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Sucesso de "Capitão América 2" solidifica Marvel como maior força do cinema

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

12/04/2014 07h15

Com duas semanas em cartaz (no Brasil, desde quinta) e US$ 325 milhões em caixa, "Capitão América 2: O Soldado Invernal" quebrou recordes de bilheteria do mês de abril, começou a "temporada de verão" ianque bem mais cedo e solidificou a Marvel como a máquina de blockbusters mais bem sucedida do cinema americano.

Mais números? O Universo Cinematográfico Marvel, com nove filmes, já rendeu US$ 2,5 bilhões aos cofres da Disney, dona do estúdio. Mais do que "Harry Potter", "Batman" ou "Star Wars". É uma história de sucesso. Que começou, como sempre, como uma aposta.

Para contextualizar a coisa, a rivalidade da Marvel e da DC, editora do Superman e do Batman, sempre foi além dos quadrinhos. Mas a DC reinou suprena no cinema desde os anos 1970, quando "Superman - O Filme", de Richard Donner, provou em 1978 que um homem podia voar. Até 1987, foram mais três filmes - dois de qualidade duvidosa - e um spin off, "Supergirl", em 1984. Em 1989, Tim Burton lançou "Batman" e fez história, triturando recordes de bilheteria e inaugurando a era do blockbuster como produto. Até 1997, foram também mais três filmes, dois deles de péssimo gosto.

A Marvel não tinha bala para o contra ataque, já que a editora sofria com um pedido de falência que foi abrandado quando eles licenciaram um sem número de personagens para diversos estúdios, Avi Arad, vindo da empresa de brinquedos Toybiz, comprou as ações da Marvel e entendeu que, para sobreviver, seus super-heróis tinham de sair das páginas dos gibis.

O ataque começou na TV, principalmente com a excelente série animada dos X-Men nos anos 1990. Em 1998, "Blade - O Caçador de Vampiros", deu tratamento sério a um personagem coadjuvante do finado gibi do Drácula e fez barulho: US$ 131 milhões mundiais em cima de um orçamento de US$ 45 milhões.

A Fox tinha os direitos de X-Men e arriscou, colocando Bryan Singer para dirigir a versão em carne e osso dos mutantes em 2000. Deu tudo certo: o filme foi um sucesso, lançou Hugh Jackman e provou que a Marvel era uma força que podia ser reconhecida. Faltava, claro, colocar ordem na casa, juntando os estilhaços de super-heróis espalhados por vários estúdios. Assim, Arad e seu então assistente, Kevin Feige, ajudaram a Sony a lançar "Homem-Aranha" em 2002, o primeiro grande fenômeno de bilheteria com o selo da editora.

Nos anos seguintes, quem tinha algum personagem da Marvel na manga tratou de fazer a transposição para o cinema - nem sempre com alto parão de qualidade. A Marvel, afinal, tinha pouco controle sobre o que era lançado em celuloide.

Assim, a Fox tratou de expandir o universo mutante ("X3", "X-Men: O Confronto Final", "X-Men Origens: Wolverine", "X-Men Primeira Classe" e "Wolverine Imortal"), colocou os primeiros heróis da editora no cinema (os dois "Quarteto Fantástico", muito aquém do que esperavam os fãs) e deu uma dose dupla de heroísmo urbano com "Demolidor" e "Elektra" (os direitos do "Homem Sem Medo" já reverteram para a Marvel).

A Sony lançou mais dois "Homem-Aranha" com Sam Raimi no comando e reiniciaram a série em 2012 com "O Espetacular Homem-Aranha", que ganha continuação nas próximas semanas. "Motoqueiro Fantasma" ganhou dois filmes pelo mesmo estúdio, mas os direitos do personagem também voltaram para a Marvel.

Em 2006, Avi deixou a Marvel para se dedicar aos filmes do Homem-Aranha, e o estúdio, agora com uma injeção de capital, foi fazer seus filmes sozinho sob o comando de Feige. "Homem de Ferro" foi o primeiro, em 2008, e foi mais um fenômeno, ressuscitando a carreira de Robert Downey Jr. Com a Universal (que havia lançado "Hulk" em 2003), a Marvel criou "O Incrível Hulk", já dentro de um universo coeso.

O plano de Feige em expandir os personagens da editora no cinema foi ambicioso e deu frutos. Um segundo "Homem de Ferro" foi seguido por "Thor", "Capitão América: O Primeiro Vingador" e o arrasa-quarteirões "Os Vingadores", que juntou todos os heróis sob o mesmo teto e se tornou a terceira maior bilheteria da história. A essa altura, a Disney já havia pago 4 bilhões de dólares pela Marvel, mas manteve o plano de Feige e, deixando o estúdio manter seu jogo, capricha no marketing e conta os bilhões.

É impressionante o fôlego e a ousadia que a Marvel apresentou. Até quem não gosta do gênero tem de tirar o chapéu para a grande virada de pouco mais de uma década: heróis conhecidos apenas entre os fanáticos por quadrinhos de repente se tornaram ícones mundiais.

"Homem de Ferro 3", do ano passado, foi um trator que amealhou outro bilhão de dólares nas bilheterias. "Thor: O Mundo Sombrio" aumentou em cinquenta por cento a renda de seu antecessor. "Capitão América 2: O Soldado Invernal", um filme que parece uma continuação legítima de "Os Vingadores", com Nick Fury, Viúva Negra e a S.H.I.E.L.D. na jogada, caminha para dobrar a bilheteria da primeira aventura do Vingador.

O futuro da Marvel, por sinal, deixa a zona de conforto no retrovisor. "Guardiões da Galáxia", que chega aos cinema no fim de julho, traz personagens pouco conhecidos até pelos fãs da editora numa mistura de humor, aventura e ficção científica que o cinema não vê desde que sabres de luz entraram em choque numa galáxia muito, muito distante.

E ninguém quer ficar no caminho de "Os Vingadores 2: A Era de Ultron", continuação do mega sucesso do estúdio que já ganha um vislumbre em "O Soldado Invernal". Com seus produtos interconectados, mas que funcionam perfeitamente como aventuras solo (sabe-se lá por quanto tempo), a Marvel virou o jogo e mostrou que um pouco de ousadia e uma pitada de coragem, além da fé inabalável em personagens na estrada há mais de quatro décadas, podem ser a receita para triunfar, com qualidade, no cada vez mais árduo jogo das bilheterias de cinema.