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"Personagem homossexual não é problema, é solução", diz Glória Pires sobre "Flores Raras"

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

05/08/2013 14h23

Na pele da arquiteta urbanista Lota de Macedo Soares em "Flores Raras", a atriz Glória Pires acredita que o filme dirigido por Bruno Barreto chega em um momento importante em que se discute no Brasil temas como a "cura gay". O longa narra o caso de amor entre Lota e a poetisa norte-americana Elisabeth Bishop, interpretada pela australiana Miranda Otto.

Não faltam cenas de beijos e carinhos entre as duas personagens. "O casal de mulheres é mostrado de uma maneira comum. O filme desmistifica o universo gay", disse Glória, nesta segunda-feira (5), durante entrevista em São Paulo. "O fato de a personagem ser homossexual não é problema, é solução. Como atriz, eu busco desafios e, quando você faz muita televisão, fica enquadrado. Quando o convite chegou, dei pulos de alegria".

Conhecida por seus papéis nos filmes da saga "O Senhor dos Anéis" ("As Duas Torres", de 2002, e "O Retorno do Rei", de 2003) e "Guerra dos Mundos", Miranda Otto disse que se sentiu sortuda por ter sido convidada para filmar o projeto no Rio de Janeiro. "Fiquei encantada com a beleza natural do país, a receptividade e noção de estética do povo brasileiro", afirmou a australiana.

A atriz admitiu, porém, que não aprendeu muitas palavras em português. "Sei pedir três doses de cachaça [uma das falas de sua personagem] e agradecer. Não sei falar muito mais do que isso". Miranda disse que ficou aliviada ao saber que a poeta não falava bem o português também.

Longo caminho até a telona

Paula Barreto, produtora do longa e irmã de Bruno Barreto, revelou que foi difícil conseguir patrocínio para o longa por contar a história de amor entre duas mulheres. Com orçamento de R$ 13 milhões, somente uma empresa privada aceitou ser patrocinadora. "Ainda temos dívidas que pretendemos sanar com o lançamento do filme", afirmou Paula.

Os direitos do livro "Flores Raras e Banalíssimas", escrito por Carmen L. Oliveira, foram comprados por Lucy Barreto em 1995, que na mesma época convidou Glória Pires para o papel de Lota.

O filme demorou anos para ser realizado porque Lucy não encontrava um diretor para assumir o projeto --inicialmente, Bruno Barreto não havia se interessado pela história. O projeto chegou a ser oferecido para Hector Babenco, que também recusou. Somente em 2008, Bruno acreditou que poderia contar essa história e decidiu começar a filmar em 2012, mesmo sem ter o orçamento fechado.

O diretor afirmou que não conseguiria pensar em outra atriz para o papel de Lota, mesmo se Glória não estivesse ligada ao projeto. "Só escrevi uma carta de fã na vida e essa carta foi para a Glória, pela cena em que ela fica bêbada no banheiro em 'A Partilha' [filme de Daniel Filho, de 2001]", disse Bruno.

"Flores Raras" abrirá o 41º Festival de Cinema de Gramado, que acontece entre 9 e 17 de agosto no Rio Grande do Sul. O filme entra em cartaz  nos cinemas brasileiros no dia 16 deste mesmo mês.