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Rachel Weisz conta que diretor de "Amor Profundo" a "descobriu" pela TV

Nancy Mills

Do Hollywood Watch

11/05/2013 05h00

Como Rachel Weisz consegue aquele frescor que exibe nas telas? Ela revela seu segredo com o maior prazer.

"É uma bebida especial que eu tomo", brinca a atriz, estrela do novo drama romântico "Amor Profundo", escrito e dirigido por Terence Davies. "Aliás, foi por causa desse viço que consegui o papel. Terence nunca tinha ouvido falar de mim, mas como tinha me visto na TV, aí se lembrou."

Na verdade, ela não está brincando. Em entrevista separada, o diretor, mais conhecido por trabalhos como "Vozes Distantes, Vidas Suspensas" (1988) e "A Essência da Paixão" (2000), basicamente confirma a história.

"Nunca fui muito de ir ao cinema", ele explica. "Um dia, liguei a TV porque não queria mais ler e surgiu aquela garota com os olhos mais lindos, uma luminosidade absurda. Esperei até o fim do filme, "Trazido pelo Mar" (1997), para ver os créditos. Liguei para o meu empresário e perguntei se ele tinha ouvido falar de Rachel Weisz; a resposta dele? 'Terence, você é o único que não a conhece'."

Davies soube então que tinha encontrado sua protagonista.

"Para mim, Rachel ocupa o mesmo espaço que Joan Fontaine em 'Carta de uma Desconhecida' (1948), Celia Johnson em 'Desencanto' (1945) e Olivia de Havilland em 'Tarde Demais' (1949)", ele diz. "Tem alguma coisa especial nelas, não sei explicar o quê. Só sei quando vejo."

O único problema foi que quando Davies finalmente a descobriu, a carreira de Rachel já tinha quase vinte anos e ela tinha ganhado o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel como ativista política em "O Jardineiro Fiel" (2005), de Fernando Meirelles.

"A Rachel fez todos aqueles filmes grandes e o nosso é bem modesto", conta Davies. "O orçamento era de 2,5 milhões de libras e filmamos tudo em 25 dias. Eu sou peixe pequeno. Se ela tivesse recusado, não sei o que teria feito."

TRAILER DO FILME "AMOR PROFUNDO"

Para sorte dele, Rachel ficou intrigada com "Amor Profundo", baseado numa peça escrita em 1952 por Terence Rattigan e que estreia no Brasil neste fim de semana. Ela encarna Hester Collyer, uma dona de casa dos anos 1950 que troca o marido (Simon Russell Beale), um juiz respeitado, por um jovem militar (Tom Hiddleston). É uma relação volátil, praticamente unilateral, e, a certa altura, Hester tenta até se matar.

"Eu adorei a ideia de contar a história de uma mulher que não está nem aí para o orgulho, a dignidade", diz Rachel, por telefone, em Manhattan, enquanto se desloca entre um compromisso e outro. "Ela perde todo o bom senso porque se apaixonou perdidamente. Não consegue mais se controlar. Adorei ele ter me dado um papel desses, onde o homem é o objeto. Embora ela esteja desmoronando, não deixa de ir atrás dele. É muito mais interessante do que interpretar alguém que tem tudo sob controle."

"Acho que Hester não tinha opção", ela acrescenta. "É preciso muita coragem para seguir o coração, mesmo que isso não faça nenhum sentido. Sou uma romântica."

Mesmo hoje em dia, se uma mulher trocasse um casamento seguro com um homem bom por um cara mais novo que não estivesse muito apaixonado e se afastasse dos amigos e da família, as pessoas também comentariam.

Rachel Weisz sobre sua personagem em "Amor Profundo"

Porém, ser romântica na Grã-Bretanha pós-guerra não era comum nem fácil.

"Eu vivi os anos 1950 e sei como era a coisa", Davies explica. "Tanto homens como mulheres eram reprimidos."

"Acho que Hester não sabia que era infeliz", a atriz acrescenta. "Ia levando sua vidinha. Nunca tinha sentido amor, paixão, ou como o Terence chama, 'amor erótico'. É muito possível que a pessoa viva de uma determinada forma por tanto tempo que nem acredita que haja algo diferente."

Embora "Amor Profundo" seja um filme de época (foi filmado pela primeira vez em 1955 com Vivien Leigh no papel de Hester), Rachel o considera importante nos dias de hoje.

"De certa forma, é mais interessante ver uma história que se passa nos anos 50", ela explica, "por que havia mais tabus na época. As mulheres não deixavam seus maridos. Esse nível de preconceito e repressão deixam a história ainda mais volátil".

"Mesmo hoje em dia, se uma mulher trocasse um casamento seguro com um homem bom por um cara mais novo que não estivesse muito apaixonado e se afastasse dos amigos e da família, as pessoas também comentariam", a atriz reflete. "Muita gente ainda fica chocada com esse tipo de comportamento, mas é a forma de a pessoa tentar conquistar sua liberdade."

Carreira

Rachel se formou em Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, onde também ajudou a montar uma companhia de teatro, a Talking Tongues.

"A gente fazia improvisações e levava para Edimburgo e Londres", ela recorda, "e, com isso, consegui um empresário".

Depois de meia dúzia de projetos para a TV, ela fez sua estreia na telona com "A Máquina da Morte" (1994), mas foi só com "Beleza Roubada" (1996), de Bernardo Bertolucci (1996) --no qual aparece tomando sol fazendo topless-- que chamou a atenção de Hollywood; desde então, ela se alterna fazendo filmes menores como "Um Grande Garoto" (2002), "Arte, Amor e Ilusão" (2003) e "A Informante" (2010), e blockbusters como "A Múmia" (1999) e "O Retorno da Múmia" (2001).

JUVENTUDE

Rachel é filha de um inventor húngaro e uma psicanalista austríaca que imigraram para a Inglaterra quando pequenos. Ela e a irmã caçula, Minnie, cresceram num subúrbio londrino.
"Eu era uma adolescente horrorosa, impossível mesmo", relembra ela. "Eu fugia. Saía do meu quarto descendo pela calha do terceiro andar a ia para os clubes."
"Ninguém conseguia me controlar", continua. "Hoje eu me arrependo de ser como era. E aí mudei da noite para o dia. Depois de agir como a pior filha e pior aluna, passei a interpretar o papel da melhor aluna. No último ano do ensino médio, assumi o desafio pessoal de me recuperar --e consegui. Hoje, não seu mais rebelde."

Depois de faturar o Oscar, ela trabalhou com diretores como Peter Jackson em "Um Olhar do Paraíso" (2009) e "A Casa dos Sonhos" (2011), de Jim Sheridan. Também estrelou "Fonte da Vida" (2006), dirigido por Darren Aronofsky, com quem tem um filho, Henry, que vai fazer seis anos.

Recentemente, filmou o drama romântico "Amor Pleno", de Terrence Malick, no qual faz um papel de apoio, e voltou aos filmes de ação com "O Legado Bourne".

Se os elementos de ação a intimidassem, Rachel sabia que podia sempre consultar o marido, Daniel Craig, que é o atual James Bond; porém, ela garante que não precisou de nenhuma dica.

"Tive que fazer várias cenas de ação, sim", ela admite, "mas não precisei pedir conselho dele".

Embora tenha participado de várias comédias, a atriz admite que se sinta atraída por assuntos mais sérios.

"As histórias são interessantes quando os riscos são altos", ela reflete. "E quanto mais altos, mais interessante é a história."

"Bom, mas acabei de fazer o prólogo de "O Mágico de Oz" (1939) com Sam Raimi", acrescenta a atriz, que participou de "Oz: Mágico e Poderoso" como a Bruxa Má do Leste, "que é um filme bem mais leve. Aliás, foi bem engraçado... quem disse que eu não gosto de  me divertir?".

(Nancy Mills é redatora freelancer de Manhattan Beach, Califórnia.)