"Confissões de Adolescente" joga fora o pudor, mas não aprofunda polêmicas
Nos anos 1990, um seriado inaugurou uma espécie de cartilha adolescente na televisão. Dando a real como nenhum outro antes, “Confissões de Adolescente” ignorou velhos tabus --como relacionamento, sexo e drogas-- e mudou a forma como o jovem é retratado no Brasil.
Exatos 20 anos depois, as quatro irmãs cariocas de classe média reaparecem nesta sexta-feira (10), agora na forma de um filme. Leve e cômico, o longa peca ao explorar de forma rasa --talvez deliberadamente-- as neuras antes inspiradas nos diários da atriz Maria Mariana, que renderam um livro, uma peça e, posteriormente, a própria série.
Menstruação, perda da virgindade, popularidade na escola, bullying e outros temas que são a cara da série, são explorados sem censura, mas com pouca preocupação em explicitar causas ou mostrar suas últimas e reais consequências.
Com roteiro de Matheus Souza, de 25 anos, o filme de Daniel Filho e Cris d’Amato dança sobre o velho e o novo. Ao mesmo tempo em que mantém a aura e estrutura familiar do seriado, com “participações afetivas” das atrizes originais, aposta nas redes sociais como ponto de partida para as confissões, além de alterar nomes e parte da personalidade das protagonistas.
A exemplo da personagem vivida por Maria Mariana, Tina (Sophia Abrahão) é a mais velha, no primeiro ano da faculdade de direito, e vive uma crise com o companheiro de longa data. Bianca (Isabella Carneiro), a irmã “doidinha”, esconde gostar de meninas e não faz ideia de que carreira irá seguir. Alice (Malu Rodrigues), doce, está prestes a perder a virgindade ao lado do namorado. Já Karina (Clara Tiezzi), a caçula, é viciada em tecnologia e acaba de ter a primeira menstruação.
Com exceção do drama sexual de Alice, nenhuma trama é levada mais adiante, muito em função da escolha pelos vários núcleos. O de Bianca, por exemplo, toma vida própria após sua amiga Juliana (Olivia Torres) começar a ser vítima de bullying da patricinha e popular Talita (Tammy di Calafiori).
Fora o apelo (nem tão frequente assim) ao Facebook, a principal diferença do filme em relação à série está nas subtramas, que podem ser vistas como histórias quase isoladas. O fiel companheirismo entre as irmãs, marca da série, só aparece na relação entre Tina e Alice, estreitada abruptamente por um sério imprevisto.
O próprio (suposto) mote da história, a decisão de economizar nas despesas para o pai poder bancar o aluguel do apartamento, que serviria para estreitar laços, é pouquíssimo explorado no longa, que prefere dar espaço para o brilho humorístico de figuras periféricas.
Pedro (Bruno Jablonski), amigo do filho de Deborah Secco, rende as mais hilariantes passagens de “Confissões Adolescente”, dando dicas pra lá de inusitadas a Felipe (João Fernandes), que quer conquistar Clara. A própria Deborah Secco, em sua pequena participação, é um dos pontos, interpretando uma mãe “sem noção” que confere as datas de validade das camisinhas do filho.
Se “Confissões” falha em não aprofundar as próprias questões que levanta, acerta em jogar fora o pudor, e não apenas nas cenas de nu e sexo. Com bom ritmo --dá a sensação de que funcionaria mesmo com 30 minutos a mais—, o filme é capaz de mergulhar fundo na linguagem jovem e na complexa fauna do ambiente escolar, sem ser caricato. O que dá vazão, para todas as idades, à boa medida do sentimento universal que é ser adolescente.
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