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Thriller ambientado em lixão, "Trash" terá Martin Sheen falando português

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/09/2013 05h00

Filmado no Brasil e quase todo falado em português, "Trash", de Stephen Daldry, aposta no tema do lixo para o produzir o thriller com Martin Sheen e Rooney Mara no elenco. A produção construiu até um lixão cenográfico no Rio de Janeiro.

Daldry, três vezes indicado ao Oscar --por "Billy Elliot", "As Horas" e "O Leitor"--, desembarcou no Brasil há seis meses para rodar a mais nova coprodução entre a inglesa Working Title, PeaPie Films e a O2 Filmes de Fernando Meirelles.
 

Teria sido muito melhor se filmássemos em um lixão verdadeiro, mas é um ambiente muito difícil para gravar, havia o risco de higiene. As situações são aterrorizantes para quem vive nesses locais e é perigoso

Stephen Daldry, diretor de "Trash
"Trash" é adaptado do livro de Andy Mulligan e roteirizado por Richard Curtis (que fez "Cavalo de Guerra", "Quatro Casamentos e Um Funeral" e "Um Lugar Chamado Notting Hill"). O longa é um thriller contemporâneo que acompanha três meninos, Raphael, Gardo e Rato, que vivem num lixão. 
 
"Escolhemos o Rio porque já temos uma relação estabelecida com Fernando Meirelles. Foram muitas razões práticas, mas também por motivos pessoais", garantiu o diretor em conversa com os jornalistas nesta terça-feira (17).
 
"Teria sido muito melhor se filmássemos em um lixão verdadeiro, mas é um ambiente muito difícil para gravar, havia o risco de higiene. As situações são aterrorizantes para quem vive nesses locais e é perigoso. Então tivemos que construir nosso próprio lixo. Para mim, parece um verdadeiro lixão", comentou Daldry que está a frente do projeto desde 2010 e que se mudou para o Rio há seis meses com sua família.
 
Brasileiros, Martin Sheen e Rooney Mara
Quase todo o longa é falado em português. Martin Sheen ("Apocalypse Now", "O Espetacular Homem Aranha" e "Prenda-me se for Capaz") será o Pastor Juilliard --que dialogará em português com outros personagens--, e Rooney Mara ("Terapia de Risco", "Millenium – Os Homens que não amavam as Mulheres", "A Rede Social") fará o papel de uma jovem trabalhadora de uma ONG, Olivia. Os dois são os únicos atores estrangeiros.
 
O elenco, com 62 atores, inclui nomes como Wagner Moura, Selton Mello, Nelson Xavier, André Ramiro e Stepan Nercessian. O diretor também buscou três adolescentes não atores para interpretarem Raphael, Gardo e Rato.
 

“Não é filme de favela”, diz roteirista

Divulgação
O roteirista Felipe Braga foi responsável por traduzir e adaptar o roteiro de Richard Curtis (“Cavalo de Guerra”, “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Um Lugar Chamado Notting Hill”) com os toques brasileiros. Ele brinca que trouxe o roteiro para o “carioquês” e citou casos ou situações que às vezes os estrangeiros não compreendem, como o papel das policiais. “Passei dois meses tendo que explicar o que cada uma das polícias faz, a civil, a militar e a guarda municipal”, contou. Braga diz ainda que “Trash” não é um filme de favela e garante que foge do clichê dos morros cariocas e não quer reproduzir a imagem criada por “Cidade de Deus” ou “Tropa de Elite”.

“Eu falo português fluentemente”, brincou Daldry ao comentar sobre a experiência de filmar no Brasil. “Ainda não terminamos, estamos no meio do caminho. Até agora tudo vai bem, estamos com uma equipe maravilhosa. Temos grandes atores brasileiros que tivemos a sorte de trabalhar”, disse.
 
Para acompanhar as falas dos atores, um intérprete traduz em tempo real para o seu rádio todos diálogos de cada cena que está sendo filmada.
 
Lixão e chorume cenográficos
É em um terreno de 4.000 metros quadrados localizado em Covanca, um sub-bairro de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, onde está localizada a principal locação do filme, um lixão, construído ao longo de três meses com mais de 2 mil metros cúbicos de material reciclável em parceria com uma cooperativa de catadores. As filmagens, que começaram no dia 29 de julho, devem ser concluídas em 9 de outubro.
 
“O lixão ainda tem direito a chorume cenográfico, uma tinta preta para tingir madeira e dar um aspecto de gororoba. O difícil é atrair os urubus, pois não há carniça ou pedaços de animais mortos no lixo”, comenta o diretor de arte Tulé Peake, responsável por cenários de filmes como “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus” e “Ensaio sobre a Cegueira”.
 
Na busca pela locação, a equipe percorreu o estado do Rio durante seis semanas, com visitas ao Jardim Gramacho e lixões clandestinos para se inspirar no cenário, além de trocar informações com a produção da novela da Globo “Avenida Brasil” de João Emanuel Carneiro.
 
Além do lixão cenográfico, foram filmadas cenas no morro do Vidigal, na favela Tavares Bastos, nas ruas do bairro Catumbi e na Central do Brasil.
 
Sem dar cifras, o produtor Kris Thykier admitiu que o orçamento de “Trash” é consideravelmente alto se comparado a uma produção brasileira. “É um filme que esperamos ser internacional mas estamos interessados no mercado brasileiro. Queríamos que fosse autêntico e não apenas de uns gringos”, ressaltou.
 
Com previsão para estrear no segundo semestre de 2014, a produção de “Trash” já pensa em fazer o lançamento mundial aqui no Brasil.