Mesmo com cenas de sexo frias, "Ninfomaníaca" atiça curiosidade do público
O ano mal começou, mas “Ninfomaníaca” leva todo o jeito de ser um dos filmes mais comentados de 2014. A começar pelo título: como as pornochanchadas brasileiras dos anos 70 deixaram escapar um título desses? A história de uma mulher viciada em sexo, que estreia nesta sexta (10), atiça a curiosidade de 99% das pessoas, homens ou mulheres.
Some-se a isso a grife Lars Von Trier, o homem que torturou Bjork em “Dançando no Escuro”, filmou Nicole Kidman sendo estuprada num caminhão de maçãs em “Dogville” e filmou até uma cena de mutilação genital em “Anticristo”.
Mas “Ninfomaníaca” pode sofrer do que os filmes anteriores não sofreram: do excesso de expectativa. Foi tanto marketing, tanto teaser divulgado na internet, um pôster espertíssimo com todos os atores com cara de orgasmo – mesmo aqueles que não fazem sexo no filme – que pode se esperar uma grande obra-prima. E é aí que a coisa entorta.
As cenas de sexo são tão frias e calculadas que não chocam nem provocam nenhum tipo de impacto emocional – ficam quase no nível do pornô soft. Tão calculadas que na primeira transa de Joe, ela conta oito penetrações de seu amante (Shia LaBeouf) e a contagem (1,2,3...) aparece na tela. Numa outra cena, ela descreve um amante como tendo um andar de leopardo – e lá entra o leopardo para ilustrar o que ela está falando. Alguns críticos alegam que a intenção do diretor é justamente frustrar o espectador – mas com que sentido?
Logo no início, Joe é resgatada por um pescador (Stellan Skarsgard) que a acolhe enquanto ouve sua história. Enquanto ela conta como atraía os homens, ele compara o ato de seduzir o homem com a captura de um peixe na pesca. Tudo muito banal.
Mas, como Von Trier não é bobo, sempre há lampejos de inteligência e de esperança. Esta é apenas uma primeira parte, e com cortes – em março veremos a segunda, e depois ainda uma versão integral sem cortes que promete honrar os boatos de que se trata de um filme realmente pornográfico.
E há sempre essa relação fascinante entre sexo e culpa presente em quase todos os seus filmes – como na belíssima cena em que Uma Thurman leva os filhos para conhecer a cama na qual o pai deles está transando com a amante – e entre sexo e morte – na relação de Joe com o pai (Christian Slater) em estado terminal; sem saber como lidar com a morte, ela reage (como sempre) com um sexo doentio.
Em termos de dramaturgia, é muito menos do que “Dogville” ou “Melancolia” ofereciam. Em termos de polêmica e curiosidade, porém, “Ninfomaníaca” já é o filme do ano.
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