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Caio Blat diz que pimenta ajudou a simular agonia de baleado em "Alemão"

Fabiola Ortiz

Do UOL, no Rio

12/03/2014 13h17

Cenas de tiroteio e sangue não faltam em "Alemão", thriller de José Eduardo Belmonte que conta a história de cinco policiais infiltrados no complexo de favelas invadido por militares na pacificação em 2010. Mas para criar a sensação de urgência necessária para o clima, o diretor usou técnicas inusitadas de ensaio para os atores encarnarem os personagens.

Caio Blat, um dos protagonistas do longa, contou ao UOL que os atores que interpretaram um grupo de policiais infiltrados --Gabriel Braga Nunes, Milhem Cortaz, Otávio Muller e Marcelo Mello Jr-- tiveram que ensaiar as cenas no set de filmagens com pimenta e mel para simular tensão e sangue. Este era o estilo de Belmonte para instigar o ator nas cenas mais tensas.

"Quando ele [Belmonte] chegou com um saco cheio de pimenta malagueta, todo mundo ficou apavorado. O Gabriel Braga tem uma cena que leva um tiro e fica metade do filme baleado. Em um dos ensaios em que ele estava numa situação de quase morrendo, Belmonte colocou a pimenta para ele morder. Ele comeu a pimenta e a boca e os olhos ardendo davam aquela urgência causada pelo tiro. Belmonte chegou com toda a delicadeza e pediu: 'Por favor, morde isso para mim", lembrou Caio, aos risos.

O ator contou que, depois das primeiras cenas com pimenta, o elenco rapidamente se acostumou. "A gente até pedia: 'Me arruma uma pimenta aí'".

Pior do que a pimenta, segundo Caio, foi usar mel para algumas cenas de sangue. "Belmonte fazia a gente cobrir a mão de mel e dizia para melecar todinho o outro ator no ensaio. É difícil criar a sensação de que alguém esta ensanguentado. Foi uma coisa horrível, grudenta. Isso, para mim, era pior que a pimenta. O mel deu a sensação de estar encharcado, nojento".

Veja o trailler de "Alemão"

Contato com policiais na vida real

Caio Blat revelou que a equipe de infiltrados do filme se encontrou com policiais da vida real, que trabalham no serviço de inteligência policial. "A gente teve vários encontros para saber sobre a participação em operações secretas. Fomos pesquisar esse universo específico dentro da polícia. Esses policiais são heróis porque não recebem proteção para ficarem infiltrados. Muitas vezes ninguém sabe que estão na operação sigilosa. É um trabalho muito arriscado e heróico mesmo. Estão por sua própria conta e risco dentro da favela, sem nenhum tipo de apoio".

Apesar do desafio de viver um policial, Blat não hesitou o convite de Belmonte para integrar o filme. "Eu topei na hora, gostei muito do roteiro. Meu sonho era trabalhar com Belmonte. Foi um filme com a maior situação extrema que vivi. O filme tem essa coisa especial falando sobre a retomada das favelas, uma tentativa de encerrar esse conflito, incluir e integrar uma cidade que estava dividida. É um filme de impasse, 90% é suspense".

Para ele, foi uma experiência muito intensa e muito violenta. "Foi o pior filme que fiz de tensão, foi horrível. Fiquei feliz quando a gente terminou. Quanto mais dura o filme, mais orgulhoso a gente fica. Quanto mais terrível para filmar, maior a sensação de conquista no final", disse o ator que já viveu um dos irmãos Villas Boas em "Xingu" e um monge na novela "Jóia Rara".

Caio Blat espera causar um impacto positivo no público que poderá assistir o filme nas 350 salas de cinema a partir desta quinta-feira (13). Na sua opinião, “Alemão” representa uma evolução de "Tropa de Elite" e "Cidade de Deus". "O público adora filmes policiais e é um pouco carente porque são filmes difíceis de fazer. O 'Alemão' é um passo a mais, uma evolução da história do 'Tropa de Elite' nessa linha da realidade urbana do Rio e dos problemas sociais".