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Diretora de "A Fita Azul" diz que Hendrix "pode engravidar" garota virgem

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

28/01/2014 13h44

Uma adolescente de 15 anos, que vive em uma comunidade mórmon conservadora, descobre uma fita cassete e ouve pela primeira vez o rock and roll. Três meses depois, ela se descobre grávida e acredita que a música foi responsável por sua gestação. Quando seus pais tentam casá-la à força, ela foge em busca da voz masculina da fita proibida. O roteiro de "A Fita Azul", que estreou em São Paulo e Brasília na última sexta-feira (24), é surreal, mas diz muito sobre a vida real da diretora Rebecca Thomas, que conseguiu levar seu filme de estreia a diversos festivais, incluindo Berlim e Rio.

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Rebecca, de 30 anos, foi criada em uma família mórmon, mas teve uma infância "bem normal", segundo contou ao UOL. "Íamos à igreja todos os domingos, mas eu tinha videogame, ia a shows de rock e frequentava a escola pública". Mas quando visitava seus avós no sul do estado de Utah, tinha contato com as comunidades mais conservadoras e se perguntava quem eram aquelas pessoas que pareciam viver nos anos 1950.

Ao concluir o colégio, ela decidiu participar de um documentário sobre essas comunidades. A fé dessas pessoas a impressionou. Alguns anos depois, Rebecca decidiu explorar a fé e seu poder de transformação nesse filme cheio de referências pop. Isso porque, após fugir de casa, a protagonista, Rachel (Julia Garner), se depara com um mundo muito diferente do dela, em Las Vegas, com sua legião de jovens alternativos que usam drogas e ouvem muito rock.

"Eu sempre me interessei pelas histórias bíblicas, e a da virgem Maria era uma delas. Pensei que se uma garota tivesse uma concepção imaculada ela viveria em uma comunidade fechada. Há casos de garotas que acreditam ter uma gravidez imaculada. É psicológico". Alguns críticos dizem que a diretora, ao colocar esses mundos em contato, quis deixar uma mensagem irônica ou até uma crítica sobre a religião, mas ela garante que não é nada disso. "Fui extremamente sincera ao fazer esse filme. Quis contar uma fábula a partir de uma história bíblica porque gosto muito do tema. Assim como há pessoas que acreditam ou não acreditam na Bíblia, haverá pessoas que acreditam ou não no filme".

Reações negativas
Rebecca disse não ter recebido muitas reações negativas, apenas "uma aqui, outra ali". E que, na maioria das vezes, essas críticas vêm de pessoas que não viram o filme. "Muitos conceitos desmoronam quando as pessoas veem o filme porque não é sobre a religião especificamente. Estou explorando a fé. Também trata-se de crescer com regras e como isso entra em choque com a natureza humana".

Um dos espectadores mais resistentes foi a mãe de Rebecca, que se ofendeu com a ideia de que uma jovem mórmon pudesse acreditar que teve uma gravidez imaculada. A diretora acredita que sua mãe pensou que o filme pudesse ser um ataque a sua família ou à religião. Tudo mudou, no entanto, quando a diretora levou sua mãe para a exibição do filme em um festival de Los Angeles. "Era uma plateia de 300 pessoas que aplaudiu e vibrou muito com o filme. Somente sentindo a reação do público, principalmente dos mais jovens, ela conseguiu entender que o filme falava de generosidade também".

Músicas que podem engravidar
Rebecca nunca acreditou que uma mulher pudesse engravidar de uma música, como a protagonista do filme, mas ela revela que, pensando no filme, fez uma lista com o título "músicas que podem engravidar uma garota". Isso porque a música sempre foi muito importante na sua formação e muitas delas traziam esse sentimento de rebelião. Mas nem adianta pedir para dar uma olhadinha na relação de canções. "Essa história é muito constrangedora. Não mostro a ninguém, está inacessível", diz ela, revelando apenas que tinha muito Led Zeppelin e Jimmy Hendrix na sua lista.  

Para o filme, a canção que "engravidou" a protagonista foi "Hanging on the Telephone", cantada pelo The Nerves. "Tinha que ser uma música que preenchesse essa lacuna entre o tempo em que Rachel parece estar (anos 60, 70) e o tempo em que o filme se passa de fato (dias atuais). Quando pensei em 'Hanging on The Telephone' não consegui mais tirá-la da cabeça. Além do mais tem esse ideia de comunicação, tão importante para o filme", contou.

Além de Julia Garner ("As Vantagens de Ser Invisível"), com todo seu ar angelical, Rebecca teve a oportunidade de trabalhar com o veterano Billy Zane ("Titanic"), experiência que a deixou bastante intimidada. "Eu não tive chance de ensaiar com os atores porque foi um filme de baixo orçamento (US$ 1 milhão), mas foi ótimo trabalhar com ele (Zane) porque ele é muito profissional. Sabe para onde olhar, o que fazer. Ele foi muito generoso".