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Para sobreviver, pornô brasileiro abandona DVDs e Blu-rays e se reinventa

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

04/04/2014 09h22

Última das grandes produtoras de filmes pornô ainda na ativa no Brasil, a Brasileirinhas tomou uma decisão que parecia inconcebível não muitos anos atrás. Em novembro de 2013, o selo, que já teve no elenco celebridades como Alexandre Frota, Rita Cadillac, Gretchen e Leila Lopes, deixou de lançar DVDs. Hoje, todo o picante conteúdo produzido vai direto para a web, onde é comercializado.

O formato Blu-ray, motivo de discórdia após empresas se negarem a prensar o polêmico "Azul é a Cor Mais Quente", com suas cenas de sexo explícito, já nasceu morto para a produtora –e por questões mercadológicas, não de conteúdo. A percepção da minguante indústria dos filmes adultos parece ser a mesma: a mídia física é uma espécie de peça de museu, servindo apenas para o fetiche de aficionados. A ordem agora é pensar na web e nas possibilidades das plataformas portáteis, com conteúdos produzidos sob demanda.

“Em 2011, no ‘boom’ do Blu-ray, decidimos lançar nosso blockbuster do ano, o ‘Histórias de uma Gueixa’, para ver se funcionava. Foi ridículo, ninguém comprou. Vendemos cem cópias, contra 2.500 de um DVD normal na época. Tivemos prejuízo”, conta Clayton Nunes, proprietário da Brasileirinhas, maior produtora pornô do país, que hoje lança três filmes por mês.

Com as vendas em queda acentuada desde 2007, a empresa fundada em 1996 migrou para a web. Hoje, mesmo com a voraz concorrência dos sites gratuitos, mais de 80% de seu faturamento está hoje ligado às plataformas on-line, onde conta até com um reality show (“A Casa das Brasileirinhas”), em uma base de 10 mil assinantes. O restante do bolo vem de antigos títulos do acervo, que vendem, cada um, cerca de mil cópias por mês nas bancas de revista. Distante das 60 mil cópias das cenas de sexo que Gretchen protagonizou com o então marido em 2006, ainda nos tempos dourados do DVD.

Segundo o proprietário da antiga Explícita Vídeos, que atualmente tenta voltar ao mercado após dois anos com um site produzido pela Brasileirinhas, a crise não veio apenas a reboque da pirataria (física e on-line) e dos sites gratuitos. “Houve uma mudança de hábito do consumidor. Hoje ele passa menos tempo assistindo a filmes, seja pornô ou convencional. A pessoa tem muitas outras opções. Passa o tempo dela, cada vez mais, na frente do computador”, diz Marcello Hespanhol, que atualmente atua no mercado de brinquedos eróticos, sob a marca Adão e Eva Toys.

A exemplo da Explícita, outras marcas pararam de produzir para não quebrar. Nomes fortes do círculo “porn”, Sexxxy, Buttman e PlanetSex,  que no auge chegavam a lançar cinco filmes por semana, foram aos poucos saindo de cena. Hoje, além de colocar títulos antigos na praça, as marcas apenas licenciam produções estrangeiras. “O máximo que consigo ter ainda, mesmo comprando lá fora, são cenas nacionais que vem no pacote. Então, para mim, sai muito mais barato do que fazer uma produção nacional. Para a gente não valia a pena financeiramente continuar produzindo”, diz Leandro Moran, ex-Sexxxy e hoje dono da PlanetSex e Buttman, que já tentou diversificar o negócio patrocinando baladas.

Para Moran, no entanto, ainda existe mercado para os filmes eróticos. O desafio é saber onde ele está e ter a coragem –e o dinheiro—para apostar. Filmes para tablets e celulares e serviços sob demanda no estilo Netflix são saídas, mas que ainda não se consolidaram. “Já há uns três, quatros anos que o DVD está no fundo do poço. E o Blu-ray não aconteceu. Acho que o pornô pode até estar na internet hoje, mas comercialmente não está. Gasto R$ 3.000 para gravar só uma cena, com atores legais, pagando maquiador, câmera, fotógrafo. Lanço o filme e três horas depois ele já está no site dos ‘pirateiros’. Por que o cara vai consumir meu produto?”, diz o administrador. “Consigo ter uma rentabilidade muito maior em TV a cabo e em celular do que na internet."

Chance para as pequenas

Sócia da luzvermelha.tv, especializada em pornôs “alternativos e irreverentes”, a ex-BBB Mayara Medeiros enxerga uma atual crise de formato, não do pornô em si. Se a rentável era do VHS e das locadoras cheias jamais voltará, agora é o momento para as pequenas produtoras, com seus conteúdos direcionados, com olhos em um público cada vez mais crítico e exigente.

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Ex-BBB Mayara Medeiros em estande na Erótika Fair

“A saída para o formato físico com toda certeza existe. Os integradores com as operadoras de celulares estão com diversas tentativas. Quem conseguir pegar a onda na hora certa estará bem”, diz a produtora, que hoje comemora o crescimento mensal de cliques em seu site.

Antes desconhecida, a luzvermelha.tv produz em média cinco filmes por mês, sob três bandeiras: a Xplastic, a Fita Safada e a Fetish Boxxx. A empresa prepara ainda uma websérie semanal e um programa inédito na grade do Canal Brasil, o “Pornolândia”. Diversificar é a tendência.
“A pornografia está passando pela mesma transição da indústria fonográfica. Como em qualquer momento de transição, alguns resistem, outros se reinventam e outros ficam para trás reclamando que nada mais é como no século passado.”

Barreiras de mercado

Na visão do ícone americano John Stagliano, o Mr. Buttman, criador da folclórica marca Buttman, os DVDs ainda devem durar cerca de cinco anos no mercado americano. Lá, eles dividem espaço meio a meio com a internet e a televisão, com suas plataformas de conteúdo sob demanda. “Fizemos uns cinco Blu-rays, mas não funcionou. É um formato para filmes mainstream”, diz Stagliano, que esteve recentemente em São Paulo visitando a feira Erótika, que não teve estandes de filmes.

Questionado sobre o que os produtores brasileiros poderiam fazer para driblar a pirataria e voltar a crescer, Buttman é direto: é preciso pensar grande. “O mercado é pequeno, há pouco dinheiro. Mas os brasileiros precisam aprender a vender na Europa e nos Estados Unidos. On-line e em mais de uma língua. Já vi alguns bons filmes aqui, as mulheres brasileiras e os caras são muito sexuais. Certamente faria sucesso no mundo.”