Protagonista de "A Fuga", Eric Bana nega fama de herói de ação
"Eu não me chamaria de herói de ação", diz Eric Bana. "Para mim, 'Troia' (2004) é o único dos meus filmes a se encaixar nessa definição. Certamente não fui em 'Hulk' (2003), o menor trabalho físico da história". Não dá para negar que o ator australiano de 44 anos já interpretou um protagonista romântico em "Te Amarei para Sempre" (2009). Ele também já mostrou uma versão humorada num filme de Adam Sandler, "Tá Rindo do Quê?" (2009), com Judd Apatow.
AÇÃO E ROMANCE
Bana concedeu esta entrevista telefônica de Albuquerque, Novo México, onde filmava outro filme de ação, "Lone Survivor". Também contando com Taylor Kitsch e Mark Wahlberg, o longa-metragem --programado para estrear no ano em novembro deste ano-- é baseado num incidente ocorrido em 2005, a Operação Asa Vermelha. Bana interpreta um capitão de corveta encarregado de uma unidade especial da Marinha cuja missão é capturar ou matar o líder talibã Admad Shad. A operação fracassou e somente um membro da equipe regressou com vida.
Ele não vai tirar o uniforme de herói de ação tão cedo também graças a "Beware the Night", no qual representa um policial nova-iorquino investigando possessões demoníacas, lobisomens e exorcismos. O ator também espera filmar "By Virtue Falls", no qual interpretaria um antigo presidiário tentando se vingar do mentor.
Para alguém que insiste "não vestir a carapuça de herói de ação", Bana conta com diversos créditos no gênero. Ele foi um soldado da Força Delta em "Falcão Negro em Perigo" (2001), um assassino israelense em "Munique" (2005) e um ex-espião da CIA que ensinou a filha adolescente (Saoirse Ronan) a matar em "Hanna" (2011).
Por outro lado, apesar do visual de galã --Bana, 1,87 de altura--, também parece evitar papéis românticos. Seu primeiro papel de protagonista foi em "Chopper – Memórias de um Criminoso" (2000), sobre Chopper Reed, assassino australiano da vida real. Ele engordou quase 15 quilos para representar Reed.
O filme ganhou vários prêmios na Austrália e chamou a atenção de Hollywood para Bana, uma novidade incomum aos 32 anos.
"Quem examinar a pilha de roteiros na minha escrivaninha verá que a grande maioria é de dramas, não romances, o que me deixa extremamente feliz."
O verdadeiro romance de Bana é com seu carro, um cupê XB Ford Falcon, de 1974, pagou menos de US$ 1 mil quando tinha 15 anos e no qual continua trabalhando até hoje.
O carro foi exibido em "Love the Beast" (2009), um documentário de baixo orçamento. O filme, produzido e dirigido por ele, que mostra como ele e três amigos preparam o automóvel para participar do rali Targa Tasmânia.
"Recebo correspondência fantástica de fãs por causa desse filme. Existe um monte de caras que passam os fins de semana na garagem."
Um deles é o próprio Bana, estando ou não num set cinematográfico. "Até que não sou um dono de casa mau, eu me dou bem com uma lista de afazeres."
Geralmente, porém, quando seu nome é associado a um filme, o ator aparecerá manejando algum tipo de arma. Em ''A Fuga'', que estreia no Brasil nesta sexta-feira (15), ele representa Addison, o articulador de um roubo malfeito a um cassino, que fará de tudo para não ser capturado.
"Eu nunca tinha colocado uma escopeta na mesa durante uma reunião de família", conta Bana, descrevendo "A Fuga" como um "filme distorcido sobre a ceia de Ação de Graças".
O drama se concentra nos elos familiares: os do seu personagem com a irmã caçula e cúmplice (Olivia Wilde), os desta com um ex-prisioneiro (Charlie Hunnam) e os dele com seus pais (Sissy Spacek e Kris Kristofferson).
"Addison é uma pessoa emocionalmente complexa com um passado um tanto comprometedor", conta o ator. "Ele tem uma grande convicção quanto ao que é certo ou errado, mas é uma pessoa perturbada. O personagem não se resume a trevas. O humor é uma parte importante de sua personalidade."
Início da carreira
Ele se lembro de imitar familiares com cinco ou seis anos. "Meus pais e avós viviam me incentivando. Minha parentada era muito louca, divertida e não se abalava à toa. Os domingos eram implacáveis, e eu também passei a ficar insensível às críticas."
Bana também se inspirou em três atores completamente distintos: o astro do cinema Paul Newman, o comediante Richard Pryor e Dame Edna Everage, a mulher exagerada interpretada pelo ator australiano Barry Humphries.
"Dame Edna foi o primeiro artista que vi ao vivo", conta Bana. "Barry teve um grande efeito sobre mim, pois eu era um jovem que, à época, não estava ciente de desejar entrar nessa área. Foi mais uma resposta primitiva ao assistir teatro ao vivo pela primeira vez. Eu admiro de verdade o que Barry fez com sua carreira."
A influência de Newman se deve em parte ao fato de que, como Bana, ele era fã de corrida de automóveis. "Sempre admirei Newman pelo calibre dos filmes que fez e, egoisticamente, o fato de que ele adorava carros. Newman teve uma carreira longa e bonita. Eu tenho na mais elevada estima pessoas como ele e Robert Duvall."
Quanto a Pryor, ele ajudou Bana em sua primeira especialidade no mundo dos espetáculos, a comédia. "Não dava para tirar os olhos dele nas apresentações ao vivo", conta o ator australiano. "Ele ajudou a me inspirar a começar a fazer comédia stand up. Eu não sabia que isso provinha do desejo de ser engraçado ou ser um palhaço. Eu queria habitar personagens e contar histórias engraçadas."
"Na época, a comédia stand up era o único modelo acessível para mim. Estudar teatro de maneira formal seria o equivalente a me candidatar à NASA. A comédia era uma entrada acessível para mim."
Bana se concedeu um período de dois anos para a atividade dar certo. "Eu trabalhava em tempo integral e metia o nariz no stand up à noite. Depois de 12 meses, larguei o emprego, saí em turnê e passei a construir meu material. Eu tinha a ingenuidade e a juventude a meu favor. Não se tratava de algo que teria coragem de fazer se fosse casado e tivesse dois filhos, mas, então, eu tinha 22 anos."
*Nancy Mills é jornalista freelancer em Manhattan Beach, Califórnia
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