No Brasil, diretor de "Beavis and Butt-Head" fala sobre humor e animação
O estilo menos sóbrio e a vasta sequência de piadas em suas falas não deixam dúvidas de que o norte-americano Mike de Seve gosta de animar. E tem competência para isso: ele ficou seis anos à frente da direção do polêmico e divertido seriado "Beavis and Butt-Head", além de ter participado da criação de filmes como "Shrek" e "Madagascar", superproduções do cinema mundial.
Pela primeira vez no Brasil, onde realizou a masterclass "Escrevendo Para Animação", no MIS (Museu da Imagem e Som) de São Paulo, ele falou sobre a elaboração de roteiros e a direção de desenhos animados. Além disso, revelou segredos de sua experiência como animador.
"As ideias de um roteiro surgem de várias coisas, entre elas de nossas experiências pessoais. No caso de animação, temos que adicionar humor e emoção. O humor pode funcionar de diversas formas, entre elas adicionando contrastes". E funciona mesmo: ele exibiu um vídeo da série "Beavis e Butt-Head"; na cena, uma voz sexy ao telefone se transforma na sequência em uma mulher bem feia, arrancando risos da plateia. "Perceber o momento certo para se aplicar o contraste e chocar o público é essencial", completa.
Durante a palestra, o roteirista disse que é importante que o trabalho seja divertido. Ele também afirmou que a criatividade é determinante para o sucesso de uma produção. "Se uma equipe tem dez ideias, então ela poderá vender todas as ideias e terá mais chance de ter alguma escolhida. Do contrário, aqueles que se concentram em uma coisa só podem se dar mal".
Você conhece algo de animação brasileira?
Mike de Seve - Infelizmente não. Nos Estados Unidos não temos fácil acesso aos programas da televisão brasileira. Eu realmente espero que isso mude em breve. Certamente, os autores brasileiros são bem talentosos e seria um prazer ver mais de seu trabalho.
Qual a diferença de trabalhar em desenhos animados para a TV e grandes produções do cinema?
Na televisão você tem um lado positivo: dá para contar mais histórias em um período longo, como em um ano por exemplo. Desse ponto de vista, a TV traz uma gratificação mais rápida. Além disso, se o programa é um sucesso, você pode cozinhar as ideias e deixá-las por mais tempo em contato com o público. Por outro lado, um filme como "Madagascar" tem um formato fechado que é reformulado várias vezes durante quase quatro anos de produção.
Um dos motivos de sua vinda ao Brasil é para explicar o conceito do punch-up...
Bem, um bom punch-up é quando você diz exatamente a mesma coisa que estava no roteiro, mas faz isso de uma maneira muito mais divertida. É encontrar um ponto no diálogo dos personagens que dê para encaixar outra forma de dizer aquilo de maneira mais engraçada. E isso deve ser pensado, tem que combinar com o personagem que está dizendo o trecho cômico. Se todos os personagens de um programa, por exemplo, ficarem disparando piadas o tempo todo, corre-se o risco de perder a credibilidade.
Dá para errar a medida de um diálogo punch-up?
Sim. Entenda que cada personagem pode dizer coisas ridículas, desde que sejam coisas que se identificam com aquela figura. Outro exemplo de punch-up ruim é quando o escritor mexe na história por causa da piada. A história deve reinar absoluta, e não o contrário.
De onde veio o seu interesse em trabalhar com animação?
Eu acho que me esqueci de crescer. Na verdade, eu tentei crescer e tenho o meu diploma em economia e relações do trabalho. Mas um dia eu literalmente joguei os meus livros da faculdade na rua, comprei uma passagem de ônibus para Nova York e decidi que prefiro fazer as pessoas rirem do que negociar contratos.
E a Baboon Animation, o estúdio de animação que você fundou?
Eu considero meu estúdio um coletivo de alguns dos maiores escritores que já trabalharam com roteiros nos EUA. Somos mais fortes juntos do que separados. Clientes de outros países nos ligam porque juntos somos uma equipe vencedora de 22 prêmios Emmy. Mas não é com os prêmios que criamos um bom desenho, é com nossa habilidade. Trabalhamos com pessoas realmente talentosas e engraçadas.
Como você vê a participação de adultos como consumidores de animação? É fácil fazer uma animação para as crianças com algumas piadas para adultos?
Em nosso estúdio, nós sempre tentamos escrever coisas que sejam engraçadas ou emocionantes para nós mesmos. Claro que você precisa manter uma espécie de censura para o conteúdo infantil, mas, em alguns casos, o conteúdo é mais juvenil, então o que nos faz rir pode funcionar em faixas etárias diferentes. O segredo é manter a idade de seu público em algum lugar em seu cérebro e isso geralmente funciona. Com crianças da idade pré-escolar é mais difícil trabalhar. Eu sempre me pergunto se minha filha de três anos vai rir se ela vir uma cena. Ela é uma das editoras mais difíceis que já tive.
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