eu também estava interessada em descobrir a verdade sobre eles, a importância de Alma nesse processo criativo. Foi uma grande descoberta. Eu não sabia nada antes de ler o roteiro e aí comecei a pesquisar."
"A filha de Hitchcock, Patricia, escreveu um livro que acabou sendo minha principal fonte de informação", ela explica, referindo-se a "Alma Hitchcock: The Woman Behind the Man" (Berkley, 2003). "É maravilhoso, mas foi o fato de ela ter escolhido escrever sobre a mãe e não o pai foi que me fascinou. Patricia sabia que Alma não recebia o reconhecimento que merecia. É uma obra de quem mais conhecia o assunto."
"A verdade é que passei a gostar muito de Alma", ela prossegue. "Gostei de sua tranquilidade, da aceitação de seu papel dentro da família e do processo criativo. Ela não ficava ansiosa, não tinha ambições secretas, não tinha inveja nem ficava brava. Acho que amava Hitchcock e o achava muito engraçado porque ela está rindo em todas as fotos que encontrei. Eles riam muito e acho que foi o senso de humor – além do cinema – que os manteve unidos, mais que qualquer outra coisa."
Muita gente vai assistir a "Hitchcock" por causa do tema; já outros, por causa do elenco, que inclui Jessica Biel como Vera Miles, James D'Arcy como Anthony Perkins e Scarlett Johansson como Janet Leigh, mas a principal atração é, sem dúvida, o trabalho de dois dos maiores atores britânicos da atualidade, Hopkins e Mirren.
"Tony e eu nunca fizemos nada juntos", ela confirma, "mas vivemos em universos paralelos. Nosso começo no teatro foi muito semelhante, como também no cinema e o fato de termos vindo para os EUA. Por isso, quando nos reunimos, foi superfácil, como se tivéssemos trabalhado juntos a vida inteira".
"É óbvio que ele é um dos maiores atores de hoje em dia", ela afirma, "e isso me deixou um pouco nervosa e intimidada, mas como acontece com gente de talento e grande experiência, ele também é muito acessível. Além disso, nossa metodologia é parecida, ou seja, decorar aas falas, entrar em cena e dar apoio aos outros atores".
"Assim como eu, ele acredita que o trabalho não é se limitar ao seu mundo próprio, mas apoiar o que os outros estão fazendo", prossegue. "Deu certo e caiu perfeitamente bem no relacionamento que estávamos retratando."
* Ian Spelling é jornalista freelancer em Nova York.
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