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Bridget Fonda trocou glamour por vida simples; relembre os 50 anos da atriz

Roberto Sadovski

Especial para o UOL

27/01/2014 08h53

Bridget Fonda, sobrinha de Jane, filha de Peter, neta de Henry, completa 50 anos. Ela trabalhou em "O Poderoso Chefão III", protagonizou "Mulher Solteira Procura", fez suspense, comédia, ação, drama. Em 2001 disse adeus aos cinema com "Beijo do Dragão", dividindo a cena com Jet Li. No ano seguinte, o filme para a TV Snow Queen marcou sua despedida da profissão. Depois de mais de uma década de carreira, e de tentar carimbar sem sucesso o passaporte para a elite do cinemão, ela deu as costas e sumiu.

Tudo bem que a verdade não é tão dramática quanto os fatos podem sugerir. Herdeira da realeza de Hollywood e com uma carreira sólida, Bridget casou-se com o compositor Danny Elfman e decidiu um novo rumo para sua vida: construir uma família. Assim como sua amiga Phoebe Cates antes dela, que abandonou os holofotes ao casar com Kevin Kline, Bridget não pestanejou em trocar o glamour associado com o trabalho como atriz por uma vida mais simples – ainda que nem de longe esteja desassociada do cinema. Em seu rastro, filmes bacanas, alguns esquecíveis, outros memoráveis, e um sorriso difícil de ser esquecido.

Bridget Fonda deu as caras no cinema pela primeira vez em "Sem Destino", filme com o papai Peter. Mas foi em 1987 que ela recebeu seu primeiro crédito. O filme, Aria, traz dez curtas de dez diretores diferentes, como Robert Altman a Ken Russell e Nicolas Roeg, e concorria à Palma de Ouro em Cannes do mesmo ano. Dois anos depois ela fez barulho como coadjuvante em "Scandal", de Michael Caton-Jones – que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante. O resto da década de 80 foi preenchido com filmes de pouco apelo ("Strapless", a comédia Shag, ao lado de Phoebe Cates) e, na TV, o longa "The Edge" e um papel em um episódio de "Anjos da Lei".

Apesar do sobrenome famoso, Bridget nunca usou a família como muleta – pelo contrário, a relação com o pai e a tia famosos sempre foi marcada pela distância. Ainda assim, os anos 90 se abriram com grandes oportunidades. Ela fez Mary Shelley em "Frankenstein – O Terror das Trevas", do mestre Roger Corman e surgiu como uma repórter que se envolve com o personagem de Andy Garcia em "O Poderoso Chefão III". Sem o menor problema em flertar com o cinemão, ela fez a comédia "Dr. Hollywood" com Michael J. Fox. Nesse ponto, os diretores já prestavam mais atenção na moça de sorriso espetacular e beleza ímpar.

Um deles foi Cameron Crowe. Em 1992 ele escreveu a comédia "Vida de Solteiro" especificamente com ela em mente. O filme, um retrato da Seattle em meio à explosão do movimento grunge, não fez barulho nas bilheterias mas ganhou status cult ao longo dos anos – até por mostrar membros do Pearl Jam e do Soundgarden totalmente deslocados como atores. No mesmo ano, Bridget fez seu primeiro papel como protagonista. O filme, "Mulher Solteira Procura", tinha direção de Barbet Schroeder e colocava a atriz de encontro a outro talento de sua geração, Jennifer Jason Leigh. De vida discreta, nos bastidores ela vivia uma relação tranquila com o também ator Eric Stoltz, namoro que durou de 1990 a 1998.

Apesar do fluxo constante de trabalho, Bridget Fonda nunca ascendeu à condição de estrela que acompanhou outras atrizes de sua geração, como Julia Roberts e Sandra Bullock. Em 1993, John Badham a escalou para protagonizar a refilmagem do thriller francês "Nikita", de Luc Besson.

Apesar do elenco bacana (Gabriel Byrne, Harvey Keitel, Dermot Mulroney), "A Assassina" não conseguiu mobilizar o público e naufragou nas bilheterias – com ele, talvez a grande chance de Bridget abraçar o primeiríssimo time. Um papel menor em "O Pequeno Buda" e uma última parceria com Phoebe Cates em "Bodies, Rest & Motion" fecharam o ano.

Daí em diante, Bridget parece ter estacionado em papéis secundários em filmes que demoravam a decolar. O que não parecia incomodá-la, já que foram oportunidades de trabalhar com Nicolas Cage ("Atraídos Pelo Destino"), Anthony Hopkins e Matthew Broderick ("O Fantástico Mundo do Dr. Kellogg"), Russell Crowe ("Rough Magic") e Al Pacino ("City Hall"). Em 1997, aos 33 anos, ela foi escalada por Quentin Tarantino para trabalhar em "Jackie Brown" – e tudo mais uma vez podia mudar. Apesar de ser um dos melhores filmes do diretor, a adaptação do livro de Elmore Leonard teve a tarefa dificílima de seguir "Pulp Fiction", o filme que mudou o modo de ver e fazer cinema independente. Ainda assim, Bridget injetou humor e sensualidade no papel da gatinha de praia envolvida com o traficante interpretado por Samuel L. Jackson, que não se dá exatamente bem com seu chapa recém-saído da cadeia (papel de Robert De Niro).

"Jackie Brown" não deu o impulso de carreira que Bridget pode ter imaginado. Nos anos seguintes ela pagou as contas com filmes medianos ("Um Estranho Chamado Elvis", "Pânico no Lago", "Delivering Milo") e ao menos uma pequena obra-prima: "Um Plano Simples", de 1998. Sob a direção de Sam Raimi (que havia colocado a atriz numa pontinha em "Army of Darkness" em 1993), a história de dois irmãos (Bill Paxton e Billy Bob Thornton) que encontram uma sacola com milhões nos destroços de um avião é um dos thrillers mais bacanas do fim do século 20.

Não é fácil apontar o ponto em que ela jogou a toalha. "Beijo do Dragão", veículo ocidental para o astro das artes marciais Jet Li, é até decente. A comédia "The Whole Shebang", com Stanley Tucci, não sai do lugar. Mas no mesmo ano de 2001 ela apareceu ao lado de Brendan Fraser no intragável "Monkeybone – No Limite da Imaginação". Nunca um título nacional foi tão profético. O filme de Henry Selick ("O Estranho Mundo de Jack") enfrentou diversos problemas durante sua produção e a mão pesada do estúdio em sua edição. Planejado como um épico de fantasia, em que um cartunista em coma tenta escapar de sua condição usando sua imaginação, terminou como uma aventura tediosa, em que os inúmeros cortes ficam óbvios com personagens que surgem e desaparecem sem acrescentar nada à trama.

Em 2002 Bridget Fonda fez o filme para a TV "Snow Queen". Mas já era tarde. Depois de mais de uma década quase chegando lá, coroada com um fracasso como "Monkeybone", ela deve ter dado um passo para trás para avaliar suas opções. Um acidente automobilístico em fevereiro de 2003 causou uma fratura em sua vértebra. Em março ela anunciou o noivado com Danny Elfman, casando em novembro do mesmo ano. Agora, aos 50 anos, Bridget Fonda parece ter encontrado seu caminho – não sob os holofotes ou em frente a uma câmera, mas como mãe. Sem fanfarra, sem maiores dramas. Ela parou de atuar, virou as costas para a indústria e deixou uma carreira sólida, às vezes exemplar, sempre interessante.