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"Juan dos Mortos" traz interessante discussão sobre Cuba, mas diverte menos do que poderia

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

20/06/2013 18h07

Filmes de zumbis, sejam de comédia ou os que se dizem sérios, sempre serviram para questionar os excessos e os valores da sociedade capitalista, já que a grande maioria é feita em Hollywood. Fã do gênero desde pequeno, o diretor Alejandro Brugués se perguntou o que aconteceria se uma epidemia zumbi afetasse a socialista Cuba. O resultado de sua imaginações pode ser visto em "Juan dos Mortos", que estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas brasileiros.

Fazendo uma referência clara ao filme “Todo Mundo Quase Morto" (2004) no título e no estilo, o primeiro longa de comédia zumbi de Cuba colecionou mais de dez prêmios do público em festivais do mundo todo por incluir o elemento político no gênero e criticar parte da sociedade acomodada do país.

O protagonista, Juan (Alexis Díaz de Villegas), é o malandro cubano. Ele não trabalha, prefere rum a alimentos, é divorciado, tem uma relação conturbada com a filha e gosta de se divertir com a mulher do vizinho. Quando é convidado pelo amigo Lazaro (Jorge Molina) a fugir para Miami, ele responde com sinceridade: "Mas lá eu ia ter que trabalhar".

TRAILER LEGENDADO DE FILME "JUAN DOS MORTOS"

A tranquilidade de Juan é completamente destruída por uma epidemia misteriosa (como acontece em todo filme de zumbi) que transforma os cidadãos em mortos-vivos. Pela televisão, a imprensa logo anuncia que a epidemia é obra de dissidentes cubanos financiados pelo governo norte-americano.

Sem trabalho há anos, Juan vê nos seres rastejantes a oportunidade de ganhar dinheiro. Ele recruta um time de matadores de mortos-vivos e oferece o serviço pelas ruas de Havana. Juan atende ao telefone com a frase: "Juan dos Mortos. Matamos seus entes queridos. Em que posso ajudar?".

Outros filmes do gênero
"Todo Mundo Quase Morto" (2004 - Inglaterra - Direção: Edgar Wright)
"A Volta dos Mortos Vivos" (1985 - Estados Unidos - Direção: Dan O'Bannon)
"Zumbilândia" (2009 - Estados Unidos - Direção: Ruben Fleischer)
"Meu Namorado é um Zumbi" (2013 - Estados Unidos - Direção: Jonathan Levine)
"Fome Animal" (1992 - Estados Unidos - Direção: Peter Jackson)

As cenas mais engraçadas do filme são quando a equipe de Juan ainda está aprendendo a exterminar os zumbis. Acreditando que os mortos-vivos estejam do lado dos americanos, Vladi California (Andros Perugorría) estende uma bandeira dos Estados Unidos para se proteger dos ataques. Alertado que não se tratam de americanos, o pouco esperto Vladi apenas substitui a bandeira dos Estados Unidos por uma de Cuba.

Segundo o diretor, os zumbis também representam a parte acomodada da população cubana, “aquela que aceita as coisas como elas vêm”, contou ele. Há alguns anos, olhando algumas pessoas circulando pelas ruas de Havana, o diretor as comparou com os zumbis que povoaram sua infância toda. A comparação também está no filme. Em uma das cenas, um grupo de zumbis rasteja pelas ruas, mas mantém suas atividades normais, como colocar o lixo para fora de casa. Um dos sobreviventes pergunta: "Aqueles são zumbis?". E outra personagem responde: "Pra mim eles parecem normais”.

  • Divulgação / Imovision

    Cena do filme cubano sobre zumbis "Juan dos Mortos", de Alejandro Brugués

Apesar da interessante reflexão sobre a sociedade cubana 50 anos após a revolução socialista, o filme provoca menos risadas do que uma comédia zumbi poderia causar. Depois de 40 minutos de matanças, o filme torna-se repetitivo e algumas piadas de mau gosto chamam a atenção. Em uma delas, o protagonista mata um zumbi enterrando uma torneira de jardim nele e, ao final, o chama de sodomita.

O longa usou boa parte do seu orçamento de US$ 2,7 milhões nos efeitos especiais: cortes de membros, explosões de cabeças, acidentes de carro, implosões de prédio. Nesse sentido, o filme também não faz nada de novo do que outros filmes do gênero já fizeram. Com orçamento de US$ 5 milhões, “Todo Mundo Quase Morto” tem mortes com lançamento de discos de vinis mais engraçadas e mais criativas.

Mesmo com as falhas, não é todo dia que zumbis famintos percorrem as interessantes ruas e história de Havana. O protagonista traz uma alternativa para o povo cubano quando uma situação extrema é apresentada. Além das opções de fugir para Miami, ganhar dinheiro com isso ou se acostumar com a situação, Juan apresenta a alternativa de ficar e lutar por um país melhor.