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Diretores de "Capitão América" queriam destruir tudo e já previam 3º filme

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

09/04/2014 05h00

“Nossa missão era destruir tudo.” Em uma frase, os irmãos Anthony e Joe Russo descrevem a tarefa de dirigir "Capitão América: O Soldado Invernal", segunda aventura solo do vingador, que chega ao Brasil nesta quinta (10), com recordes de bilheteria quebrados no currículo.

Com US$ 96 milhões em sua estreia nos Estados Unidos no último fim de semana, e mais US$ 207 milhões no mercado internacional, o novo filme já colocou no bolso" O Primeiro Vingador", de 2011, que introduziu o herói no Universo Cinematográfico Marvel. “O que a gente queria era repensar o papel do Capitão no mundo, ao mesmo tempo em que mostramos como ele vê esse mundo”, continuam os irmãos, um terminando a frase do outro.

O papo com os Russo foi dias antes de "O Soldado Invernal" ser solto no mundo, mas eles não pareciam sentir a pressão. “Nossa preocupação é mesmo fazer o melhor filme, e não nos preocupar com números”, conta Joe, logo completado por Anthony: “Claro que queremos que o filme dê dinheiro, assim dá para continuar a jornada com um pouco menos de pressão”.

Ou não... Mais do que "Homem de Ferro 3" e "Thor: O Mundo Sombrio", os filmes que a Marvel colocou nos cinemas ano passado, o novo "Capitão América" é o que mais parece uma continuação direta de "Os Vingadores", com Nick Fury, a Viúva Negra e a S.H.I.E.L.D., organização que policia o mundo, no centro da aventura. A pressão, portanto, é seguir os passos da aventura que se tornou a terceira maior bilheteria da história.

O que os Russo --que tem no currículo as comédias "Tudo por um Segredo" e "Dois É Bom, Três É Demais", além da série "Community"-- abraçaram sem hesitar. “Quando (o produtor) Kevin (Feige) nos contou o que ele queria fazer com a S.H.I.E.L.D. e com este universo no segundo 'Capitão América', a gente se interessou na hora”, entrega Joe, sem entrar em maiores detalhes da trama.

“Mesmo dentro da Marvel, que é parte da Disney, nossa liberdade foi total.” É o método de trabalho de Feige desde que ele assumiu o estúdio ao lançar "Homem de Ferro", em 2008: dar em linhas gerias o que ele quer que aconteça no filme e deixar a equipe criativa trabalhar. “Ele é o melhor parceiro, nunca interferindo, mas sempre ali para corrigir o curso caso algo estivesse impreciso”, explica Anthony.

Paranoia e conspiração
Ao contrário de "O Primeiro Vingador", um filme de Segunda Guerra Mundial misturado com aventura de super-herói, "O Soldado Invernal" tem seu DNA nos suspenses políticos dos anos 1970, mergulhado em paranoia e conspiração. “Sempre achamos que o estilo de narrativa de 'Três Dias de Condor' ou 'A Trama' poderia se encaixar no mundo do Capitão América, já que ele está integrado em uma organização que detém muito poder”, explica Joe, empolgado por contar com Robert Redford no elenco. “Muito poder pode também trazer muita corrupção e uma agenda que não condiz exatamente com a visão de mundo de Steve Rogers. O personagem de Robert está nessa balança.”

Anthony aponta que, por ser um homem fora do seu tempo, o Capitão enxerga o jogo político sem nenhum cinismo: “Tudo em que Steve acredita, tudo por que ele lutou na Segunda Guerra, transformou-se em um reflexo distorcido de seus ideais de liberdade. O choque de ver o mundo como ele realmente é mantem o personagem no limite. E pessoas no limite sempre são mais interessantes”.

Protagonista teve que suar
"O Soldado Invernal" se desenrola dois anos depois dos eventos mostrados em "Os Vingadores". “Steve Rogers aprende rápido, e pode apostar que, se tem uma coisa que ele fez nesse tempo, foi treinar”, empolga-se Joe. “No primeiro filme, Steve era um lutador de rua que ganhou músculos e foi direto para o front, sem treinamento específico. Agora ele aprendeu artes marciais, técnicas de luta próprias dos soldados de elite. Ele é o melhor que existe.”

Na prática, os Russo colocaram Chris Evans, protagonista do filme, para suar: “Chris gosta de fazer suas cenas sem dublês, e deixamos ele ir ao limite. Na luta com George (St-Pierre, lutador de MMA, que interpreta o terrorista francês Batroc), mostramos o resultado de todo o treinamento, com o Capitão usando técnicas corpo a corpo, bem como seu escudo, totalmente integrado como arma de ataque. E Chris sofreu, garanto”.

Quadrinhos dos anos 1970
Batroc, por sinal, é um dos personagens dos quadrinhos que ganhou uma nova roupagem para o filme. Fãs dos gibis do Capitão América, Joe e Anthony foram buscar em suas histórias dos anos 1970, que perdiam o conservadorismo pós-guerra para entrar na desilusão dos anos Nixon, do Vietnã e de Watergate, combustível para a nova trama.

“O Falcão foi nossa primeira ‘exigência’ para a Marvel”, brinca Anthony. “Foi legal o colocar como um soldado moderno, usando um traje de combate avançado".

Já o cientista da organização terrorista Hydra, Arnim Zola, interpretado por Toby Jones em "O Primeiro Vingador", ganhou uma releitura realista e necessária. “Nos quadrinhos, Zola é um clone com uma câmera de TV na cabeça e um monitor no peito, onde aparece seu rosto”, explica Joe. “Seria ridículo ter algo assim em um filme. Mas acredito que os fãs ficarão satisfeitos com a interpretação que demos para ele.”

E foi como fãs que eles abraçaram a história do Soldado Invernal como condutor da trama do novo filme. “Adoramos os gibis dos anos 1970, mas a série mais recente escrita por Ed Brubaker foi a espinha dorsal de nosso roteiro”, continua Joe. “O Soldado Invernal é uma criação espetacular, o personagem perfeito para ligar o passado e o presente de Steve Rogers. E foi um barato ter Ed no set, trabalhando como um dos técnicos que condiciona a mente do Soldado Invernal”.

Para quem não conhece a trama, melhor não entrar muito a fundo  no mistério em torno da identidade do vilão do novo Capitão América --mas uma olhada nos créditos deste filme e no de 2011 esclarece muita coisa.

Futuro da Marvel e "Capitão América 3"
As consequências da conclusão de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" vão reverberar não só nos próximos filmes da Marvel, mas também na série de TV "Agentes da S.H.I.E.L.D.", que compartilha o mesmo universo.

“Nem quero saber como os outros roteiristas e diretores vão lidar com a repercussão do que acontece em nosso filme”, diverte-se Anthony. “Como dissemos, nosso trabalho era colocar tudo no chão, manter as coisas em movimento, e acho que fomos bem sucedidos.”

O trabalho, claro, não terminou, já que um terceiro "Capitão América" está confirmado para chegar aos cinemas em 6 de maio de 2016 --batendo de frente com o encontro de Batman e Superman bancado pela concorrência.

“Sempre vimos 'O Soldado Invernal' como um filme em duas partes, e tudo que vai acontecer a partir de agora já estava mapeado”, concluem os irmãos Russo. “Claro que estamos acompanhando o andamento de 'Os Vingadores 2: A Era de Ultron', e já sabemos os próximos passos de Steve Rogers. Só não podemos te contar, já que a Marvel deve ter um esquadrão de ninjas pronto para arrancar nossa cabeça se a gente abrir o bico.” De alguma forma, eu não duvido…