Depois de "Amores Roubados", Irandhir Santos segue em evidência no cinema
Principal rosto do novo cinema nacional, Irandhir Santos entrou em 2014 com o pé direito. Depois de se despedir do malvado João, afilhado do poderoso Jaime (Murilo Benicio) na minissérie da Globo "Amores Roubados", ele será visto no inédito "A História da Eternidade", primeiro longa de Camilo Cavalcanti e que foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cinema de Roterdã, na Holanda, que começou na quarta-feira (22) e segue até 2 de fevereiro.
Irandhir na TV
Irandhir vive um momento novo. Em Petrolina (PE), o ator contou ter percebido de forma mais contundente o peso da fama. "Um taxista acenou para mim e eu acenei de volta, pensando que o conhecia, mas depois descobri que era por causa de 'Amores Roubados', que estava passando". Paralelo ao cinema, o ator pernambucano já se prepara para voltar em abril à telinha da Globo, desta vez na faixa das seis, no elenco de "Meu Pedacinho de Chão", com direção de Luiz Fernando Carvalho. Com tamanho reduzido --menos de cem capítulos, no total-- e corte mais experimental, a novela vai abordar temas como reforma agrária em formato de fábulas. Primeiro texto de Benedito Ruy Barbosa, da década de 1960, o roteiro já teve duas tentativas de realização frustradas. Uma na extinta TV Tupi, e outra por veto da censura no período da ditadura militar. Sobre "Amores Roubados", Irandhir esclareceu as razões que o levaram a aceitar o papel. "É inspirada num romance local ['Emparedada da Rua Nove', de Carneiro Vilela], que virou uma lenda na região. É uma coisa muito nossa, que seria exibida nacionalmente". Mas pesou na decisão a fotografia de Walter Carvalho e o convite de José Luiz Villamarim que, segundo ele, "ao lado de Luiz Fernando Carvalho, está mudando a cara da televisão brasileira". |
E o rosto do pernambucano de 35 anos ainda deve continuar em destaque no cinema ao longo do ano, com outros títulos já previstos para estreia. Um detalhe chama a atenção: todos os filmes são assinados por diretores estreantes no formato de longa, com única exceção de "O Circo de Santo Amaro", do paulista Chico Teixeira, o mesmo de "Casa de Alice".
Entre os novos filmes, Irandhir destaca "A Luneta do Tempo", de Alceu Valença. "É um musical feito em rimas, uma adaptação de uma literatura de cordel sobre o encontro entre o diabo e Lampião. Até o disparo das balas é ritmado", contou o ator ao UOL.
A lista inclui ainda "Permanência", de Leonardo Lacca e filmado em São Paulo; "Obra", de Gregório Graziosi; e "Big Jato", novo filme de Claudio Assis ("A Febre do Rato" e "Baixio das Bestas"), inspirado no livro homônimo de Xico Sá. As filmagens começam neste primeiro semestre.
Com menos de uma década trabalhando em cinema, Irandhir Santos é um ator em evidência. Ele se destaca, sobretudo, pela versatilidade, intensidade e entrega às atuações. "Vivo um projeto de cada vez. Tenho uma relação muito forte com os personagens que faço, procuro mergulhar profundamente no processo, e por isso costumo assistir aos filmes uma única vez", revela.
Não à toa, ele já tem 18 longas no currículo e acumula papéis de sucessos, entre eles o deputado Fraga, defensor dos direitos humanos de "Tropa de Elite 2" (maior bilheterias do cinema nacional), de José Padilha, e o vigilante sacana de "O Som ao Redor" (indicado brasileiro ao Oscar 2014), de Kléber Mendonça Filho.
O início no cinema
No começo da carreira como ator, ainda no teatro, Irandhir encarava o cinema como algo intangível. "Tinha vontade de fazer, mas não sabia como. Eu sentia ainda o peso de toda uma cultura de videolocadora, cheia de filmes estrangeiros, que me davam a sensação de que era algo muito distante".
Homenagem ao ator
Na última semana, Irandhir acompanhou no sertão pernambucano uma mostra de filmes em sua homenagem dentro da programação da 7º Festival Vale Curtas, no Vale do São Francisco, em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Além dos curtas "Décimo Segundo" (Leonardo Lacca) e "Azul" (Eric Laurence), foram exibidos os longas "Amigo de Risco" (Daniel Bandeira), "Febre do Rato" (Cláudio Assis), "O Som ao Redor" (Kleber Mendonça Filho) e "Tatuagem" (Hilton Lacerda). |
O desejo de fazer cinema brotou fortemente, segundo ele, depois de assistir ao curta "Soneto do Desmantelo Blue" (1993), com direção de Claudio Assis e roteiro de Hilton Lacerda. O vídeo em preto e branco é inspirado nos poemas do pernambucano Carlos Pena Filho e filmado em Recife. "Ver brotar da tela um filme com cenários conhecidos e um sotaque igual ao meu, me mostrou que era possível fazer".
Irandhir pisou pela primeira vez em um set para uma pequena participação em "Cinemas, Aspirinas e Urubus", de 2005, filme de estreia de Marcelo Gomes. Um ano depois veio o teste de fogo em "Baixio das Bestas". "Foi difícil porque eu estava muito nervoso e Claudio [Assis] detestou minha interpretação. Tive que repetir o teste durante uma semana".
Com a mesma turma, ele protagonizou "Febre do Rato" ao lado de Nanda Costa. O filme rendeu outro prêmio a Irandhir, desta vez em Paulínia, pelo papel principal, uma atuação visceral na pela de um poeta marginal. Em seguida vieram "O Som ao Redor" e "Tatuagem", de Hilton Lacerda, este último em que ele vive um romance homossexual com um jovem interpretado por Jesuíta Barbosa ("Amores Roubados").
O ator relaciona o faro para bons papéis com infância: por causa do trabalho do pai, funcionário de banco, a família mudava-se de cidade a cada dois anos. "Éramos quase nômades". De Barreiros, no litoral de Pernambuco, onde nasceu, ele teve oportunidade de conhecer em pouco tempo muitos lugares. "Foi enriquecedor. Percorremos várias regiões, moramos no litoral, na zona agreste, no sertão", lembra.
Morou em Limoeiro, cidade onde vive hoje sua família, se mudou para Olinda e parou em Recife para cursar artes cênicas, cidade onde mora até hoje. "Fui recebido por uma vida cultural muito intensa, uma noite boêmia cheia de artistas, que foi fundamental para minha formação".
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