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Morre o cineasta e documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, aos 80 anos

O documentarista Eduardo Coutinho morre aos 81 anos - Aline Arruda/Agencia Foto/Divulgação
O documentarista Eduardo Coutinho morre aos 81 anos Imagem: Aline Arruda/Agencia Foto/Divulgação

Do UOL, em São Paulo*

02/02/2014 16h57Atualizada em 02/02/2014 18h40

Morreu neste domingo (2) o cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, aos 80 anos. O documentarista, considerado o mais importante do país, foi assassinado em seu apartamento, na Lagoa, zona sul do Rio. O suspeito é o filho dele, Daniel, que, segundo vizinhos, possui quadro de esquizofrenia. Ele foi internado no Hospital Miguel Couto com duas facadas em seu próprio abdome.

A mulher de Coutinho, Maria Oliveira Coutinho, também foi ferida e está internada no Hospital Miguel Couto. O caso está na Delegacia de Homicídios.

A informação da morte foi confirmada pela assessoria de Coutinho e pelo produtor Maurício Ramos, amigo e parceiro profissional. Cineastas como Fernando Meirelles e Cacá Diegues lamentaram a morte de Coutinho.

Grande parceiro de Coutinho, Diegues falou sobre a morte do amigo ao UOL. Emocionado, o diretor disse ter perdido um de seus maiores companheiros da sétima arte. “É um momento de muita dor. O Eduardo é meu amigo de muitos anos. Eu o conheço desde os 26 anos de idade quando fizemos parte do Centro de Cultura Popular da UniRio. Eu gostava muito dele. Além de um grande cineasta, ele era um homem inteligente, sereno, sensível, bom e muito tranquilo. O Coutinho é o maior documentarista brasileiro de todos os tempos e um dos melhores do mundo. Ele inventou o documentário no Brasil. E apesar de ser pioneiro no assunto, ele sempre tinha algo de novo no seu trabalho. Foi uma grande perda para o cinema brasileiro”, lamentou.

Sobre o fato de Daniel, filho de Coutinho, sofrer de esquizofrenia e ter sido o assassino do pai, Cacá Diegues diz desconhecer o assunto. Apesar da proximidade dos dois, o cineasta nunca comentou sobre os problemas psiquiátricos do filho com o amigo.

Trajetória

Nascido em 11 de maio de 1933, em Sao Paulo, Eduardo Coutinho largou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.

No CPC o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa com acusações de comunismo.

O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.

Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976).

Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, onde permaneceu até 1984.

Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.

Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho ganhou homenagem na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que organizou uma retrospectiva completa de seus filmes e um livro reunindo textos de e sobre o cineasta.

Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.

* Com informações da Agência Estado