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Elenco dá fôlego para "Lovelace", biografia da pioneira do pornô

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

12/09/2013 22h00

Linda Boreman morreu aos 53 anos em um acidente automobilístico em 2002. Mas não sem deixar um legado. Como Linda Lovelace, ela escreveu seu nome na história do cinema ao protagonizar o primeiro filme de sexo explícito a chegar aos cinemas norte-americanos, isso lá em 1972. O longa vai estrear no circuito nacional nesta sexta-feira (13).

"Garganta Profunda", dirigido por Gerard Damiano, foi um fenômeno -- reza a lenda que faturou até hoje US$ 600 milhões, mas outras fontes aproximam o valor de US$ 50 milhões -- e transformou a moça, então com 23 anos, em garota propaganda da revolução sexual. Atrás das portas, claro, o que se descortinava era a história de uma menina que, depois de uma gravidez aos 19 anos e vivendo sob o jugo de uma mãe dominadora e um pai ausente, entregou-se a um canalha que a espancava, explorava e prostituia.

Longe de ser um conto de fadas, o filme de Rob Epstein e Jeffrey Friedman coloca Amanda Seyfried como Linda Lovelace, e a atriz não faz feio, equilibrando a fachada de estrela deslumbrada com a fama repentina e o terror de viver sob constante a ameaça do marido, empresário e cafetão Chuck Traynor (Peter Sarsgaard).

TRAILER LEGENDADO DA CINEBIOGRAFIA "LOVELACE"

O resto do elenco é igualmente primoroso, indo de Hank Azaria (como Damiano) a Adam Brody (no papel do ator pornô Harry Reems), passando por Chris Noth, Robert Patrick, James Franco -- bizarro no papel de Hugh Hefner -- e uma decididamente irreconhecível Sharon Stone.

Mas "Lovelace", como cinebiografia, é rasa e parcial. Epstein e Friedman partem do princípio que a jovem atriz nada era além de uma vítima. O roteiro, assinado por Andy Bellin, pesa a mão ao pintar Traynor como um monstro -- e as pessoas que a usaram na nascente da indústria pornô americana, no mínimo como cúmplices.

A base para o filme é "Ordeal", autobiografia que Linda publicou em 1980 -- e que os editores só toparam lançar depois de ela repetir cada uma de suas histórias em um polígrafo. Ainda assim, não existe nenhum esforço em entender as decisões que a levaram a seguir Traynor. Há muita falação sobre a política e o dinheiro envolvido no começo da indústria pornô e muito tempo gasto tentando colocar o filme num contexto cultural e histórico. Mas a vida da biografada pré e pós-Garganta Profunda simplesmente ficou de fora.

Lovelace ensaia mexer com o voyeurismo da plateia, mas frustra quem vai ao cinema esperando ver quem era Linda Lovelace. Em vez de mostrar as diversas faces da atriz -- que ora é lembrada como submissa, ora como insaciável e pervertida, ora como mentirosa contumaz, ora como ícone sexual de bom grado --, o filme a reduz a vítima.

E mais nada. O que resta -- e é admirável -- é o trabalho de Amanda Seyfried, que segue à risca o texto em mãos e transforma o ícone pornô num mártir, que ainda gozou um pouco de felicidade ao deixar a indústria que nunca lhe rendeu um centavo, ainda que tenha morrido cedo demais.