Huppert não se vê como diva e diz que musas francesas são atrizes versáteis
“Não me vejo como uma diva, estou muito longe disso, me vejo como uma pessoa normal”, brincou Isabelle Huppert, 61, que está no Brasil para participar da pré-estreia de dois filmes, “Um Amor em Paris”, de Marc Fitoussi, e “Uma Relação Delicada”, de Catherine Breillat. A atriz francesa foi escolhida para ser a musa do 5º Festival Varilux de Cinema Francês, realizado entre 9 e 16 de abril em 45 cidades brasileiras.
Recém chegada ao Rio de Janeiro, Huppert conversou com o UOL sobre o fascínio que as atrizes francesas exercerem no mundo do cinema.
Perguntada se sente-se uma diva, a atriz vencedora do Festival de Cannes pelos filmes “Violette” (1978) e “A Professora de Piano” (2000) riu. “Até acredito se você me disser. É como se fosse um mundo, estas percepções são muito de fora, são palavras que incutem na mente da pessoa. Parece algo estranho, me vejo como uma pessoa normal. Eu trabalho e faço filmes. Minha vida é muito mais normal do qualquer um possa imaginar”.
Perguntada sobre qual é o segredo das atrizes francesas e por que pensa que a França nunca para de oferecer musas e talentos para o cinema ao longo de gerações, Huppert se mostra sensata: “Nossa indústria cinematográfica é saudável e nos dá a possibilidade de fazer uma grande variedade de filmes. E quanto mais filmes você faz, mais chances pode dar para que novas atrizes apareçam”.
Até hoje, nomes como Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, e as mais contemporâneas como Marion Cotillard e Juliette Binoche, são vistas como divas renomadas não só pela beleza, mas pelo talento.
“Não se pode separar as atrizes dos filmes que elas fazem. Somos versáteis, fazemos comédias, dramas e vários tipos de filmes. Todos esses filmes dão oportunidade de atrizes despontarem e investirem numa profunda feminilidade. Muitas vezes, elas fazem filmes que descrevem o jeito de viver das mulheres, acho que é isso que prende a atenção das pessoas”, ressaltou.
Cinema francês
Na sua opinião, o cinema francês não tem medo de criar personagens não idealizados. “Cada país produz seu próprio jeito de fazer cinema. Talvez nós não tenhamos medo de certos tipos de personagens não idealizados com histórias próximas da vida real. Nada muito romanesco e, às vezes, mais duro. As pessoas acabam sentindo que se aproxima da vida”.
Enquanto o cinema americano exige energia, pois “você tem que correr e ganhar”, o francês não tem medo de mostrar personagens que perdem, “eles são mais sublimes e modestos”, salientou. Huppert admite que seus personagens são sempre reais.
Ela diz que guarda boas lembranças de todos os seus personagens e filmes que participou, como “Heaven's Gate” (1980), um épico western americano de Michael Cimino, com Jeff Bridges e Christopher Walken. Ela também disse guardar boas memórias de “A Professora de Piano” (2001) e de “White Material” (2009) dirigido por Claire Denis, em que Huppert vive uma produtora de café na África e passa por conflitos no período de descolonização do continente.
Entre comédias e dramas
Considerada uma das mais importantes atrizes de seu país e referência no cinema francês, Huppert está no Rio para participar do lançamento da comédia de Marc Fitoussi e do drama de Catherine Breillat.
No filme de Fitoussi, a atriz vive Brigitte, personagem que, após a partida dos dois filhos, se depara com as incertezas de seu casamento com Xavier (Jean-Pierre Darroussin). Uma festa surpresa de jovens parisienses na casa vizinha acelera a crise entre eles.
Já no drama de Breillat, ela encarna uma cineasta vítima de um derrame cerebral. Ao conhecer Vilko (Kool Shen), a personagem começa uma amizade perigosa.
Huppert, que já atuou em mais de 70 filmes, garante que não tem preferência por gêneros. Ela é capaz de atuar tanto em comédias, dramas e romances com a mesma paixão e dedicação. “Eu gosto de tudo, não vejo diferenças na hora de atuar em comédia ou drama. É diferente para quem vê, mas não é tão diferente para quem faz. O ator está sempre atuando, o que eu gosto é de fazer bons filmes”, comentou.
Estes dois filmes que estão em pré-estreia no Brasil são muito diferentes entre si, contou. “A única coisa que posso esperar é que as pessoas gostem”, sorriu. “Um é um drama baseado numa história real de Catherine Breillat, de como ela passou por um derrame cerebral e a outra é uma história mais light e profunda ao mesmo tempo. Marc Fitoussi tem uma grande sensibilidade. E fala de um certo tipo de vida e não sobre heróis que tiveram vidas extraordinárias, mas de vidas comuns que tentam fazer algo diferente e que sonham em contornar os problemas”.
Na opinião da atriz, nunca é difícil fazer um filme, e ela compara com uma turbulência aérea. “O piloto enfrenta turbulências no avião. É o mesmo para um ator, o quanto mais você passa por turbulências emocionais e psicológicas, mais você gosta. É sempre um desafio”, argumentou.
Trailer do filme "A Professora de Piano" (2001)
Projetos
Esta não é a primeira vez de Huppert no Brasil: ela já esteve no Rio de Janeiro ao menos quatro vezes, duas vezes em São Paulo, uma em Brasília e outra em Porto Alegre. Dessa vez, a atriz disse que ainda não teve tempo de “pensar muito”.
Ela deve ficar cerca de duas semanas no Rio. “Acabei de chegar, esperava sol e calor e tudo o que eu tenho é chuva, vento e tempestades. Espero que em dois dias o tempo melhore. Pretendo visitar a cidade e nadar no mar. Para as próximas vezes que vier ao Brasil, queria visitar Salvador, agora quero mesmo ficar no Rio”, contou Huppert, bem humorada.
Esta próxima vez deve ocorrer em breve, já que a atriz tem planos de trazer a peça "La Fausse Suivante" a São Paulo e também apresentá-la em um festival de teatro em Porto Alegre. Depois, seguirá em turnê com a peça para a Alemanha e Grécia. Ela ainda atuará com Cate Blanchett em “The Maids”, em Nova York.
Seu próximo trabalho no cinema será um novo filme com o diretor norueguês Joachim Trier (de “Oslo, 31 de Agosto”). Huppert contou que tem recebido propostas para projetos de cinema no Brasil, mas que ainda não pode anunciar. “Gosto de gravar filmes em qualquer lugar do mundo. no Brasil, claro, adoraria. Nunca filmei aqui”, disse.
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