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Diretor de "A Era do Gelo" explica como animações fogem da crise dos blockbusters

O diretor Chris Wedge participa da pré-estreia da animação "Reino Escondido" em Nova York - Astrid Stawiarz/Getty Images
O diretor Chris Wedge participa da pré-estreia da animação "Reino Escondido" em Nova York Imagem: Astrid Stawiarz/Getty Images

Maria Martha Bruno

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/08/2013 06h00

No Rio de Janeiro para o lançamento do DVD e Blu-Ray de seu último filme, “Reino Escondido” (2013), que chega às lojas em 4 de setembro, o diretor norte-americano de animação Chris Wedge passou também pela 21ª edição do Anima Mundi, onde deu uma palestra no último sábado (11). Em época em que blockbusters como “O Cavaleiro Solitário” estão com resultados abaixo do esperado nas bilheterias do verão americano, o criador de “A Era do Gelo” (2002) e “Robôs” (2005) analisa aproveitou para explicar como seu segmento tenta fugir deste problema.

O filme, distribuído pela Fox e produzido pela Blue Sky Studios (criada por Wedge), estreou nos Estados Unidos no final de maio, junto com “Se Beber, Não Case 3” e a sexta continuação da saga “Velozes e Furiosos”. “É uma época difícil, de competição com muitos filmes grandes. ‘Reino Escondido’ é uma produção para a família, enquanto ‘Velozes e Furiosos’ é uma franquia muito grande. Acho que isso impactou na nossa bilheteria”, analisou o diretor.

Com público de 63.463 pessoas na edição carioca, o Anima Mundi evidencia a consagração do segmento no país, assim como mostram as bilheterias e a grande quantidade de produções no exterior. "Não sei se há um segredo para o sucesso, mas sei que existe uma fórmula baseada no humor". No entanto, ele admite que "o público pensa que é tudo comédia, e que por isso é preciso ter cuidado com este tipo de expectativa".

Chris Wedge afirma que os profissionais da área gostam de desafios. Daí a ideia de mudar de estilo em "Reino Escondido" e apostar mais em uma história de aventura que em personagens marcantes. "Mas não mudei radicalmente. Os melhores filmes têm tudo isso junto. Tentei mesclar ambas coisas. É uma aventura daquelas que eu gostava de ver quando criança". O diretor se confessa bastante interessado na reação do público. Wedge já assistiu ao filme nos cinemas sete ou oito vezes.

Com orçamento de US$ 93 milhões, "Reino Escondido" --que conta a história de uma adolescente recrutada por um espírito da natureza para ajudar os minúsculos "Homens-Folha" a proteger sua floresta-- arrecadou quase US$ 107 milhões até agora nos Estados Unidos, e no fim de semana de estreia, em maio, ficou em quarto lugar nas bilheterias, justamente atrás de “Velozes e Furiosos 6”, “Se Beber Não Case 3” e “Além da Escuridão - Star Trek”.

Mas, em outros países, sobretudo na Europa e América do Sul, ocorreu o contrário: a bilheteria foi crescendo a cada semana, e hoje já acumula mais que nos Estados Unidos, totalizando US$ 142 milhões. No Brasil, o filme ocupou o segundo lugar de arrecadação na semana de estreia. "Eu tento não prestar muita atenção nas bilheterias. Nós conseguimos pagar nossas contas. Isso é o que importa".

Os dois lados da moeda

Assertivo, ele admite que o eterno problema dos altos orçamentos dos estúdios versus o retorno do público afeta mais os filmes convencionais que o segmento de animação: “Acho que isso se explica, em parte, porque as produções de animação são muito bem feitas, por terem mais tempo para trabalhar, em um processo mais lento e flexível. Com o storyboard que fazemos, já se pode prever se está funcionando ou não. E então trabalhamos com bastante precisão”.

Já o lado difícil do trabalho não aparece em cifras, mas faz parte desse mesmo processo que facilita as coisas. Chris Wedge lembra que, ao contrário dos filmes convencionais, na animação é preciso fazer absolutamente tudo: “Não há como levar uma câmera para fora, gravar uma cena, orientar a expressão e as ações dos atores. Tudo tem de estar sob total controle e há preocupação com todos os detalhes”.

Ao mesmo tempo em que isso lhe dá a chance de brincar com a imaginação, Wedge diz que este processo também mostra seus limites. “Testamos as fronteiras do que imaginamos e fazemos. Porém existem frustrações, porque um dia você tem que finalizar o projeto. O tempo acaba. Mas a vida é assim mesmo”. “Reino Escondido” demorou quatro anos para ser produzido. “A Era do Gelo”, três.

Trailer de "A Era do Gelo"

O parceiro Carlos Saldanha

Wedge foi professor do brasileiro Carlos Saldanha, co-diretor de “A Era do Gelo” e diretor da segunda e terceira partes da saga e de “Rio” (2011), com quem criou a produtora Blue Sky Studios. Mas com o aumento do volume de trabalhos – que incluem curtas e longas-metragens, além de comerciais e efeitos especiais para filmes – a empresa cresceu tanto que cada um passou a se ocupar com seus projetos próprios. A relação entre os dois hoje é de amizade e troca de opiniões sobre os projetos de cada um e os encontros agora são casuais, como nesta edição do Anima Mundi, ou para troca de opiniões sobre novas produções.