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Com José Wilker, adaptação de obra de Jorge Amado deve estrear neste ano

Do UOL, em São Paulo

10/04/2014 12h40

José Wilker, que morreu no sábado (5), vítima de um infarto fulminante, poderá ser visto em um filme inédito, "O Duelo", com previsão de estreia para o segundo semestre de 2014. Em comunicado, o diretor Marcos Jorge contou que ficou preocupado ao escalar Wilker para interpretar Chico Pacheco na adaptação para o cinema do romance de Jorge Amado "O Capitão de Longo Curso".

"Como conseguiria dirigir esse ator de tão grandes personagens, de carreira tão rica e relevante, e de senso crítico tão agudo? Daria eu conta do recado? Wilker se encarregaria de tranquilizar-me: trabalhar com ele foi um dos maiores prazeres de minha vida profissional e dirigi-lo se revelou um grande privilégio. Dirigi-lo, aliás, não é bem a palavra adequada. Mais certo seria dizer ‘filmar com ele’. Wilker simplesmente enchia a tela com seu carisma e sua atuação apaixonada. E aquela voz, o que dizer dela?", disse.

O diretor ainda conta que se encontrou com o ator dias antes de sua morte para que ele dublasse algumas falas do filme. "O desaparecimento precoce e inesperado de José Wilker me deixou consternado, assim como todos os seus muitos amigos. De qualquer maneira, pode nos trazer algum consolo lembrar do óbvio: os grandes atores não morrem pois através de seus filmes vivem para sempre”, finaliza o diretor".

O ator Joaquim de Almeida, que contracenou com Wilker, também deixou depoimento sobre a morte do ator.  "Nosso filme, ainda inacabado, conta com a sua maravilhosa participação e eu fazia planos de estar com ele na estreia de O Duelo. Perdemos um dos grandes atores da língua portuguesa e sem dúvida o maior interprete das adaptações das obras de Jorge Amado. Perdi também um amigo".

O ator deixou três filmes prontos para este ano. Além de "O Duelo", há também "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", inspirado na obra de Guimarães Rosa,  e "Isolados", suspense estrelado por Bruno Gagliasso e Regiane Alves. 

Morte

O ator José Wilker, 69, morreu na casa da namorada, a jornalista Claudia Montenegro, no Rio de Janeiro, na manhã de sábado, vítima de um infarto fulminante, enquanto dormia. A informação foi confirmada ao UOL pelo produtor de teatro Cláudio Rangel. "Nós percebemos de manhã. Graças a Deus, ele não sofreu nada", afirmou Rangel.

O socorro foi chamado por Claudia, que mora em Ipanema, Zona Sul do Rio, por volta das 10h, mas os médicos não conseguiram reanimar o ator. Na noite da última sexta, o ator estava aparentemente bem, ensaiando para uma peça que ia dirigir, disse Rangel.

Wilker deixou as filhas Isabel e Mariana. Ele foi casado três vezes, com as atrizes Renée de Vielmond, Mônica Torres e Guilhermina Guinle, e namorava Claudia Montenegro há três anos.

O último trabalho do ator foi na novela "Amor à Vida", em que ele interpretou o médico Herbert. Antes disso, ele havia atuado em outra novela de Walcyr Carrasco, "Gabriela". Ao todo, Wilker atuou em 29 novelas, incluindo sucessos como "Roque Santeiro", "O Salvador da Pátria", "Anos Rebeldes" e "A Próxima vítima".

Pegos de surpresa, colegas e amigos de Wilker ficaram chocados. "O Zé é vivo ainda. Agora não adianta dizer o que fica dele. Não se pensou nisso. Ninguém pensou. Ele é muito vivo, presente, risonho, brincalhão", disse Vera Holtz ao UOL. Betty faria, Tony Ramos, Arlette Salles, Antônio Calloni e Maitê Proença também lembraram do como era a convivência com ele.

Nascido em Juazeiro do Norte, no Ceará, no dia 20 de agosto de 1944, José Wilker começou sua carreira como locutor de rádio no Ceará. Aos 19 anos, porém, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde começou a atuar. Um de seus primeiros trabalhos foi o filme "A Falecida", de 1965, protagonizado por Fernanda Montenegro.

Com uma extensa carreira também no cinema, Wilker atuou em 49 filmes, como "Bye Bye Brasil", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Jango" e "Giovanni Improtta" - baseado em seu famoso personagem da novela "Senhora do Destino".

Na TV, atuou em mais de 30 novelas, a primeira foi em "Gabriela" (1979), como Mundinho Falcão. Em 2012, interpretou o Coronel Jesuíno Mendonça no remake da novela e ficou marcado pelo bordão "vou lhe usar".

Wilker também trabalhou como diretor, tendo sido o responsável por "Giovanni Improtta" e pelo seriado "Sai de Baixo", da Globo. Ele ainda dirigiu as novelas "Louco Amor", de 1983, e "Transas e Caretas", de 1984, assim como a peça de teatro "Rain Man".