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Fenômeno de bilheteria, filme cearense desbanca "Smurfs 2" no Estado

O quixotesco Francisgleydisson (Edmilson Filho), em cena do filme "Cine Hollyúde", fênomeno de audiência dos cinemas cearenses - Divulgação
O quixotesco Francisgleydisson (Edmilson Filho), em cena do filme "Cine Hollyúde", fênomeno de audiência dos cinemas cearenses Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

13/08/2013 19h41

Os números impressionam: 23 mil espectadores apenas no fim de semana de estreia, em modestas dez salas de cinema de Fortaleza, Caucaia, Limoeiro do Norte e Sobral.

Fenômeno instantâneo de público no Ceará, “Cine Holliúdy” entrou não só para o top 10 dos filmes mais vistos no país, disputando com produções milionárias, mas para a história do cinema local.

As salas ficaram abarrotadas. A média de 2.293 espectadores por sala nos primeiros três dias desbanca em muito o atual líder de bilheteria no Brasil, "Os Smurfs 2", com 613. O número fica acima até do desempenho de "Homem de Ferro 3", campeão de bilheteria do ano, que teve uma média de 1.470 espectadores por sala em sua estreia.

Segundo o portal Filme B, especializado no mercado cinematográfico brasileiro, o longa orçado em R$ 1 milhão foi responsável por 44% do público nos cinemas de Fortaleza, faturando R$ 268 mil. Cerca de 300 mil espectadores são esperados pela produção até o final do ano, 120 mil deles no Ceará. Tudo isso, ressalta o diretor Halder Gomes, “sem tirar os pés do chão”.

Para ele, tamanho sucesso é fruto de um “laboratório” que fez ao lançar nas locadoras do Ceará o premiado curta “Cine Holiúdy – O Astista Contra o Caba do Mal” (2004), que deu origem ao filme. A "prévia", conta, teve recepção calorosa.

“O sucesso também vem da soma de acertos mercadológicos, estratégicos, de produção, distribuição, além, claro, da qualidade do produto”, acredita.

Outro fator preponderante na construção do fenômeno, diz o diretor, é maneira em que captura a cultura do povo cearense. O elenco, por exemplo, é composto quase todo por atores locais, do município de Senador Pompeu, a 275 km de Fortaleza. As falas, em legítimo “cearensês”, trazem referências às artes e ao cinema do Estado e são legendadas, para facilitar o entendimento das plateias.

“Este gancho tem atraído muito o público: nossa maneira de falar, nosso humor e felicidade. Mas o filme também causa surpresa, ao contar um episódio de superação, num contexto que faz parte da nossa história: o da morte dos cinemas de interior.”

No dia 30 de agosto, o filme estreia em 11 capitais do Norte e Nordeste: Manaus, Belém, Maceió, Salvador, São Luís, João Pessoa, Campina Grande, Recife, Teresina, Natal e Aracajú.

Sobre chegar ao Sudeste, maior mercado nacional, Gomes acredita ser possível em setembro ou, no mais tardar, em outubro, caso a resposta do Norte e do restante do Nordeste seja igualmente positiva.

“Acertamos com a distribuidora [Downtown] e colocamos o trailer do filme em ‘Minha Mãe É uma Peça’, no Norte, no Nordeste e também no Sudeste. E as pessoas simplesmente não paravam de rir, inclusive no Sudeste.”

Saber falar com o público

Ambientado na década de 1970, "Cine Holliúdy" conta a história do quixotesco Francisgleydisson, um cearense que usa a criatividade e o humor para tentar salvar as salas de cinema de uma cidade interiorana, após a chegada dos primeiros aparelhos de televisão.

Quarenta anos depois, o exemplo do filme leva à pergunta: como salvar o cinema dos blockbusters super produzidos?

“O filme simboliza uma forma interessante de fazer cinema: tem protagonistas cearenses, legendas em cearense, tudo na contramão. Ele mostra para o país que, se você buscar o seu nicho de mercado e descobrir formas de se comunicar com seu público, você terá sucesso.”