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Diretor de "Quando Eu Era Vivo" relembrou experiências espíritas para longa

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Tiradentes (MG)

25/01/2014 18h31

Quando o jovem diretor Marco Dutra, hoje com 34 anos, dirigiu seu primeiro longa-metragem, “Trabalhar Cansa”, o gênero suspense com toques de fantástico ainda causava um certo estranhamento. Depois do sucesso do pernambucano “O Som ao Redor”, é possível que o público esteja mais aberto para aceitar o clima macabro de “Quando Eu Era Vivo”, que estreia na próxima sexta-feira (31), estrelado por Antonio Fagundes, Sandy e Marat Descartes.

“É um gênero que tem tudo para emplacar aqui. O Brasil é um país muito crente, religioso, cheio de tabus e superstições. Só não podemos copiar os filmes americanos, porque aí não vai dar certo. Temos que encontrar as nossas próprias ferramentas pra contar essas histórias”, diz. Marco rodou o filme em apenas três semanas com um pequeno orçamento.

  • Thiago Duran/AgNews

    Sandy posa com Antonio Fagundes e o diretor Marco Dutra, de "Quando Eu Era Vivo"

Para contar a história de Junior, um homem que volta a morar com o pai e começa a desencavar o passado da mãe, uma mulher que flertava com forças ocultas, Marco lembrou dos cultos que sua mãe, espírita da linha mesa branca, fazia em sua própria casa quando era menino. “De vez em quando, baixava um espírito em alguém na mesa, era impressionante. Uma vez, minha prima caiu no chão e ficou meio possuída. Nunca vou esquecer essa cena”. Hoje, o diretor acredita “de certa forma” em espíritos. “Me considero um místico, mas sei o quanto é estranho falar isso”.

Sandy macabra

Uma das suas ousadias foi chamar Sandy para o papel da estudante Bruna. “Mandei o roteiro pra ela, e alguns dias depois nos encontramos. Ela falava da Bruna como se conhecesse o personagem há muito tempo, já estava super envolvida com o projeto mesmo antes de fecharmos contrato”.

Com o filme ainda em edição, Marco foi até Campinas para mostrar uma versão do filme a Sandy, ao marido dela, Lucas Lima, e aos pais, Xororó e Noely. “Foi uma sessão tensa pra mim. Mas ao final, o Lucas amou o filme, o Xororó disse que é o tipo de filme que o prende do começo ao fim. E a Sandy confessou depois que para ela é sempre muito difícil se ver na tela”.

A entrada de Antonio Fagundes foi ainda mais curiosa. Leitor compulsivo – lê cerca de três livros por semana – e fã de histórias de suspense, ele dizia a pessoas próximas que amava a obra de Lourenço Mutarelli, autor do livro que deu origem ao filme, “Como Produzir Efeito Sem Causa”. O produtor do longa, Rodrigo Teixeira, começou a pensar nele para o papel do pai de Junior. Mas foram muitos dias até que conseguissem entrar em contato com ele – por fax. “Os diretores não o convidam muito para filmar porque imaginam que é um ator muito caro. Pelo contrário, ele adora colaborar com projetos independentes”, diz o produtor.

Malas prontas para Berlim

Dono da produtora RT Features, Teixeira lança em março o thriller “Alemão”, de José Eduardo Belmonte, sobre cinco policiais que planejam a invasão do morro do Alemão, no Rio. No elenco estão Caio Blat, Gabriel Braga Nunes e Milhem Cortaz. Fagundes e Cauã Reymond fazem participações.

Produtor do sucesso cult americano “Frances Ha”, ele estreia em fevereiro no Festival de Berlim outra produção americana: o drama gay “Love Is Strange”, dirigido por Ira Sachs (de “Deixe a Luz Acesa”), com Marisa Tomei e John Lithgow no elenco.