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Comédia de Joseph Gordon-Levitt faz caricatura do homem da geração Porntube

Gabriel Mestieri

Do UOL, em São Paulo

05/12/2013 18h53

Don Jon pode ter a mulher que quiser. Sucesso nas pistas, ele raramente leva um fora e, antes de se aproximar das garotas, ainda dá uma nota a elas em conversas com amigos. Mas o sexo, para ele, é chato. O que o personagem de Joseph Gordon-Levitt em "Como Não Perder Essa Mulher" gosta mesmo é de se masturbar assistindo a filmes pornográficos.

Em sua estreia na direção de um longa, Gordon-Levitt (o Blake de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge") aposta em personagens caricatos para criar o caldo do qual sairão as piadas do filme. Católico e descendente de italianos, Don Jon revela logo no início do filme, com sotaque puxado, suas paixões: a pornografia, a família, o carro, os amigos e seu corpo --que mantém em forma malhando ao mesmo tempo em que reza os Pais Nossos e Ave Marias que precisa pagar como penitência devido ao excesso de masturbação.

Numa balada, Jon conhece Barbara (Scarlett Johansson), beldade pela qual logo se interessa, mas que, antes de levar para casa, precisa levar ao cinema e para conhecer sua família. Enquanto Jon tira as expectativas para a vida real dos filmes pornôgráficos, com Barbara a influência vem de filmes água-com-açúcar hollywoodianos, o que acaba resultando numa pessoa careta, controladora e chata --ainda dentro das escolhas de personagens caricatos de Gordon-Levitt.

Não demora muito até que a diferença de visões e expectativas sobre o mundo resulte num conflito, e é aí que entra em cena Esther (Julianne Moore). Mais sábia, experiente e sem a pretensão de mandar em Jon, ela logo vê, sem julgamentos, de onde vem a obsessão de Jon pela pornografia. Para uma geração que cresceu assistindo a vídeos do Porntube e jogando videogame online, aprender a se relacionar de fato com outra pessoa, seja na cama ou na vida, pode ser algo bem desafiador.

Se, para um filme "sério", personagens que parecem caricaturas podem não cumprir bem o papel por ficarem apenas na superfície das questões, na comédia de Gordon-Levitt a escolha por figuras de falas e atitudes exageradas funciona. 

Além disso, o diretor estreante, que já deu demonstrações de ser bom ator tanto em trabalhos menos conhecidos, como "Mistérios da Carne" (2004), como em em superproduções, como "500 Dias Com Ela" (2009), demonstra que também tem habilidade com linguagem cinematográfica. O longa tem um ritmo rápido e, em alguns momentos, de repetição, que funciona bem para o humor.

Do mesmo modo que, após ouvir o barulho do computador sendo iniciado, o espectador já sabe que Jon vai se masturbar, também é possível descobrir que, após chegar à academia, Jon vai malhar sozinho enquanto reza. Essas cenas se repetem várias vezes, mas sempre com pequenas modificações que introduzem algo novo à trama. O roteiro, também assinado pelo ator, é bem amarrado, ainda que simples.

A família de Jon também contribui bem para o clima cômico: o pai (interpretado por Tony Danza), com sotaque italiano ainda mais carregado que o do filho, também é bombado e se irrita com quem passa na frente da TV enquanto assiste a partidas de futebol americano.

Já a irmã de Jon (Brie Larson) passa o filme inteiro sem dizer uma única palavra --profundamente entediada com a gritaria na casa, ela apenas olha para seu celular. Até que abre boca para dizer algo que era óbvio, mas que todos pareciam ignorar.

Sem a pretensão de demonstrar alguma teoria sobre os malefícios ou benefícios da pornografia na sociedade contemporânea, "Como Não Perder Essa Mulher" consegue abordar a questão de maneira sensível e bem-humorada, além de tocar em outros temas, como o individualismo e a necessidade que as pessoas sentem de tentar controlar umas as outras.