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Filme da Lego mira na criatividade, mas acerta no consumo de brinquedos

James Cimino

Do UOL, em Carlsbad (EUA)

07/02/2014 01h49

Se houve uma marca de brinquedos que soube sobreviver à hegemonia dos jogos eletrônicos foi a dinamarquesa Lego. A tática para isso foi, em vez de lutar contra o espírito do tempo, misturar seus tijolinhos aos chips dos videogames, além de transformar personagens, cenários e veículos de grandes franquias cinematográficas como “Star Wars”, “Harry Potter”, “O Senhor dos Anéis” em brinquedos e em histórias para DVD.  Desde 2003, quando a empresa começou esses licenciamentos, seus lucros subiram de US$ 1,5 bilhão para US$ 4,5 bilhões em 2012, tornando-se a mais lucrativa do setor segundo o site da revista “Wired”.

A nova jogada para se manter no topo é o “Lego Movie” ("Uma Aventura Lego", em português), longa metragem que estreia nesta sexta (7) em todo o mundo e que traz uma discussão muito importante e atual para o universo do brinquedo: ao comprar um conjunto de Legos, é melhor seguir o manual e chegar à imagem vendida na caixa ou misturar tudo, esquecer as instruções e criar um brinquedo novo?

Os diretores e roteiristas do filme, Phil Lorde e Christopher Miller, disseram em entrevista ao UOL no Legoland Resort da Califórnia (outro empreendimento da marca inaugurado em 2013 que fica bem ao lado do parque Legoland), que sua intenção inicial era fazer um filme sobre criatividade.

“Não queríamos fazer um comercial de noventa minutos de uma empresa, então começamos a pensar que seria muito interessante fazer um filme sobre criatividade. Não sentimos que fizemos um filme meramente para vender brinquedos, mas usamos os brinquedos como um meio para contar uma história muito divertida”, dizem.

CENÁRIOS DE FILME DA LEGO REÚNEM MAIS DE 1,5 MILHÃO DE PEÇAS

Os dois afirmam ainda que não houve encomenda na hora de elaborar o roteiro e que a única recomendação que receberam da Lego foi a de que não dissessem que havia um jeito errado e um jeito certo de brincar, pois cada pessoa se relaciona com o brinquedo de forma diferente.

Apesar das declarações dos produtores, quem visitar a Legoland na pequena Carlsbad, litoral californiano, verá que as lojas do parque já foram devidamente abastecidas com diversos produtos inspirados na produção, como roupas, bonecos, relógios, um jogo de videogame e uma linha de brinquedos inédita, extraída dos cenários do filme.

Estes novos brinquedos exploram a discussão central da história criada por Lorde e Miller. Por exemplo: o mesmo número de peças usadas para montar um caminhão de sorvete serve para montar uma nave usada numa batalha que acontece no final da história. “E também uma terceira coisa criada por você”, brinca Phil Lorde.

Fora isso, a marca deve lucrar também com os cenários usados no filme. Montados com mais de 1,5 milhão de tijolinhos de Lego por uma equipe de dez “mestres construtores” (funcionários da empresa cuja função é criar e testar novos brinquedos), as locações ficarão abertas à visitação na Legoland durante um ano.

Para crianças crescidas

“Lego Movie” é um filme que conta a história de Emmet. Dublado por Chris Pratt (da série “Parks and Recreations”), esse simples boneco que passa a vida seguindo os manuais, irá, graças a uma profecia de Vitruvius (Morgan Freeman), se tornar um herói e transformar o futuro da cidade de Lego administrada com mãos de ferro pelo vilão Senhor Negocios (Will Ferrell), que insiste que a única forma de se fazer as coisas é seguindo as instruções.

ASTROS QUE DUBLAM FILME CONTAM POR QUE AINDA BRINCAM DE LEGO

“É importante dizer que esse filme foi feito e dirigido por duas crianças”, dizem os diretores aos risos. “Então, ele fala sobre o despertar da criatividade quando se é criança e de como não perdê-la quando se é adulto. Nós negligenciamos o lado infantil quando crescemos. Mas o lado criança é essencial para nossa vida.”

No elenco de dubladores, também estão Liam Neeson (que interpreta o guarda mau), Elizabeth Banks (atriz de “Jogos Vorazes” que interpreta a heroína Megaestilo) e Will Arnett (ator da série “Arrested Development” que interpreta ninguém menos que Batman).

À exceção de Morgan Freeman ("sou duas décadas mais velho que a Lego") e de Liam Neeson (que não participou do lançamento do filme), todos os atores afirmaram que ainda brincam de Lego “por causa das crianças”.

“Acho que o Lego é um daqueles brinquedos únicos em que mesmo depois de adulto você ajuda seus filhos a construírem algo. Às vezes você se envolve mais que eles. Algumas vezes é tão engraçado. Porque você começa a brincar e, quando vê, eles foram embora e você continua ali. Acho que o Lego continua forte porque trabalha com a necessidade humana de tocar as coisas, de ter experiências táteis”, diz o comediante Will Ferrell.

“Eles entenderam que era preciso entrar nos mundo dos videogames. E eles se tornaram parte deles. E eles se mantiveram fieis aos personagens. Então você vai e joga com esses personagens e quando a TV não está ligada você ainda interage com esses personagens. Eles estão em sua casa e estão no seu videogame”, analisa o Batman Will Arnett.