"Os estúdios subestimam inteligência do público", diz diretor de "Preciosa"
Você não começa a fazer um filme para ganhar um Oscar. É o que acredita o norte-americano Lee Daniels, diretor de "Preciosa - Uma História de Esperança" (2009), "Obsessão" --que estreia nesta sexta-feira (4) no Brasil-- e do filme apontado como um dos favoritos ao Oscar 2014, "O Mordomo da Casa Branca". E é para divulgar este último, que estreia no país no dia 1º de novembro, que Daniels está no Rio de Janeiro, onde participou nesta quinta-feira (3) do Festival de Cinema do Rio.
Drama épico sobre o mordomo Cecil Gaines (vivido por Forest Whitaker) que trabalhou na Casa Branca durante sete mandatos presidenciais, entre 1957 e 1986, o filme foi lançado nos Estados Unidos no dia 16 de agosto e já rendeu US$ 130 milhões de bilheteria. "Fui perguntado tanto sobre o Oscar e eu sempre digo que aprendi com 'A Última Ceia' (2001), quando falaram que seria indicado [a melhor filme] e não levou nada. Fiquei chateado. Aprendi a não ter expectativas para não me frustrar. Você não começa a fazer um filme para ganhar um Oscar. Se já começa pensando assim, terá problemas", disse Daniels ao UOL.
Todos os grandes estúdios falaram que este filme nunca iria acontecer, que nunca ninguém iria ver o filme-- quando te dizem isso, você acredita. Eles são deuses, sabem de tudo. Os estúdios e a mídia subestimam a inteligência do público
Com um elenco de peso como Oprah Winfrey que vive a esposa de Cecil Gaines e uma lista de atores para viver os presidentes americanos, como Robin Williams (Dwight Eisenhower), James Marsden (John Kennedy), Liev Schreiber (Lyndon Johnson), John Cusack (Richard Nixon) e Alan Rickman (Ronald Reagan), o longa teve um orçamento considerado baixo para os padrões de Hollywood: US$ 20 milhões.
"Não fazia ideia [de que teria tanta repercussão]. Quando todo mundo te diz 'não', desde [os estúdios] Warner Brothers, Paramount, Columbia, Sony e Disney --todos os grandes estúdios falaram que este filme nunca iria acontecer, que nunca ninguém iria ver o filme-- quando te dizem isso, você acredita. Eles são deuses, sabem de tudo", falou. "Os estúdios e a mídia subestimam a inteligência do público. Eu devia ter aprendido já em 'Preciosa' (2009), porque disseram a mesma coisa. Eu tenho que ouvir meu coração".
Para além de um possível Oscar, Daniels garantiu que o maior reconhecimento que pode ter é ouvir do próprio público que o filme comoveu. "Meus prêmios, para mim, são o fato de as pessoas se comoverem e me agradecerem por ter feito. Meus parentes vieram até mim para agradecer por ter contado a nossa história. Não há um prêmio melhor que este. É o mais profundo e humilde que você pode receber".
Morrer por uma causa
"O Mordomo da Casa Branca" é inspirado em um artigo publicado em 2008 no jornal "Washington Post", que contava a vida do mordomo da Casa Branca Eugene Allen. "A produtora de 'Homem-Aranha' e 'Uma Linda Mulher' [Laura Ziskin, que morreu em 2011] me procurou, disse que estava entre eu e o Steven Spielberg, e graças a Deus Steven disse 'não'", brincou.
Daniels conta que o maior desejo era realizar o filme como uma forma de homenagear sua família que vivenciou a luta pelos direitos civis no país. "Eu queria fazer pela a minha família. Tenho tantos parentes que participaram e apanharam por causa disso. Não sei se eu poderia viver isso, se seria homem suficiente para morrer por uma causa. Eu poderia morrer pelos meus filhos, mas não pelo direito de votar", discutiu.
Quando estava na faculdade, minha mãe me perguntou se eu já havia votado. Eu disse 'não, eu tenho provas para fazer'. E ela perguntou: 'Você sabe quantos parentes seus morreram para que você pudesse votar?'. Ela não falou comigo por seis meses", lembrou.
Para Daniels, o cinema pode ser uma ferramenta para levantar questões sociais, mas disse que não se considera um ativista. "Não me vejo assim. Sou negro e não sabia de muita coisa sobre o movimento pelos direitos civis, porque não somos ensinados na escola. Ensinam mais sobre o holocausto do que sobre o que aconteceu com os afroamericanos. É importante que não esqueçamos", defendeu.
Baseados em fatos reais
Daniels garantiu que a trajetória do mordomo Cecil Gaines foi mantida no filme. "Optei por algumas liberdades, ele [o mordomo real] não tinha um segundo filho, a sua esposa não era alcoólatra e tampouco tinha um caso com um amante. Mas todo o resto é fiel historicamente".
O filme foi rodado em 40 adias em um processo de filmagem "muito difícil". "Foi a coisa mais difícil para mim contar a história dos Estados Unidos dos anos 20 até a eleição de Barack Obama. Não tínhamos nenhum dinheiro, ninguém tinha sido pago, os atores davam a sua alma, seu espírito, seu coração, e tudo de graça. Foi desafiador".
A escolha do elenco também foi a dedo. Para ele, os atores que trabalharam no filme são verdadeiros ativistas políticos. "Não são apenas atores, eles fazem declarações políticas como Jane Fonda, Vanessa Redgrave e John Cusack. Eles falam pelo que acreditam ser certo ou errado no país".
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