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Homenageado no Rio, cineasta francês conta que trabalhou no Brasil em 1969

O cineasta francês Benoît Jacquot na Abertura do Festival Varilux de cinema Francês, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress
O cineasta francês Benoît Jacquot na Abertura do Festival Varilux de cinema Francês, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, em São Paulo Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

03/05/2013 19h08

No Rio de Janeiro, o consagrado diretor de cinema francês Benoît Jacquot, é o homenageado do Festival Varilux de Cinema Francês – até 16 de maio em 45 cidades brasileiras.

Sua obra é relembrada em uma mostra especial no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, onde Jacquot participou nesta quinta (2) de um encontro com Walter Salles. “Nos encontramos para conversar sobre nossas vidas e nossos trabalhos, nós fazemos as mesmas coisas”, conta Jacquot, 66, ao UOL.

O homenageado também tem uma história antiga com o país, que visitou em 1969 para trabalhar como assistente de direção de um filme rodado aqui. Morou seis meses no Rio. “Tenho ótimas memórias daquela época. É uma cidade bonita, mas tem problemas como a violência. Eu esqueci completamente de falar português, depois filmei na Itália, Espanha e em países de língua inglesa. Acho que se trabalhar aqui de novo, em duas semanas volta tudo”, disse.

Jacquot admitiu que “adoraria filmar no Brasil”, mas que não tem ideias precisas ainda. “É algo que gostaria de fazer”.

Perguntado sobre as mulheres brasileiras, o cineasta disse ignorar as atrizes brasileiras. “Existem atrizes brasileiras famosas? Sei que existem top models como Gisele Bündchen. Ah, voilà, Sonia Braga, uma mulher linda... Eu tenho interesse em conhecê-las, se tiver a oportunidade de ver o trabalho delas”, completou.

Jacquot ficará no Rio até domingo (5) e seu programa favorito será ir à praia. “Quero tomar banho de mar no Arpoador, sei que vai curar meu resfriado”, brincou.

Léa Seydoux
Durante o festival Varilux, o cineasta francês exibirá seu longa mais recente, “Adeus, Minha Rainha”, selecionado para a competição oficial do Festival de Berlim em 2012 e vencedor de três prêmios César, o Oscar do cinema da França. O filme é protagonizado por Léa Seydoux, 27, uma das promessas do cinema francês.

“Seydoux é muito promissora e foi interessante para mim contribuir com a carreira dela”, disse Jacquot, ao comentar seu interesse em trabalhar com personagens femininas em seus filmes.

Léa Seydoux, que cancelou de última hora sua vinda ao Rio de Janeiro, é considerada uma das maiores revelações do cinema francês contemporâneo, tendo no currículo participações em filmes hollywoodianos como “Bastardos Inglórios” (de Quentin Tarantino), “Robin Hood” (de Ridley Scott), “Meia-noite em Paris” (Woody Allen) e no novo “Missão Impossível - Protocolo Fantasma” (Brad Bird).

Fixação por papeis femininos
“Eu estou muito acostumado a trabalhar com atrizes. Quase todos os meus filmes são com personagens femininas. Tenho interesse em personagens femininas, pois, sendo homem, não conheço o mundo feminino e o cinema é uma ótima forma de explorar isso”, afirmou.

Adaptado do livro de Chantal Thomas, “Adeus, Minha Rainha” é ambientado em 1789, quando a notícia da tomada da Bastilha chega à Versalhes. A trama ocorre nos últimos dias antes da Revolução Francesa e gira em torno do triângulo amoroso entre Maria Antonieta (vivida por Diane Kruger), sua confidente Madame de Polignac (Virginie Ledoyen) e Sidonie Laborde (Léa Seydoux), uma empregada cuja função é ler para a rainha.

“Com cada uma das atrizes foi diferente trabalhar. Diane queria muito fazer o papel de rainha no filme. Foi ela mesma quem me pediu para fazer e eu disse : 'ok, então faça'. Com Virginie eu já filmei dois longas antes e a conheço de bastante tempo, desde quando tinha 18 anos”.

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Para o cineasta, o universo feminino em seus filmes não deve ser desvendado e sim explorado. “Eu não tento exatamente conhecer o sexo oposto, mas tento abordá-lo de alguma forma, o que não é a mesma coisa. Neste filme, o que realmente me interessa foi filmar um evento histórico importante sob o ponto de vista de uma jovem mulher (Seydoux), uma servente que não entendia muito bem o que estava acontecendo”.

Jacquot parece ter se interessado muito pela interpretação de Seydoux e já a escalou para seu próximo filme que deve rodar em agosto deste ano, no verão europeu. “É um roteiro original meu, um drama contemporâneo, muito patético. Terá Léa Seydoux, Charlotte Gainsbourg e Catherine Deneuve”, adiantou ao UOL. O elenco conta ainda  com Benoît Poerlvoorde (“Côco Antes de Chanel”).

“Gostaria de algum dia poder filmar uma comédia real, que nunca fiz. Um filme feito para fazer rir de verdade”, comentou.

Truffaut e Godard como inspiração
Quando decidiu ser cineasta, Jacquot tinha 14 anos. “Acho que por causa desse período da new wave francesa que estava surgindo. Estava interessado nisso e queria ser como aqueles jovens diretores franceses, como François Truffaut e Jean-Luc Godard, todos esses se tornaram meus mestres”, relembrou Jacquot, sem querer se arriscar a definir seu estilo de fazer cinema.

“Não quero me definir, se não vou cair numa prisão e não quero ficar aprisionado. Desde que eu faça filmes, para mim está tudo bem. Faço um pouco de tudo, televisão, mas o cinema é o lugar onde prefiro estar. É como se fosse o céu, é como se fosse um paraíso”, confidenciou.

Para ele, o maior desafio no cinema é fazer um filme bom. “Pode ser de qualquer forma, mas um bom filme. Hoje em dia é possível fazer um filme sem recurso nenhum, até com um telefone é possível fazer um filme lindo”.