Remake de "A Morte do Demônio" poupa no humor e traz mais sangue
Mário Barra
Do UOL, em São Paulo
18/04/2013 05h00
A cabana e o livro malditos do primeiro filme da série "The Evil Dead - A Morte do Demônio" (ou "Uma Noite Alucinante" no Brasil), que fizeram a cabeça de uma geração de aficionados por filmes de horror na década de 1980, retornam em uma versão quase sem humor e ainda mais repleta de sangue no remake "A Morte do Demônio", que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (19).
O novo longa, dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, traz cinco personagens inéditos que são possuídos por espíritos demoníacos dentro de uma pequena casa escondida na floresta depois de lerem um livro dos mortos feito com pele e sangue humanos. Até este ponto, o enredo é parecido com o da produção realizada em 1981 por Sam Raimi, diretor mais lembrado atualmente por assinar a franquia "Homem-Aranha" estrelada por Tobey Maguire.
Mas o caráter inovador da produção que alavancou a carreira de Raimi dá lugar no remake a um festival tenso de terror, muito mais extremo do que no filme de três décadas atrás. Sem a intenção de reavivar as piadinhas dos personagens e o humor negro que marcou a versão original, o longa de Alvarez leva o espectador ao limite da aflição com membros decepados, inúmeras perfurações de pele e órgãos internos, além de muito sangue -- bastante mesmo, galões do líquido vermelho.
TRAILER LEGENDADO DE "A MORTE DO DEMÔNIO"
Outra diferença entre os dois longas está no ritmo das ações, ainda que Raimi seja um dos produtores do remake. Enquanto o novo se preocupa em oferecer ao espectador cenas impactantes sem parar, o longa dirigido por ele há mais de 30 anos mantém o foco no suspense, com mais tempo entre os momentos assustadores para que o espectador possa se recuperar da sequência anterior de órgãos humanos expostos.
Brutal também é a distância entre os orçamentos dos dois filmes. No primeiro, a verba disponível para as filmagens era inferior a US$ 400 mil enquanto o remake foi feito com mais de US$ 15 milhões. Somado o avanço tecnológico de três décadas, o resultado é um remake elegante, filmado em condições muito distintas daquelas encontradas por Raimi em 1981: baixo orçamento, frio intenso na floresta e até mesmo fuga de parte dos atores.
FEDE ALVAREZ COMENTA O REMAKE
Na época, apesar das dificuldades, Raimi apresentou uma fórmula nova para um longa de terror, com ângulos originais de filmagem como a "corrida" com a câmera mata adentro para mostrar o ponto de vista dos espíritos demoníacos enquanto marcham rumo aos habitantes indefesos da cabana. Até mesmo o stop-motion, técnica de animação em que o diretor precisa fotografar quadro por quadro as cenas, foi empregado pelo cineasta na última parte da trama.
Mesmo sem contar com a maior parte dos atores durante os momentos em que os personagens estão "possuídos" -- Raimi precisou usar pessoas diferentes para terminar o longa -- e até mesmo com cenas fora de foco, o esforço do diretor proporcionou um clássico do terror, que resistiu durante muito tempo até que um remake fosse finalmente aceito.
"The Evil Dead - A Morte do Demônio" também serviu para despontar a carreira de Bruce Campbell, um nome que ficou eternamente atrelado aos filmes B de horror. Amigos pessoais, Raimi e o ator já trabalharam em outros filmes nos últimos 30 anos como "Oz: Mágico e Poderoso" e na franquia "Homem-Aranha". Campbell também participou do remake ao lado do colega como produtor.
Personagens mais desenvolvidos
A personalidade dos personagens no remake é mais marcante do que a dos integrantes do primeiro filme -- exceção feita ao resistente protagonista Ash, que demonstraria seu valor mais tarde nas sequências "Uma Noite Alucinante 2" (1987) e "Uma Noite Alucinante 3" (1992).
No primeiro filme, lançado no circuito norte-americano somente em 1983, a identidade e o passado dos personagens eram mantidos em segundo plano. O espectador pouco sabia sobre a origem do quinteto, composto por dois casais e uma colega. A solteira é a primeira a notar que algo de errado se passa naquele lugar, antes mesmo da descoberta do livros dos mortos.
Já no remake, o sobrevivente Ash -- interpretado na versão original por Campbell -- dá lugar à conturbada Mia, uma jovem viciada em drogas e marcada pela triste morte da mãe, que passou os últimos momentos internada em um hospício. Ao procurar a cabana com os amigos para tentar se livrar da dependência química, ela se reencontra com o irmão distante David.
Se no filme de três décadas atrás os visitantes não conhecem a cabana, a versão do recinto em 2013 traz até fotos da turma nas paredes. Esse parece ser um dos detalhes que Alvarez emprestou à história na tentativa de adicionar identidade aos personagens: a enfermeira Olivia é obstinada, o introvertido Eric é curioso e Mia apresenta um caleidoscópio de sentimentos que vai da raiva à ternura pelo irmão. Todos se conhecem e têm um passado em comum, com mágoas e alegrias reveladas logo no início da história.
Sequências
Os mais fanáticos podem sentir falta da criatividade de Sam Raimi como diretor. Mas para os fãs que esperam um clima mais sombrio e chuvas -- literais -- de sangue, o novo filme se apresenta como uma sequência adequada. A prova está no sucesso do longa nos Estados Unidos, onde recebeu boas resenhas por parte da imprensa local e arrecadou mais de US$ 40 milhões em bilheteria, segundo dados da consultoria Rentrak desde a estreia em 5 de abril até o dia 14 do mesmo mês.
Tanto Raimi como Alvarez já confirmaram o desejo de continuar a dirigir filmes da franquia. Enquanto o diretor uruguaio deve seguir com a história de "A Morte do Demônio", Raimi poderá assinar um filme que daria sequência a "Uma Noite Alucinante 3" -- longa menos cultuado pelos fãs da série, que leva a luta de Ash contra demônios para um ambiente de Idade Média.