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"'Anna Karenina' é quase uma novela", diz par de Keira Knightley

Cena do filme "Anna Karenina", estrelado por Keira Knightley e Jude Law. Baseado na obra homônima do romancista russo Liev Tolstoi, o longa mostra o romance proibido entre a aristocrata Anna, uma mulher presa a um casamento infeliz, e o conde Vronski. O filme recebeu o Oscar de melhor figurino em 2013. - Divulgação / Universal
Cena do filme "Anna Karenina", estrelado por Keira Knightley e Jude Law. Baseado na obra homônima do romancista russo Liev Tolstoi, o longa mostra o romance proibido entre a aristocrata Anna, uma mulher presa a um casamento infeliz, e o conde Vronski. O filme recebeu o Oscar de melhor figurino em 2013. Imagem: Divulgação / Universal

Nancy Mills

Do Hollywood Watch

17/03/2013 07h00

Desavisados, milhares de jovens ao redor do mundo têm o primeiro contato com o clássico de Leon Tolstói, "Anna Karenina", durante o ensino médio. Não foi o caso de Aaron Taylor-Johnson, o britânico de 22 anos que interpreta o Conde Vronsky na nova versão para a telona.

"Pelo amor de Deus, na minha escola, não", diz ele. "Não tive esse tipo de educação, não venho desse mundo. Não li muito. Claro que já tinha ouvido falar de Tolstói, mas nunca tinha lido nada tão complexo assim antes."

"Peguei o livro à unha, mas não foi tão difícil como parecia."

Taylor-Johnson pode não ser um erudito, mas quando assume um desafio de interpretação, vai até o fim. Para encarnar o John Lennon adolescente de "O Garoto de Liverpool" (2009), passou três meses estudando a vida do Beatle e aprendendo a tocar banjo e guitarra; não teve dificuldade nenhuma em se transformar num maconheiro/traficante californiano em "Selvagens" (2012|), de Oliver Stone, desaparecendo com todo e qualquer traço de seu sotaque britânico; fez um nerd norte-americano que vira super-herói em "Kick-Ass - Quebrando Tudo" (2010) e atualmente está filmando a sequência.

Por telefone, durante o trajeto do set para sua casa em Somerset, na Inglaterra, Aaron fala sobre a experiência de interpretar Vronsky, um rico jovem oficial da Cavalaria, que se apaixona pela personagem-título (Keira Knightley), uma mulher mais velha e casada. Quando Anna descobre que vai ter um filho seu, deixa o marido (Jude Law), funcionário do governo, e escancara seu novo relacionamento -- mas é rejeitada pela sociedade russa.

Tom Stoppard adaptou o livro para o cinema. O filme, que chega ao Brasil neste fim de semana, é dirigido por Joe Wright, que também fez "Orgulho e Preconceito" (2005) e "Desejo e Reparação" (2007), ambos estrelados por Keira.

"'Anna Karenina' é quase uma novela", dispara Aaron. "É uma história longa, com uma personagem fantástica, que você admira, ama e odeia ao mesmo tempo. Não encaro como um filme intelectual ou educativo, não; para mim, é mágico, um espetáculo encantador, muito teatral, expressivo e bem diferente."

Carreira e vida pessoal

  • Pascal Le Segretain/Getty Images for Chanel

    Taylor-Johnson concorda com a opinião de Joaquin Phoenix sobre a profissão de ator.
    "Ele a descreve como um 'esporte radical'", o jovem conta. "É preciso ter coragem porque você se joga no abismo o tempo todo. Dá medo porque você fica vulnerável, mas é divertido também. A adrenalina e as endorfinas dão um barato legal."
    "Gosto de me pôr em situações desconfortáveis", admite. "Quando era adolescente, não achava muita coisa interessante no mundo 'normal'. Aprendi a ler com roteiros."
    Aos quinze, ele decidiu se dedicar à carreira de ator em tempo integral.
    "Saí da escola e fui passando de emprego em emprego", ele relembra. "Durante uns dois anos, só tinha uma mala. Viajei e experimentei de tudo. Conheci gente que, apesar de ser mais velha que eu, era bem mais nova de cabeça."
    Antes que "O Garoto de Liverpool" o fizesse ser notado em Hollywood, Taylor-Johnson passou uma década trabalhando na TV britânica e fazendo cinema só de vez em quando. Agora, porém, são os filmes que consomem todo o seu tempo.
    Mas a própria vida do ator não está longe dos elementos românticos de "Anna Karenina", embora, por enquanto, o final seja feliz.
    Enquanto filmava "O Garoto de Liverpool", há três anos, ele se apaixonou pela diretora Sam Taylor-Wood que, na época tinha 42 anos; ele tinha 19. Depois de duas filhas juntos – Wylda, de dois anos, e Romy, de dez meses --eles se casaram em junho de 2012. Ela mudou o nome para Sam Taylor-Johnson, enquanto ele passou de Aaron Johnson para Aaron Taylor-Johnson.
    O romance foi manchete na Inglaterra, principalmente por causa da diferença de idade, mas ele ignora o falatório.
    "Quando você está pronto, acontece", ele filosofa. "Eu me apaixonei e queria uma família. Queria ter filhos. Tenho duas filhas lindas e felizes. Elas são tudo para mim."
    "Agora minha vida está completa", prossegue ele. "Tenho motivo para viver. Elas são o meu porto seguro."

Em vez de optarem pelo realismo de Merchant-Ivory, Wright e Stoppard levaram a história para um palco e incorporaram a ela uma artificialidade deliberada.

"Parece um mundo imaginário, coisa de sonho", explica Taylor-Johnson. "Ninguém sabe direitinho como o pessoal era no século 19, então dá para inventar uma coisa aqui e ali. Ele aparece de branco, ela, de preto. Tem muitas jogadas visuais. Não é preciso pensar muito."

O mundo da Rússia czarista desapareceu há muito, é claro, mas o ator vê semelhanças da história com o mundo moderno.

"É claro que poderia acontecer hoje", afirma. "Mostra o tipo de amor que as pessoas gostariam de ter; algumas conseguem, outras não, e isso as deixa infelizes."

Projetos
"Cheguei para fazer 'Anna Karenina' direto de 'Selvagens'", revela. "Ainda tinha o rosto sujo de sangue."

Embora o Vronsky de Taylor-Johnson seja elegante e galante, ele não gosta de ser taxado de ator romântico.

"A primeira vez que aconteceu comigo foi em 'Gatos, Fios Dentais e Amassos' (2008)," diz ele, referindo-se à comédia adolescente britânica dirigida por Gurinder Chadha. "Quando saiu 'Kick-Ass - Quebrando Tudo', adorei poder interpretar aquele nerd, um cara que não podia ir a parte alguma."

E torce para que o status de galã seja destruído de vez na sequência, ou "Kick-Ass 2".

"Dessa vez meu personagem tem que superar alguns obstáculos", explica ele, tentando não entregar muitos detalhes. "Hit Girl (Chloe Grace Moretz) e Red Mist (Christopher Mintz-Plasse) estão de volta, mas a dinâmica é bem diferente."

Não se sabe o que fará a seguir, mas deve ser bem diferente tanto de "Anna Karenina" como de "Kick-Ass".

"O negócio é o seguinte", começa ele, "um bom ator é camaleão. Muitas vezes já vi um filme e, na hora de subir os créditos, está lá o nome do Gary Oldman. Que papel o cara fez? Tenho que voltar para ver onde ele estava. É assim que quero ser".

"É para manter a minha sanidade", ele exagera. "Não quero ficar repetindo o mesmo tipo de papel. Prefiro correr riscos."

Em outra palavras, Taylor-Johnson não quer ser o eterno bonitão de filmes românticos.

"Não gosto da atenção que gera", confessa. "Adoro ser Kick-Ass. Ele é engraçado, meio nerd e meigo. É por isso que estou mais que disposto a repetir a dose."

(Nancy Mills é jornalista freelancer em Manhattan Beach, Califórnia.)