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"Todo negro queria ser o Pelé", diz Seu Jorge, pai do atleta em filme

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

22/11/2013 18h24

O mês era junho e o ano, 1970. O Brasil tinha acabado de conquistar sua terceira Copa do Mundo e a seleção que tinha Pelé faria um desfile em um carro dos Bombeiros pelas ruas do Rio de Janeiro. Seu Jorge, que ainda era Jorge Mário da Silva, tinha apenas alguns dias de vida, mas estava lá, no colo da mãe, à espera dos atletas. "Ela achava que, se o Pelé acenasse para mim, eu iria herdar alguma coisa dele", disse o ator e cantor, que interpreta o pai de Pelé, Dondinho, na cinebiografia do jogador que deve chegar às telas semanas antes da Copa de 2014.

O filme, escrito e dirigido pelos irmãos Michael e Jeff Zimbalist, contará a trajetória de Pelé saindo da pobreza para conduzir o Brasil ao título da Copa do Mundo de 1958, na primeira das cinco conquistas da Seleção. Mas na história de Seu Jorge, o aceno esperado pela mãe dele não saiu como planejado. Quando o carro de bombeiros se aproximava do local onde ela estava, Pelé resolveu acenar para a multidão do lado oposto da avenida. "Minha mãe odeia o Pelé e eu já contei isso para ele", brincou o cantor em entrevista ao UOL.

A decepção da mãe de Seu Jorge ao não receber um aceno é facilmente compreendida quando o ator explica o que significava ser "abençoado" pelo ídolo. "Minha mãe, uma mulher já vivida, sabia das dificuldades que eu enfrentaria por ser negro e pobre", disse o cantor, criado em Belford Roxo, no Rio de Janeiro. "Ser como o Pelé era a chance de sofrer pouco ou quase nada. Todo negro queria ser o Pelé".

A mãe de Seu Jorge sonhava em ver o filho marcando muitos gols, mas o mesmo não aconteceu com Pelé. A mãe do craque (interpretada no filme por Marianna Nunes) era mais resistente à ideia de ter um filho jogador. Isso porque ser atleta na década de 1950 era muito mais arriscado do que nos dias de hoje. "Sofrer uma lesão daquela época poderia significar o fim da carreira".

Seu Dondinho, papel de Seu Jorge, dava apoio incondicional ao filho, mesmo tendo sofrido uma séria lesão também por causa do futebol. "Era um pai muito amigo. Ele realmente acreditava que o filho poderia ser responsável por levar a identidade do Brasil pro mundo". Pelé será vivido por dois garotos iniciantes: Kevin de Paula, que fará o jogador entre os 13 e os 17 anos, e Leonardo Lima Carvalho, que será Pelé aos dez anos.

Vida de ator
Morando atualmente em Los Angeles, o artista está no Brasil há três meses para as filmagens do longa e outros compromissos profissionais, que inclui a gravação de um clipe para uma campanha publicitária que será dirigido por Spike Lee. Morar nos Estados Unidos há quase um ano certamente ajudou o artista no filme, que será inteiramente falado inglês, mas Seu Jorge garante que não foi fácil. "Tranquilo não é, mas a gente falou. O ator falá até chinês se precisar", brincou.

Estão no elenco também Vicent D'Onofrio (de "Nascido para Matar"), como o técnico brasileiro Vicente Feola, e o mexicano Diego Boneta, que fará José, rival do jogador e responsável por dar a ele o apelido de Pelé, quando eram crianças.

O papel de Rodrigo Santoro, que também é um dos produtores do filme, continua um mistério, e Seu Jorge não quis desvendá-lo. "Se Santoro participou do filme eu já não sei". O cantor, no entanto, despista falando sobre a importância do filme. "Pelé merecia uma história contada com essa visão romântica que Hollywood proporciona".