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Autora de HQ que inspirou vencedor de Cannes diz que cenas de sexo do filme são "frias e brutais"

Do UOL, em São Paulo

06/06/2013 14h33

A autora da graphic novel na qual o filme “La vie d'Adèle” (ainda sem título em português), que ganhou a Palma de Ouro em Cannes neste ano, foi baseado, Julie Maroh, afirmou que as cenas de sexo entre duas mulheres presentes no longa são “brutais e frias”.

“Exceto por algumas passagens isso é tudo que as cenas trazem à minha mente: uma exibição brutal e cirúrgica, fria e exuberante do tão chamado sexo lésbico, que se tornou pornográfica e me fez sentir desconfortável”, afirmou a autora da HQ “Le bleu est une couleur chaude” (ainda sem edição brasileira), em um post em seu blog (leia o texto completo, em francês ou em inglês).

No texto, que foi colocado no ar um dia depois do filme levar o prêmio máximo do festival francês, Maroh diz que se sentiu especialmente desconfortável quando ouviu pessoas rindo durante as cenas de sexo, protagonizadas pelas atrizes Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos e dirigidas pelo franco-tunisiano Abdellatif Kechiche.

“Os heteromornativos riram porque não entendem as cenas e acharam ridículo. Os homossexuais riram porque as cenas não são nada convincentes, e acharam ridículo. E entre as únicas pessoas que não ouvíamos rir estavam os caras muito ocupados em contemplar a encarnação de suas fantasias na tela”, afirmou.

Embora tenha dito que “como feminista e espectadora lésbica” não pode aprovar a direção de Kechiche nessas cenas, Maroh disse não ver o filme como “uma traição”. “Quando se trata de adaptar alguma coisa, acho que a noção de traição deveria ser reconsiderada. Perdi controle do meu livro quando eu o disponibilizei para ser lido. É um objeto para ser manuseado, sentido, interpretado”, completou.

A autora agradeceu “profundamente” a todos que ficaram surpresos com o fato de Kechiche não ter mencionado seu nome quando recebeu a Palma, e explicou: “sem dúvida ele tinha boas razões para fazer isso, assim como ele certamente tinha boas razões para não me dar mais visibilidade no tapete vermelho em Cannes (apesar de eu ter atravessado metade do país para encontra-lo), para não me receber – nem mesmo por uma hora – no set de filmagem, por não escalar ninguém para me manter informada sobre a produção entre junho de 2012 e abril de 2013 ou por não responder minhas mensagens desde 2011”.

“Gostaria de dizer que não sinto amargura. Ele não me mencionou na frente das câmeras, mas na noite da exibição oficial em Cannes, algumas testemunhas ouviram ele me dizer: ‘Obrigado, você foi o ponto de partida’, enquanto apertou fortemente minha mão”, completou Maroh.