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Ameaçadas, locadoras de filmes em SP diversificam serviços para sobreviver

A Cine Pizza, que une cinema ao tradicional prato italiano, hoje depende das massas para não fechar Imagem: Rodrigo Capote/UOL

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

28/11/2013 06h00

Elas já dominaram o mundo e hoje estão ameaçadas de extinção. Em crise há pelo menos seis anos, as locadoras de filmes lutam para sobreviver. Global, a crise atingiu com força até a ex-gigante rede Blockbuster, que no início deste mês fechou sua última loja nos Estados Unidos. Para enfrentar o momento, o pior em três décadas, empresários e lojistas da capital paulista vêm adotando uma estratégia comum: diversificar seus produtos e serviços.

O desafio é o mesmo para todos. Concorrer com a internet e seu farto cardápio de downloads (legais ou não), DVDs piratas e serviços de streaming como o Netflix, além do acesso cada vez mais facilitado da TV por assinatura.

Uma das mais tradicionais locadoras de São Paulo, a Space Video completou 30 anos em 2013 mudando o nome para Space Loja. A ideia é tirar o foco do universo cinematográfico.

"Acho que o serviço de locação vai ficar tão pequeno que não sei se vai continuar valendo a pena viver disso", vislumbra Carlos Mota, dono da Space Loja. "Já não estamos mais encarando como uma fase, como há alguns anos, mas como uma crise", diz ao UOL o auxiliar administrativo Léo Mota, filho de Carlos.

A projeção pessimista é perceptível logo ao entrar na loja. Os filmes expostos para locação ocupam pouco mais da metade do espaço. O restante é preenchido com itens de alimentação e brinquedos à venda, que correspondem a 35% do faturamento da loja.

Se em 2005 mais de 3.500 filmes eram locados em um final de semana considerado bom para o negócio, hoje esse número chega a pouco mais de mil.

Segundo lojistas, o segmento viveu seu auge na metade dos anos 2000, após a consolidação do DVD. Para especialistas em mercado, dificilmente ele resistirá aos próximos cinco anos.

De acordo com o sindicato paulista de videolocadoras, existiam 1.830 lojas no Estado em 2011, menos da metade das que havia em 2006. A expectativa é que esse número caia ainda 30% na próxima pesquisa, que está sendo feita este ano.

"Estamos passando por um momento complicado, mas não acredito que o mercado acabe. Apenas ficará menor. As lojas de CDs não acabaram. Vivemos uma reestruturação com a expansão do mercado de TVs pagas e locações on line", afirma o presidente do sindicato, Luciano Damiani.

Ainda mais pessimistas que seu representante, os lojistas fazem de tudo para garantir sobrevida: de promoções cada vez mais recorrentes, passando por novos produtos e serviços e até mesmo a produção de eventos relacionados ao cinema. Tudo para fugir de uma ameaça que recai não apenas sobre as lojas de bairro de pequeno porte.

"Está havendo uma mudança no comportamento dos consumidores", diz a empresária Sonia Abreu, dona da 2001, que possui seis lojas na cidade de São Paulo e acervo de mais de 20 mil títulos. De olho no consumidor que baixa filmes na internet e assina serviços como o Netflix, a rede aderiu em outubro ao sistema delivery.

A inspiração vem, em parte, de locadoras como a NetMovies, Pipoca Online e Movie To Go, que já nasceram na internet, sem lojas físicas, e hoje fazem sucesso com um novo tipo de demanda. “O cliente pode ficar o tempo que quiser com o filme e fazer as trocas quando preferir, sem sair de casa”, diz Gustavo Haramura, diretor da NetMovies, pioneira no formato e que hoje chega a fazer mais de 5.000 entregas por semana.

A criatividade envolvendo novos serviços passa até por uma combinação curiosa. Unindo pizza e cinema, a proposta da Cine Pizza, fundada em 1997, foi uma forma de driblar a primeira grande crise do setor, que na época viu a antes incipiente TV por assinatura engolir parte de sua clientela. 

Hoje, com a internet banda larga, o cenário se repete, mas com ainda mais força. Cerca de 70% do faturamento da loja sediada no bairro Perdizes vem das massas. Para levar um filme de graça, basta pedir uma pizza no balcão.

"A realidade é muito pior do que já foi. Não sei se as lojas físicas serão extintas, mas o prognóstico é pessimista. Se dá para assinar um serviço em casa ou mesmo baixar até de graça o filme, por que ir à locadora?", questiona Adriana Aguiar, dona da Cine Pizza.

"Vantagens físicas"

Embora nadem contra uma corrente aparentemente irreversível, ainda há quem resista à praticidade da web e da TV por assinatura para assistir aos seus filmes.

É o caso da psicóloga Flávia Serson, 49, que jamais aderiu aos serviços de streaming nem perdeu o hábito de frequentar locadoras. E os motivos emocionais vencem a razão. "Gosto do atendimento mais pessoal. Eles recomendam o filme, já sabem um pouco do meu gosto. Para mim, facilita muito para gostar do filme e não desperdiçar meu dinheiro", disse ela, afirmando que sentirá muita falta caso um dia as lojas desapareçam.

As questões relacionadas ao bolso também levaram a dona de casa Cida Badlone, 45, a não abandonar suas idas às locadoras. Mãe de dois filhos loucos por cinema, ela disse que o grande atrativo ainda é o preço. Basta pesquisar e escolher bem a locadora. "A gente já aluga filmes pela TV a cabo, e lá o preço é R$ 9,90. Aqui na locadora o DVD é R$ 5. Então ainda vale a pena sair de casa".

"Já assisti filme pelo Netflix na casa de amigas, mas, como minha internet não é tão rápida, o filme acaba travando. Gosto do ritual de escolher pessoalmente os clássicos e, depois, sentar no sofá da minha casa e relaxar", disse a assessora de imprensa Renata Peireita, 26. Os lançamentos e a qualidade de som e imagem, nem sempre tão perfeitos, também são motivos para alugar à moda antiga. "Às vezes quero ver os filmes do Oscar, e na locadora ainda é o melhor lugar para encontrá-los."

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