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Superman "coxinha" de Zack Snyder faz espectador torcer para que vilão lhe dê uma surra

Alessandro Giannini

Do UOL, em São Paulo

11/07/2013 07h00

Sob a direção de Zack Snyder, "O Homem de Aço", que traz o britânico Henry Cavill no papel de Clark Kent/Kal-El e Amy Adams como a repórter Lois Lane, é uma nova tentativa de a Warner e a DC Comics reiniciarem a saga do super-herói mais emblemático do universo dos quadrinhos, quase um símbolo para boa parte dos norte-americanos e crianças e adultos de várias outras nacionalidades.

Snyder teve à disposição US$ 225 milhões para levar o personagem a lugares onde ele jamais esteve em sua carreira multimidiática. Do ponto de vista tecnológico, o avanço atinge desde os efeitos especiais até os gigantescos planos rodados em IMAX, algo difícil de não deixar os espectadores boquiabertos com a riqueza de detalhes e o realismo impressos na tela.

Até do ponto de vista da dramaturgia, Snyder trabalhou em cima de uma história criada pelo roteirista David S. Goyer e o também produtor-executivo Christopher Nolan que foge do habitual triângulo Superman, Lois Lane, Lex Luthor. Nesse sentido, escolheu como vilão um personagem pouco notório para os espectadores não iniciados e um ator excepcional para interpretá-lo. Na pele do vingativo general Zod, Michael Shannon coloca Cavill e o seu Clark Kent "coxinha" muitas vezes na sombra, e em vários momentos chegamos a pensar como seria bom -- pra variar esse herói que tanto representa os valores norte-americanos -- levar uma sova daquelas.

TRAILER LEGENDADO DO "O HOMEM DO AÇO"

Só isso é um sinal de que algumas coisas não estão funcionando. Quando o vilão faz sombra ao herói e o engole na maior parte das vezes em que se apresentam juntos na tela, só pode haver um desequilíbrio de forças na distribuição de papéis. Além disso, há outros atos falhos e buracos de lógica na condução da trama que chegam a ser inexplicáveis e constrangedores, como é o caso, por exemplo, da mudança de atitude de Lois Lane, uma repórter investigativa "sangue nos olhos", disposta a denunciar até a identidade do Superman, que de uma hora para outra, depois de uma simples conversa, abandona toda a sua ambição para defender o suposto benfeitor. Há outros exemplos mais ou menos parecidos, mas elencá-los seria apenas tão entediante quanto repetí-los na lembrança.

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  • Divulgação / Disney

Cavill como Superman e Kevin Costner como o pai adotivo de Clark, Jonathan, são exemplos dos mais retumbantes "miscastings" - erro de escalação - do filme. Embora tenha compleição física para o papel, Cavill não tem a mesma ingenuidade sincera e o mesmo carisma de um Christopher Reeve. Ainda que a tentativa fosse de criar um herói mais realista e perturbado -- talvez como... Batman -- não há como transformar essa característica inapelável do personagem. Quanto ao pai interpretado por Costner, bem, fica a lição de que nem sempre o ator é culpado pelos erros daqueles que escrevem o que declama e o faz representar. O ator poderia ao menos ter sido poupado da sequência em que sai de cena no filme, algo que certamente entrará para os anais do Framboesa de Ouro -- o Oscar do pior em Hollywood.

A Lois Lane de Amy Adams e a mãe de Clark, Martha, interpretada por Diane Lane, deixam apenas um breve rastro na memória, especialmente à medida que a distância da sessão se acentua. O ex-parceiro de Mariska Hargitay em "Lei e Ordem: SVU", Christopher Meloni, como um general do governo americano, também parece não ter se descolado ainda do personagem que interpretou por mais de uma década na TV. O que, no fim das contas, é mais um sinal de que toda a trama é muito mal costurada, sem dar o devido peso aos personagens certos e valorizando momentos mal construídos dramaticamente. A imagem é parecida com a de um quebra-cabeças em construção com o vislumbre de uma imagem grandiosa, quebrada por grandes buracos nos lugares estratégicos.