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Michael Bay diz que foi bom fazer filme sem robôs depois de "Transformers"

Eduardo Graça

Do UOL, em Miami (EUA)

22/08/2013 07h00

“Sem Dor, Sem Ganho”, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (23), é um projeto caro a Michael Bay. O cineasta californiano de 48 anos, baseado em Miami, faz uma inusitada declaração de amor a sua cidade eleita, levando para a tela com alguma liberdade narrativa a tragicômica história do sequestro, na virada do milênio, de um empresário detestável (vivido por Tony Shalhoub, do seriado “Monk”) por três ratos de academia de ginástica, tão musculosos quanto tapados, e queridíssimos na cena marombeira local, vividos por Mark Wahlberg, Dwayne “The Rock” Johnson e Anthony Mackie (o sargento Sanborn de “Guerra ao Terror”).

Este é o primeiro filme que de fato eu trabalhei com digital e película ao mesmo tempo. Não queria que o filme se levasse a sério demais da conta. E foi muito bom, mas muito bom mesmo, filmar somente com atores, sem robôs.

Michael Bay sobre o filme "Sem Dor, Sem Ganho"

O filme, cujo título original, “Pain & Gain”, além de ser uma rima em inglês refere-se ao paralelo da luta para se ganhar músculos nas academias com a série impressionante de torturas a que o avarento homem de negócios é submetido em um pesadelo aumentado pelo fato de os sequestradores serem de um amadorismo tacanho. A maior surpresa de “Sem Dor, Sem Ganho” é o fato de a história ali apresentada ter de fato acontecido, mais ou menos da maneira como Bay a leva para a tela. E o diretor, como se espera, não nega sua paixão pelo politicamente incorreto –há caricaturas étnicas (com Ken Jeong, da franquia “Se Beber, Não Case”), de peso (via Rebel Wilson, de “A Escolha Perfeita”) e de gênero (via a modelo e atriz israelense Bar Paly, a Megan Fox da vez). Os gays também são alvos de algumas tiradas.

Desprezado pela crítica (apenas 46% da imprensa especializada gostou do filme, de acordo com o site rottentomatoes), o filme-sanduíche de Bay, lançado entre “Transformers: o Lado Oculto da Lua” e a quarta sequência de sua franquia bilionária, com previsão de estreia nos cinemas brasileiros no ano que vem, também não foi um sucesso de bilheteria nos EUA, embolsando pouco menos de 50 milhões de dólares em quatro semanas, com uma queda de mais de 60% de ingressos entre a primeira e a segunda semana nos cinemas americanos. Mas teve um efeito "libertador" ("Foi bom ir para o set de filmagem e contar com atores e não robôs") para o diretor.

Confira abaixo os melhores trechos da conversa que um quase bem-humorado Bay teve com imprensa internacional em entrevista coletiva em um hotel de luxo em uma ilha na região central de Miami:

TRAILER DO FILME "SEM DOR, SEM GANHO"

Digital e película
"Este é o primeiro filme que de fato eu trabalhei com digital e película ao mesmo tempo. Não queria que o filme se levasse a sério demais da conta. E foi muito bom, mas muito bom mesmo, filmar somente com atores, sem robôs. Foi só ator, minhas câmeras e minha criação. Foi libertador. E acho que o filme leva minha assinatura. Você vê algumas cenas de 'Sem Dor, Sem Ganho' e imediatamente reconhece quem é o responsável pela direção. É um filme de Michael Bay".

História real
"O jornalista Pete Collins escreveu em 1999 uma série de matérias para o 'Miami New Times'. Eram cinco páginas por, se não estou enganado, quatro finais de semana seguidos, sobre esta história de um crime completamente bizarro. A maneira como ele escreveu fazia com que o trágico ficasse engraçado. E, no fundo, havia esta ideia que me interessava muito, a de retratar pessoas que jamais estão satisfeitas com o que têm. Todos querem sempre algo mais. Os personagens principais da história simplesmente não conseguem estar felizes com o que possuem. Era sobre isso que queria falar”.

Os personagens de carne e osso
"Não quis falar com os sequestradores. Optei por conversar com pessoas que os conheciam. Alguns dos figurantes nas cenas da academia de ginástica os conheciam. Todos diziam que eles eram simpáticos, charmosos, encantadores. Claramente você percebia que eles sabiam fazer bem seu teatro. O detetive DuBois, vivido no filme por Ed Harris, que cuidou do caso, foi uma boa fonte. Não precisei ir além deles para criar meu filme".

Uma mulher curvilínea para o filme
"Precisava encontrar uma atriz para fazer o contraponto feminino da gangue, uma personagem fundamental, de nome Sorina Luminita. Quando contatamos a atriz israelense Bar Paly (é a estreia dela em Hollywood), charmosíssima no teste e com uma personalidade ímpar. Incluindo o sotaque e um certo ar de inocência que ela tem. Só teve um porém: quando ela assinou o contrato, impus uma cláusula exigindo que ela engordasse 5 kg até o começo das filmagens. Minha filha, eu disse, precisamos de uma bunda para a Sorina, nada desta coisa magricela. Ah, e ela faria uma dançarina daqueles clubes para homens. Ela teria de aprender a dançar. Tive de pagar do meu próprio bolso, por baixo dos panos, por uma treinadora de strippers, que o estúdio não tinha como declarar o gasto. Lembro da tal treinadora, que era suíça, me dizendo, ao telefone: 'Michael, ela é terrível, terrível!'. E ela deve ter feito mágica com a Bar, porque na hora do vamos ver, o palco era todo dela. E sei que foi uma experiência assustadora".

TRECHO DO FILME "SEM DOR, SEM GANHO"

Um novo protagonista masculino para o quarto "Transformers"
Estávamos fechando o elenco e gostei tanto de trabalhar com os meninos de “Sem Dor, Sem Ganho” que fiquei pensando em convocar um deles para a nova sequência de 'Transformers', e tanto Dwayne (Johnson) quanto Mark (Wahlberg) se disseram interessados. Como Dwayne estava com a agenda fechada, por conta de 'Hércules', Mark ficou com o prêmio. Quem sabe ele não ganhou o papel por abandono de campo?"

Fazer comédia com a tragédia alheia
"Os artigos de Collins eram engraçadíssimos. O tom era muito bem-humorado e vinha das situações absurdas ali apresentadas. Eu também inseri umas doses de humor, como Dwayne encontrando um artefato sexual, e eu gritando ao fundo: 'Vai lá, dá um tapa nele!'. Os familiares que reclamaram da maneira como retratamos as pessoas reais no filme ainda nem viram o resultado final (a entrevista aconteceu antes de “Sem Dor, Sem Ganho” entrar em cartaz nos EUA), estão fazendo uma crítica do trailer".

Um Bay com mensagem
"Este é um filme meu que certamente tem algumas mensagens sutis. Uma está encapsulada na frase da mulher do Ed Harris que diz: 'Certas pessoas não conseguem ver algo maravilhoso quando ele está debaixo do nariz delas'. Meu filme é sobre isso. Sobre ganância. Sobre tentar 'viver o American Dream' da maneira mais equivocada possível".

Miami, cidade-musa
"Meu primeiro filme aqui foi 'Os Bad Boys', há 18 anos, com Will Smith. Eu era um menino trintão, andava com Will pelas ruas de Miami e ficava impressionado com a textura, a luz, o céu, a água, as cores da cidade. É uma cidade belíssima e acabei me mudando para cá. Os policiais, por exemplo, que você vê em 'Sem Dor, Sem Ganho', são todos reais, não tem figurante. Eles me deram as chaves da cidade e todo 6 de Junho se comemora aqui o Dia de Michael Bay".