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Os zumbis representam os acomodados de Cuba, diz diretor de 1º filme do gênero no país

Cartaz do filme "Juan do Mortos", de Alejandro Brugués - Divulgação
Cartaz do filme "Juan do Mortos", de Alejandro Brugués Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

20/06/2013 13h24

Nascido na Argentina, o diretor Alejandro Brugués tinha apenas três anos quando se mudou para Cuba. Em seu novo país, então com oito anos de idade, ele viu o filme que nunca mais sairia de sua cabeça: "Evil Dead - A Morte do Demônio" (1981), de Sam Raimi. Desde então, o diretor nunca mais parou de perseguir os mortos-vivos.

Hoje, aos 35 anos, Brugués finalmente conseguiu realizar o sonho de criança e produzir com um orçamento de pouco mais de US$ 2 milhões a primeira comédia zumbi cubana. Intitulado "Juan dos Mortos", o filme foi lançado em 2011 e chega nesta sexta-feira (21) aos cinemas brasileiros.

Apesar de ser muito fã de filmes como "Todo Mundo Quase Morto" (2004), um dos maiores sucessos do gênero, o diretor decidiu acrescentar o fator Cuba ao roteiro, o que ajudou seu longa a ganhar mais de dez prêmios do público. "Parte desse público gostou por se identificar com o gênero, e há o público que se identifica com a questão política. Mas há o ponto em comum que é a comédia", disse Brugués, em entrevista ao UOL.

Outros filmes do gênero
"Todo Mundo Quase Morto" (2004 - Inglaterra - Direção: Edgar Wright)
"A Volta dos Mortos Vivos" (1985 - Estados Unidos - Direção: Dan O'Bannon)
"Zumbilândia" (2009 - Estados Unidos - Direção: Ruben Fleischer)
"Meu Namorado é um Zumbi" (2013 - Estados Unidos - Direção: Jonathan Levine)
"Fome Animal" (1992 - Estados Unidos - Direção: Peter Jackson)

Segundo o diretor, a ideia do filme surgiu de uma piada feita pelo diretor há muitos anos. Olhando algumas pessoas circulando pelas ruas da cidade de Havana, ele as comparou com os zumbis que povoaram os filmes de sua infância. A piada também está no filme. Em uma das cenas, um grupo de zumbis rasteja pelas ruas, mas mantém suas atividades normais, como colocar o lixo pra fora. Um dos sobreviventes pergunta: "Aqueles são zumbis?" E outra personagem responde: "Pra mim, eles parecem normais".

Sociedade zumbi
Brugués explica que os mortos-vivos representam uma parte da sociedade cubana, "a que aceita as coisas como elas vêm. A parte que passa pela vida como zumbis". A crítica aos cubanos, no entanto, não ficou limitada somente aos seres rastejantes que vivem de carne humana. 

O protagonista Juan (Alexis Díaz de Villegas) não é um zumbi, mas é o mais acomodado de todos. Divorciado, ele tem uma relação conturbada com a filha, não trabalha, é fã de rum, adora tomar sol na laje e se divertir com a mulher do vizinho. O malandro cubano é quem vê nos zumbis uma oportunidade de ganhar dinheiro. Ele recruta um time de matadores de mortos-vivos e oferece o serviço pelas ruas de Havana. Juan atende ao telefone com a frase: "Juan dos Mortos. Matamos seus entes queridos. Em que posso ajudar?". 

Com a epidemia tomando proporções gigantescas, a imprensa anuncia pela televisão: "Vários distúrbios de ordem social estão sendo registrados nos últimos dias. Aparentemente, são causados por um grupo de dissidentes pagos pelo governo dos Estados Unidos". Apesar das inúmeras piadas envolvendo o governo cubano e seu regime socialista, Brugués garante que não sofreu qualquer intervenção e que ainda teve incentivo de Cuba para a realização do filme. "A maior parte do financiamento do filme veio da Espanha, mas Cuba ajudou com apoio institucional, permissões, cessão de estúdios, esse tipo de coisa", contou ele.

O diretor também garantiu que, apesar da curiosidade das pessoas sobre como é filmar em Cuba, os problemas enfrentados são os mesmos de outros países da América Latina. "Não estamos acostumados a fazer películas com esse tipo de efeitos especiais. Mas são dificuldades encontradas em qualquer país da América Latina, eu imagino".  Entre esses efeitos, há cabeças rolando em acidentes de carro e muito sangue para o deleite dos fãs do gênero.