"'Alabama Monroe' explica necessidade da religião na vida", diz diretor
Indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção belga "Alabama Monroe" toca numa questão delicada ao mostrar reações distintas de um pai e uma mãe ao diagnóstico de câncer terminal da filha. Enquanto o pai, ateu, considera que a morte é o fim, a mãe se apoia em crenças no sobrenatural para enfrentar a situação.
Para o diretor Felix Van Groeningen, que adaptou para as telas uma peça teatral de Johan Heldenbergh, que também é o protagonista do longa, é essa dicotomia que "faz a história ser tão bela". "O filme não questiona a religião, ou questiona um pouquinho, mas também explica porque as pessoas precisam dela", afirmou, em entrevista por telefone ao UOL.
No filme, o personagem de Heldenbergh, um músico tocador de banjo, faz um caloroso discurso criticando o fato de o lobby de religiosos nos Estados Unidos impedir o avanço de pesquisas com células-tronco. Ele é duramente repreendido pela mulher, a tatuadora Elise (Veerle Baetens), que vê na atitude um cerceamento de seu direito de pensar o que quiser.
Van Groeningen conta que teve vontade de adaptar a peça de Heldenbergh, com quem já havia trabalhado em seu filme anterior, "Os Infelizes" (2009), assim que a viu. "Comecei a chorar 20 minutos após a peça começar e fiquei totalmente arrasado, de um jeito que nunca havia ficado antes", diz o diretor.
Ele não sabia, entretanto, como transformar a peça --que tinha apenas dois atores e uma banda tocando bluegrass-- em um filme. Ele disse que chegou a desistir, mas seis meses depois ainda estava pensando nisso. "Li o texto da peça, escutei algumas canções no Youtube e comecei a chorar novamente. Então eu disse 'ok, isso é muito bom, não tenho a menor ideia como, mas vou dar um jeito de transformar isso num filme'", afirma.
A solução veio no fato de ampliar o escopo da peça, com novos personagens e menos fidelidade ao texto original. "Percebi que quando você adapta algo, você geralmente começa com um primeiro rascunho muito parecido com o original, que geralmente funciona, mas neste caso não era bom o bastante. Então você tem que achar outro jeito, que muitas vezes pode ser traindo o original, mas você tem que traí-lo para encontrar sua própria lógica", diz.
Reconhecimento
"Alabama Monroe" foi visto por 400 mil pessoas na Bélgica, número bastante expressivo para o país. "Ficamos muito felizes ", afirma. Qual é, então, a importância de uma indicação ao Oscar para um filme que já havia sido sucesso de pública e crítica? "Acho que é a cereja do bolo", afirmou Van Groeningen, que disse ainda que, caso o filme não fosse indicado, "ficaria triste por um dia ou dois e depois começaria a trabalhar no meu próximo filme".
Ele diz também que o bluegrass, estilo tradicional e popular norte-americano que tem suas origens no country, começou a fazer sucesso na Bélgica após o filme. "Havia quatro ou cinco bandas, que tocavam por diversão, ensaiando nos finais de semana e fazendo uns cinco shows por ano. Havia mais gente no palco do que assistindo esses show", brinca. Após o filme, conta, a banda que toca as músicas no longa começou uma turnê e seus CDs estão vendendo "como água". Heldenbergh, por sinal, aprendeu a tocar banjo ao viver o personagem.
Aviso: O trecho abaixo da entrevista revela spoilers da trama do filme
Dor
Para Van Groeningen, os acontecimentos passados após a morte da garota no filme demonstram que a "dor pela perda de alguém não pode ser compartilhada". "É algo que vivi recentemente, mas que também é um fato: 70% dos casais que perdem um filho se separam", afirma.
"A dor pela perda é uma coisa muito pessoal. Você pode confortar a pessoa uma vez, duas vezes, mas chega um momento em que não há mais como ajudar", diz. "O homem também, em algum momento, ficará preocupado em, além de perder o filho, perder a mulher. Então o que acontece e que colocamos no filme, é que o homem parece superar antes, mas na verdade ele apenas está consolando a mulher ao máximo com medo de perdê-la", completa.
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